Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Prazeres secretos e Março/2016

mar2016

Alice está com uma nova rotina em 2016. Agora as aulas começam às 7:20 da manhã. Voltando para casa da escola, ela me disse: “Mãe, só agora entendi porque as pessoas ficam felizes quando chega a sexta-feira. A gente comemora porque pode acordar tarde no dia seguinte!”

Semana passada ela também estreou o uso do armário na escola — um locker de metal, desses que a gente vê em filme de adolescente americano. E pela primeira vez na vida, ela me pediu: “Mãe, cadê aquela sua coleção de adesivos?” Fiquei tão feliz de sentarmos juntas para ela escolher os que quisesse colar no armário novo.

Tenho uma caixinha onde guardo adesivos desde os doze anos. Com desenhos do Snoopy (Peanuts), a caixa está se desfazendo, mas é um dos meus objetos preferidos de memória da adolescência. Meus primeiros desenhos eram imitações desses adesivos, das coleções de amigas ou de personagens de revistinhas que eu mais gostava. Depois de desenhar, era só colar um contact transparente por cima e criar um adesivo novo. Assim, eu fazia de graça os “colantes”, como chamávamos, pois os originais eram caros e importados.

Durante a infância do Antônio e da Alice, começaram a aparecer no Brasil livros inteiros com dezenas, até centenas de adesivos. Imagina a minha felicidade! Antônio chegou a brincar muito com eles, mas a Alice nunca curtiu. Então fui esquecendo desse mundo.

Nesse mês de fevereiro, com volta à escola, e mais horário novo das aulas, entrei numa onda de reorganizar nossa vida e a da casa. Limpamos armários e estantes, doamos muitas roupas, brinquedos e livros, e providenciamos consertos que estavam pendentes desde o final de 2014. Tudo no espírito zen: manter apenas o que realmente usamos ou amamos.

No meio das arrumações, achei um livro de 1000 adesivos praticamente nunca usado! A Alice foi logo dizendo, meio marota: “Pode ficar pra você, mãe!”

Então cá estou, curtindo e compartilhando esse pequeno prazer secreto com vocês no calendário de março, cheio de adesivos do livrinho que a Alice me doou. É o único mês com desenhos que não são meus. Também estou usando os bichinhos para alegrar as minhas listas de tarefas do dia. Pela primeira vez na vida, estou “gastando” adesivos sem economizar! Vai entender, é um amor.

Uma das coisas mais legais de ser criança é que a gente pode gostar do que gosta sem dar explicações. Quando viramos adultos, tudo tem que ter justificativa. E se não tiver? E se pudermos aceitar?

* 7 Números impossivelmente-legais-interessantes-inúteis-ou-dignos-do-Lattes de fevereiro:

. Meu filho Antônio fez 15 anos!

. Atingi a marca de 32 mil e-mails enviados pelo Gmail, desde 2005.

. Levei três dias para agendar, mas apenas 12 minutos para fazer a vistoria do carro velhinho no Detran-RJ.

. Dois defeitos da casa que nos incomodavam por um ano custaram apenas R$25,00 cada para serem resolvidos (acendedor do fogão e fechadura da porta).

. 3 alunas novas fofas começaram a trabalhar como bolsistas no LAU.

. O blog chegou a 134 mil visitas e 80 mil visitantes.

. Hoje cortei 30 unhas humanas e 54 unhas felinas!

* Sobre o desenho: Como pode o mês mais curto do ano não acabar nunca? Meu fevereiro está assim! E o de vocês? Para ajudar, aí vai o calendário de março em .jpg  e em .pdf. As imagens desse mês não são minhas! São adesivos retirados do livro “1000 Bichos Adesivos”, da editora Usborne. O site da editora tem uma versão em português que traz um catálogo em PDF de todos os seus livros de adesivos disponíveis no Brasil.

