Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses

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No capítulo 2 de Mansfield Park, de Jane Austen, conhecemos Fanny Price, a personagem principal, aos 9 anos. Muito triste por ter sido separada de sua família para viver na casa de tios ricos, Fanny não consegue parar de chorar ou de ficar amuada.

A única pessoa que se preocupa de verdade com ela é seu primo Edmund. Ele insiste em saber o motivo de tanta tristeza, e acaba descobrindo que é saudade de casa, da mãe e, especialmente, de seu irmão William.

Numa época de difícil comunicação, Fanny desespera-se porque havia prometido escrever para o irmão, mas “não sabia; não tinha papel”. Edmund prontamente lhe diz:

“E — Se o problema é só esse, eu lhe arrumo papel e todo o material necessário, e você pode escrever quando quiser. Escrever para William vai deixá-la feliz?”
F — “Sim, muito.”
E — “Então vamos tratar disso agora mesmo. Venha comigo até a sala de desjejum; e lá encontraremos tudo que precisamos e ficaremos sozinhos.”

Ontem, comecei a reler esse livro, que li em 2016. Ao lado desses diálogos, descobri uma anotação antiga a lápis: “a escrita cura ♥”.

Estou precisando encontrar a Fanny Price dentro de mim. Fanny é uma heroína discreta, por vezes irritante de tão séria, mas encantadora, ética e amorosa. Apesar da extrema generosidade, Fanny desafia a todos não cedendo em seus princípios. Jane Austen quase nos faz ficar contra ela, nos envolvendo em tramas de caprichos e egoísmo dos demais personagens. Mas, ao final, é Fanny que estava certa.

Estar do lado certo é bom, mas exige força, calma e clareza interior imensas. No plano pessoal ou político, quem luta, sabe. Não é fácil. Sigamos.

Inspirada em Fanny, escrevi essa receitinha abaixo:

Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses:
• Escreva, desenhe, pinte, medite, leia.
• Converse com as amigas, faça terapia.
• Dedique tempo a você, aos filhos e aos bichos.
• Pratique exercícios.
• Organize a casa; faça doações e trabalho voluntário.
• Corte o contato com a pessoa que te faz mal.
• Dê tempo ao tempo.
• Imagine-se no dia seguinte, no futuro.
• Lembre-se de que tudo passa. Isso também vai passar.

Achei que seria útil! Embora eu não esteja me referindo à vida acadêmica, ao fazer essa listinha, lembrei de mais um conselho maravilhoso que recebi da Maria Claudia Coelho, quando eu estava desesperada com os prazos de trabalhos de curso na pós-graduação. Ela sempre repetia: imagine-se no dia depois da entrega. Foque na sensação boa de dever cumprido e faça. Não precisa ficar perfeito, só feito.

Já nos meus 11 anos como voluntária das Amigas do Peito, a frase que mais dizíamos para as mães e famílias com dificuldades com seus bebês era a que repito agora, como um mantra: “vai passar”.

Coisa impossivelmente-legal-bonita-interessante-e-digna-de-nota:

heleEssa semana queria indicar uma coisa só: o currículo da minha amiga Helê Costa, que está disponível para criação de conteúdo e revisões de texto, daquelas bem aprofundadas, que ajudam a clarear a argumentação. Além de tudo, a Helê, junto com a Monix (Mônica Chaves), é autora de um blog que eu amo, o Duas Fridas.

Sobre o livro: Mansfield Park, de Jane Austen, editora Penguin/Companhia das Letras. A citação está na página 104.

Sobre a pintura: Hoje a ilustração do post é uma pintura a óleo do meu filho Antônio Kuschnir, da série “Choro” que ele tem produzido para uma futura exposição. A coleção está sendo mostrada no Instagram @antoniokuschnir e no Facebook. Só um detalhe: a moça da pintura tá chorando mas eu não. Tô mais na vibe Rainha de Copas: cortem as cabeças!

Você acabou de ler “Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3PD. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Junho/2018 e Bastidores do blog (2)

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Bem-vindos ao mês de junho/2018! Aqui vai o calendário em .pdf para imprimir.

Há alguns dias, o blog ultrapassou a marca das 500 mil visualizações e 300 mil visitantes. São números pequenos para o tamanho da internet, mas gigantes para mim! 😀 Para comemorar esse meio milhão de cliques, resolvi retomar alguns temas do post Bastidores do blog escrito em maio/2017, e acrescentar outros, que chegaram em comentários, em perguntas de amigos queridos ou na minha cabeça mesmo:

Quanto custa manter o blog? Tenho duas despesas anuais fixas com o blog. Desde a sua criação, pago o tema/template Yoko do WordPress (30 dólares por ano), que permite escolher fontes e cores, widgets (códigos html pré-formatados para serem utilizados na lateral) e faz ajustes automáticos para diferentes telas (celular, tablet e computador). Em janeiro/2018, passei a pagar um plano Pessoal do WordPress (48 dólares por ano) para que parassem de aparecer anúncios no rodapé dos posts.

Por que você não utiliza o endereço karinakuschnir.com? O plano Pessoal do WordPress dá direito a um domínio .com mas, por enquanto, não me sinto bem associando meu nome a um domínio comercial.

O blog está hospedado em algum servidor? Não. Utilizo a hospedagem virtual do WordPress. No ano passado, me dei conta que não tinha backup! Com ajuda da minha sobrinha, passamos todos os posts para arquivos de Word, um conjunto para cada ano. Um dia ainda pretendo imprimir tudo… mas esse dia nunca chega.

Esse é o seu primeiro blog? Sim e não… Uso a internet desde 1991. Em 1994, criei uma disciplina eletiva na PUC-Rio chamada “Comunicação e novas tecnologias”. Adorava dar esse curso que teve o apoio do RDC (prédio da informática da PUC, onde trabalhei de 1992 a 2006) para termos acesso aos laboratórios conectados à internet. Criei blogs para dar suporte a vários cursos, mas foi nos anos 2000 que ajudei a montar um blog mais complexo para a Ong Amigas do Peito. O trabalho estrutural foi feito pelo webdesigner Marcelo Torrico com quem aprendi muito. Depois disso, fiz um blog institucional e vários de apoio a projetos. Este karinakuschnir.wordpress.com foi criado em 6/11/2013 e é meu primeiro blog pessoal de verdade.

Você ganha algo com o blog? Nada, em termos financeiros. Mas posso dizer que ganho muito em termos pessoais, afetivos e profissionais. Explico. Criei o blog inspirada numa página que fiz para o caderno Prosa do jornal O Globo, a convite da editora Mànya Millen, conforme já expliquei aqui. O objetivo era simples: me obrigar a publicar um desenho e um texto uma vez por semana, com o desafio de ser algo lúdico, útil e positivo. Essa regularidade me permitiu estreitar laços com pessoas conhecidas e desconhecidas, além de trazer leitores para os meus trabalhos acadêmicos, alimentando uma rede afetiva e intelectual. Como não sou muito enturmada na vida (sou aquela que ama estar nos bastidores), o blog vem me trazendo uma sensação boa, de pertencimento. O único momento embaraçoso é quando percebo (na vida real) que as pessoas sabem detalhes da minha vida e eu não estou sabendo nada da delas!

Quanto tempo você leva para escrever e desenhar um post? Atualmente, levo cerca de 6 horas para escrever e revisar o texto de um post normal. Se for um post sobre livros ou mundo acadêmico, preciso de o dobro de tempo. Para os desenhos, depende muito. Posso levar 4 horas ou mais. Venho melhorando um pouco nessa área: já consigo começar um desenho num dia e continuar em dias diferentes. Fico feliz quando isso acontece, já que nunca tenho tantas horas livres em sequência. No mais, o que escrevi no primeiro bastidores do blog continua valendo: não tenho pauta, nem consigo produzir com antecedência, mas adoro a sensação de ter feito!

Qual é a parte mais difícil de fazer o blog? Em termos práticos, o mais difícil (e frustrante) para mim é a preparação das imagens: escanear e editar os desenhos e aquarelas. Sou autodidata. Já melhorei depois de alguns cursinhos online, mas ainda sofro. Outros desafios constantes são: inventar ilustrações para os calendários e para posts acadêmicos, encontrar assuntos novos, ter tempo para escrever e desenhar com calma, ser engraçada e manter o tom positivo diante de tanta tragédia que acontece no Brasil (nem sempre consigo). Em termos pessoais, porém, o mais difícil é encontrar um equilíbrio entre dizer a verdade e me proteger da exposição excessiva. Acho super importante falar de vulnerabilidades, mas não consigo imaginar a vida sem um pouco de privacidade.