Sobre o blog: Estou com algumas ideias e metas para o blog em 2016. Uma delas é voltar à pontualidade dos posts de quarta-feira (ou no máximo quinta de manhã, que não sou de prometer ser perfeita). Outra é melhorar a organização, criando um sumário de assuntos, livros e nomes citados. Também queria atualizar com mais frequência as respostas aos comentários e até responder perguntas de vocês em novos posts. O que acham? Têm alguma pergunta para me mandar? Podem enviar por e-mail se não quiserem ser identificados: karinakuschnir [at] gmail.

 


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Aos treze

Celina

Essa semana o meu desafio foi voltar no tempo. Não em busca de uma memória específica, um episódio ou um acontecimento. Não… Passei os dias tentando me lembrar de como eu vivia e sentia aos treze anos.

Ter formação em antropologia ajuda? Um pouco. Afinal, a gente vem se debatendo há décadas com a busca por conhecer o mundo pelo ponto de vista dos outros. E “eu, aos treze” era definitivamente uma outra…

O problema é que fazer isso só é fácil na teoria. “Basta não ser etnocêntrico”, diz o livro. Qualquer aluno de ciências sociais acha que tira de letra. Porém, é só pedir um exercício prático que a compreensão vai pelo ralo. Vejam um frase de um estudante do primeiro período (de muitos anos atrás) sobre o universo que tentava analisar:

“Eram pessoas muito diferentes de mim. Eu me senti um estranho, mas depois até que fui me acostumando e achando que eles eram legais.”

Pois é… Não acrescentou nada!

Mas hoje vejo essa frase de forma menos crítica. No fundo, ele escreveu o que todo mundo sente. Compreender o outro não é passar a achá-lo menos estranho e menos chato?

Eu até costumava mostrar essa frase como exemplo do que não escrever num diário de campo. Em seguida, mostrava um trecho de “boa prática” na escrita acadêmica, de uma aluna estudando jogadores de games:

“Esse grupo tem toda uma linguagem particular que aos poucos fui aprendendo. Por exemplo: ‘– Como foi na prova da Petrobras?’ ‘– Ah, foi só para ganhar XP.’ (XP é uma pontuação do jogo. Ele quis dizer que foi mal, mas serviu para ganhar XP=experiência.)”

Pronto. Pelo menos aprendemos alguma coisa.

Voltando à minha volta no tempo. De repente, consegui me lembrar. Quando eu tinha treze anos estava com a paixão à deriva! Sentia a existência dessa coisa maravilhosa, doida, dolorida… Tinha uma força pulsando no peito (e em outras partes do corpo!) e não sabia o que fazer com ela. Ansiava por viver aquilo que (achava que) já sabia na teoria… Escrevia cartas para namorados imaginários… Ia pulando de sonho, de canção, de ídolo, de amor imaginado, numa espécie de eterno viver-em-tese…

E por que essa viagem? Porque meu filho tem treze anos e meio. E eu o amo profundamente… e anseio por me sentir mais conectada com as descobertas e angústias que ele está vivendo. (Sem deixar de ser a mãe.)

Agora já me sinto um pouquinho menos ignorante. E também posso dizer: é difícil, mas vai passar. Daqui a pouco chegam os quatorze, os quinze e finalmente os mágicos dezesseis!

Sobre o desenho: Hoje passei duas horas no trânsito (não, não é modo de dizer). Mas no meio do caminho avistei minha sobrinha Celina Kuschnir, assim mesmo, de calça (ou meia-calça) azul e capa-de-chuva vermelha (ou seria um vestido?). Uma coisa linda de se ver, toda Amelie Poulain, no meio da Rua São Clemente! Gritei por ela, que se virou e me deu um oi-tchau e um sorriso de longe. Assim que cheguei em casa, tentei desenhar a cena, que vai aí em cima em canetinha Uninpin 0,1 e aquarela. Sei que está bem tosca, mas acho que é uma boa ilustração de alguém vivendo a idade-na-idade-que-tem. E um bom lembrete para mim: viver no presente, pois até no meio de um trânsito horrível pode surgir um desenho cor de rosa!

Sobre o título desse post: “Aos treze” é também o título de um filme (2003, direção Catherine Hardwicke) que vi por sugestão de minhas alunas (na época, da PUC-Rio), que fizeram um ótimo trabalho sobre o tema da adolescência no cinema.