Como você escolhe os temas dos posts? O que vem primeiro: o desenho ou o texto? A graça de fazer o blog é alternar entre esses dois pontos de partida. Às vezes, o post surge de um desenho, às vezes de uma ideia. O que mais gosto de fazer são posts sobre livros que adorei ter lido ou de aulas lúdicas que deram certo (embora ambos sejam trabalhosos). Na última semana do mês, sinto um alívio por saber que não preciso pensar num tema, já que é a época de postar o calendário. Passo 30 dias buscando ideias para ilustrar o calendário do mês seguinte. Quando leio um livro, fico na espreita, avaliando se daria um post.

Quais posts você acaba não escrevendo? Às vezes tenho ideias mirabolantes para futuros posts que, pouco depois, murcham e perdem o sentido. Tem posts que desejo muito escrever, mas não posso, seja porque ferem o objetivo do blog — falar mal da vida e de certas pessoas, por exemplo! 😉 –, seja porque são sobre assuntos que preciso guardar para publicar em forma de artigos de pesquisa. Por mais que eu já tenha me libertado, ainda preciso produzir coisas que possam ser incluídas no Lattes.

Que novidades você gostaria de trazer para o blog? Uma das coisas que está nos meus planos a curto prazo é fazer um sumário que abranja todos os posts do blog (este é o 197º). A longo prazo, adoraria publicar os posts em português e inglês, para poder ser lida pelos amigos da área do desenho de outros lugares do mundo. Isso ainda não dá, pois teria que investir um tempo enorme para melhorar meu inglês escrito e para as traduções em si.

Qual é o balanço desse último ano do blog? Minha maior conquista nesse período foi ser mais assídua nas respostas aos comentários e ter publicado quase todas as postagens semanais. Adorei ter feito dois posts pela primeira vez com a ajuda dos amigos acadêmicos de carne e osso (e não apenas de bibliografia) que foram o Doze lições para ajudar a terminar TCC, dissertação e tese… Parte 1 e Parte 2.  Além desses, meus preferidos foram o Memória visual, espaços e cotidiano – Ideia para aula lúdica (4), o Sete coisas invisíveis na vida de uma professora, o Lições de escrita com Agatha Christie – Parte 1 e Parte 2, Você vai deixar de me amar se eu não acabar a tese? – Parte 1 e Parte 2.

Os posts mais pessoais  foram o Não Passei (2) – Janeiro foi fork! e Querido Diário. O post que mais me emocionou foi Desistindo de (quase) tudo, em função da repercussão afetiva que gerou nas pessoas e em mim (ainda não consegui responder os comentários desse, desculpem). Um dos posts mais leves e úteis, que me surpreendeu pela reação positiva, foi o Caderninho bom, bonito e barato. Além de todos os já citados, dois dos meus desenhos preferidos dos últimos meses são os dos posts Escrita Diária e Materiais – Canetinhas coloridas.

Qual o conselho você daria para quem pensa em começar um blog? Comecem! Estabeleçam alguns princípios e tentem seguir em frente. Acho que a ideia de postar semanalmente é perfeita, pois não é frequente nem espaçado demais. Se você não desenha ou produz as próprias imagens: invista nisso, tire fotos, se associe a um banco de imagens de qualidade ou utilize imagens de bases públicas, sempre dando os créditos. Por mais conteúdo que exista na internet, tem espaço para todo mundo. Vivo à procura de blogs legais para ler — mandem seus links! ♥

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Sobre o desenho: Para o calendário de junho, quis começar de um jeito que não precisasse me esforçar muito, já que semana passada fiz um desenho trabalhoso. Fiz as bolinhas com a ajuda de duas réguas de desenho geométrico, como essa que desenhei (imagem acima). Desde pequena, adoro essas réguas! Depois de fazer os círculos em tamanhos variados, com canetinha de nanquim permanente 0.2, fiz os traços internos com a mesma caneta, só que 0.05. A seguir, colori com as mesmas cores que utilizei na semana passada, com os lápis-de-cor Polychromos da Faber-Castell. O mais legal foi que a Alice me ajudou! Quando ficou pronto, vimos esse monte de “rodas” e pensamos que nosso subconsciente captou o tema do momento: caminhões, carros, gasolinas, estradas e bicicletas… ♥

ps: As rodas invadiram o dia 30 porque inicialmente eu tinha desenhado no calendário de Julho! Por sorte uma leitora querida do blog me avisou do erro. Troquei a parte interna do mês no Photoshop.

Você acabou de ler “Junho/2018 e Bastidores do blog (2)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Junho/2018 e Bastidores do blog (2)”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3F1. Acesso em [dd/mm/aaaa].

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Permissão para acreditar

saudecrianca_p.jpgSabe aquele desânimo com tudo? A sensação de que nadamos, nadamos e nada de bom acontece? Convido vocês a fazerem uma pausa. Podem acreditar: existem pessoas que pensam grande, que abraçam famílias inteiras em situação vulnerável, que têm projetos de aconchego e crescimento.

A Associação Saúde Criança é assim. Acredita que o mundo só será saudável quando todas as pessoas tiverem as mesmas oportunidades e direitos. Acredita que saúde se alcança dentro e fora do hospital, com tratamentos e tecnologia, mas também com famílias que possam se sustentar e ser socialmente felizes.

Conheci o projeto através da minha família, que apadrinhou duas crianças com doenças crônicas atendidas pelo Saúde Criança. Em 2015, tive a felicidade de ver de perto o apoio às famílias com filhos em tratamento oncológico. O desenho para a campanha “Câncer infantil tem cura: diagnóstico precoce salva vidas” foi uma ação voluntária que me trouxe muita alegria, emoção e, sobretudo, humildade. Minha contribuição era tão pequena perto do trabalho diário gigantesco dos que se envolvem no Saúde Criança para mudar a vida das famílias de quem passa por lá, do bebê aos irmãos, da mãe, do pai, dos cuidadores, da madrinha, do vô e da vó.

Convido vocês a conhecerem, se envolverem e doarem!

Aqui no Rio de Janeiro, estamos recolhendo doações de roupas de crianças de zero a 12 anos, além de cobertores, casacos e acessórios de inverno. Basta mandar uma mensagem para a Vera no (21) 98131-0108, por Whatsapp.

Quem preferir, pode doar diretamente na sede da Associação Saúde Criança, na Rua das Palmeiras, 65 – Botafogo, tel. (21) 2286-9988, ou em alguma das outras sedes (Gávea, Ilha do Governador e Petrópolis no RJ; e Porto Alegre-RS).

Para contribuir de outra forma, conheçam as histórias das famílias atendidas no projeto Transforme uma Realidade (com doações do tipo Benfeitoria), além de outras doações possíveis e do trabalho como voluntário(a).

Para saber mais sobre a Associação Saúde Criança: uma entrevista na revista Trip com sua fundadora Vera Cordeiro, um vídeo no Bom Dia Brasil e outro sobre os 20 anos da ong no programa Fátima Bernardes. As informações completas, sobre todas as esferas do projeto, estão na página Saudecrianca.org. Nas redes sociais, tem o perfil SaudeCriancaBrasil no Facebook e o @SaudeCriança no Instagram.

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Sobre o desenho: Juntei roupas que tinha aqui em casa para fazer um desenho de obervação. Tive que subir no armário de guardados e resgatar algumas peças das crianças. Achei um casaquinho e um gorro de tricô colorido (da marca brasileira PUC) que foi super usado pela Alice. Deu uma saudade imensa de quando ela era bebê!

Primeiro fiz um esboço com lápis grafite HB no verso de uma folha do bloco XL Canson Mix-Media. (Ufa, última folha desse bloco de que não gostei muito, mas que utilizei até o final.) Depois retracei os contornos principais com caneta de nanquim permanente descartável Pigma Micron Sakura 0.4. Os detalhes internos e as texturas de cada peça foram desenhadas com a mesma caneta, só que com espessura de ponta 0.05. Para os escritos laterais, utilizei uma 0.2. O contorno da palavra “Doações” foi feito com uma Pigma Micron 0.05 colorida (não achei número nem nome, mas é no tom “sanguínea”, que também se chama de “Sienna queimada” ou nossa velha e boa “cor de tijolo”). A palavra “Saúde” foi feita com várias Pigma Microns coloridas e uma esferográfica Pentel R.S.V.P. med. para a cor turquesa.

Meu plano inicial era pintar o desenho principal com aquarela. No entanto, diante da quantidade de detalhes, achei melhor utilizar os lápis de cor. Aproveitei para usar os Polychromos da Faber-Castell que comprei em janeiro/2017 — amo tanto que me arrependi de não ter investido em um conjunto com mais cores!.

Como o casaco da Alice seria o destaque no desenho, resolvi começar por ele e acabei utilizando a mesma paleta em todo o restante. A cor do título tem um nome lindo: “Pompeian Red”. O resultado ao vivo ficou, como sempre, bem mais leve e bonito do que o escaneado. Outro problema é que cada tipo de tela “aquece” ou “esfria” o desenho conforme sua vontade… No meu celular, está quente, no notebook, azulado… affe! (Definitivamente preciso fazer um curso de como tornar as versões digitais mais parecidas com as analógicas. Se alguém souber onde, me avisa, por favor! )

Minha inspiração para a imagem desse post (em termos de combinar título-desenho-e-texto) é o trabalho da artista Wendy Macnaughton. Admiro muito sua militância pelos direitos civis e lgbtx, assim como sua visão de arte e cidade em obras como o livro Meanwhile San Francisco e também no Instagram @wendymac.

E para todos que chegaram até aqui, obrigada pela companhia!
Aproveitem o domingo para separar suas doações. Aguardamos os contatos na segunda-feira!

Um ótimo final de final-de-semana! ☼

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Permissão para acreditar”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3ER. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Os bastidores do blog

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“Não compare os bastidores da sua vida com a fachada da vida dos outros.”

Taí uma frase que preciso colar na parede na frente do meu computador! Não é que a gente faz isso o tempo todo? Achei uma boa síntese do mundo atual o artigo do Seth Stephens-Davidowitz, no New York Times, sobre como as pessoas são diferentes nos posts no Facebook e nas perguntas que fazem ao Google. Na vitrine somos felizes, amorosos e alegres; no cantinho escondido da janela de buscas, somos doentes, confusos e melancólicos. É muito contraste, conclui o autor, citando o conselho dos Alcoólicos anônimos que destaquei acima (no original,  “Don’t compare your backstage to other people’s front stage”). Por coincidência, no mesmo dia, a artista Liz Steel escreveu sobre as dificuldades em montar um curso online começando com uma versão bem-humorada da máxima: “Don’t compare your insides to other people’s outsides” (algo como “não compare seu mundo interno com a aparência externa dos outros”).

Pensei em aproveitar o tema para responder uma dúvida que já ouvi de várias pessoas: como é o dia-a-dia de manter o blog?

1) Faz-de-conta  — “Várias” pessoas me escrevem…? Foram só *cinco* que me perguntaram sobre isso, duas por escrito e três pessoalmente, vai ver até por educação… Alguns autores (eu inclusive) inflam seus textos com esse tipo de palavra genérica sobre os seus leitores — muitos, vários, diversos, um monte! — deixando no ar uma aura de sucesso. Esse tipo de recurso é mais velho que a vovozinha, né? Não julgo, porque às vezes também caio nessa besteira. É uma forma de não desanimar por falta de torcida.

2) Apenas 3% ! —  Dos 149 posts já publicados aqui, apenas cinco (3%) têm uma visitação alta para os meus padrões (de 10 a 35 mil vistas), respondendo por quase 80% das estatísticas. Portanto, 97% do tempo escrevo consciente de não ter tantos leitores. São aproximadamente 200 a 1000 visualizações por post, atualmente. Segundo o que consigo ver com o meu vínculo gratuito no WordPress, as médias mensais foram subindo com os anos, de 1.500, 3000, 5000,  até as cerca de 6 mil vistas por mês atuais, exceto nos meses de posts mais lidos, com médias de 10 a 30 mil. Os números de visitantes são cerca de 30% menores que esses.

3) Zero centavos — Nunca ganhei um tostão com o blog e estou feliz assim. Não aconselho apostar a vida em “viver de blog”. Conheço autores super bem sucedidos, que aparecem em televisão, tem anunciantes e tudo, e mal conseguem pagar a conta de luz com os rendimentos gerados. O segredo para fazer dinheiro na internet é por outros caminhos.

4) Ganhos — Desenhar, escrever e publicar toda semana é um trabalho voluntário que me dá um retorno emocional e intelectual impossível de medir em números. Sei por outras experiências que trabalhos voluntários nos apaixonam e são o melhor investimento da vida. Abrir espaço na agenda da “vida real” para fazer esse tipo de coisa é difícil , cansativo, exigente, chato… mas compensa, demais.

5) Desafio — Desde pequena, eu gostava de escrever em diários, mas percebia que 99% dos meus textos eram reclamações e tristezas. É tão mais fácil registrar o que dá errado! A escrita alivia. (Aliás, uma dica paralela: quando estiver com raiva de algo ou de alguém, escreva uma longa mensagem e mande apenas para o seu próprio e-mail.) Quando meus filhos nasceram, comecei a fazer diários para eles, tentando escrever de uma forma positiva, como se dissesse: “crianças, bem vindas ao mundo, valeu a pena ter nascido!”  Esse foi e é um dos desafios que me faz manter o blog até hoje: falar da vida (e do mundo acadêmico) de uma forma positiva e bem-humorada, sem deixar de ser crítica. Haja criatividade!

6) Prática — Na real, o dia-a-dia de produzir o blog desde novembro de 2013 tem sido caótico. Não faço reunião de pauta comigo mesma, não escrevo com antecedência, não preparo tudo bonitinho no Word antes, não desenho com calma, não faço nada que mandam os manuais dos blogueiros profissionais. Sigo a intuição e reviso bastante depois. Já tentei encontrar um horário, um dia certo, um sistema, mas a vida atropela sempre. Essa semana, por exemplo, estou dando quase 20 horas de aulas presenciais (faltam 3 hoje à noite ainda). Continuo porque o processo me faz bem. Sabem a sensação de terminar uma atividade física boa? Ou a de terminar um artigo/capítulo da tese? É por aí.

Às cinco queridas leitoras que me estimularam a escrever esse post: espero ter ajudado nos planos bloguísticos de vocês! Faltaram alguns temas, mas já estou atrasada para um compromisso! Melhor feito do que perfeito, como diria a vovó Trude. Escrevam, desenhem, fotografem, publiquem, sim! O mundo agradece.

6 Coisas impossivelmente-legais-lindas-e-interessantes da semana (inclui as fontes citadas acima):

* A citação que abre o post está no artigo “Don’t Let Facebook Make You Miserable” do Seth Stephens-Davidowitz, no New York Times.

* Cheguei ao link acima através da newsletter Meio, enviada para assinantes por e-mail todos os dias às 7 da manhã (grátis).

* O texto da artista Liz Steel mencionado está aqui, aliás num blog ótimo para todos que se interessam por aquarela e diários gráficos.

* Li um artigo curtinho, com imagens lindas e interessantes, sobre a história da fotografia, na Revista da Fapesp. Vou atrás de todas as sugestões de leitura no final.

* Do antropólogo B. Malinowski, descobri na seção “reprints” da revista HAU, o simpático “Anthropology is the science of the sense of humour” (acesso gratuito).

♥ Para quem está com saudades da Alice: ela está fofa e manda beijos!

Sobre o desenho: Imagem mostrando os “bastidores” aqui de casa, feita com caneta-pincel Tombow (não sei o número porque descascou) num caderno de rascunho que deixo na sala para desenhar quando a TV está ligada.

Você acabou de ler “Os bastidores do blog“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2017. “Os bastidores do blog”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url:  http://wp.me/p42zgF-215. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Câncer infantil tem cura!

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Sabem aqueles momentos da vida que nos inundam de esperança? Foi assim que me senti no dia em que fiz esses desenhos (acima), durante uma visita ao Aquário Carioca, unidade de diagnóstico e tratamento de crianças e jovens com câncer do Hospital da Lagoa, no Rio. Fui a convite da Ludmila Lavigne, mãe de uma amiguinha da Alice e de um saudável menino que fez transplante de medula há alguns anos. Hoje, ela é uma voluntária, guerreira, que apoia as equipes de saúde e as famílias dos pacientes nas lutas e alegrias do combate à doença.

É difícil entrar nesse ambiente e não se emocionar. Não por pena, mas por admiração a todos que estão ali, desafiando o diagnóstico e os entraves da saúde pública para dar acesso aos tratamentos eficazes. Para quem trabalha numa universidade federal, como eu, essa parte é muito impactante. Nossos probleminhas do cotidiano ficam tão pequenos no contraste com os altos custos e as questões de sobrevivência que o universo do câncer impõe. Imaginem tudo isso plantado no topo de montanhas burocráticas e da escassez financeira da saúde pública… já é suficiente para me dar vontade de sumir. Mas a equipe e os voluntários não somem não.

Acho que a vida se divide entre antes e depois do nosso contato íntimo com uma doença grave. Em 2000,quando eu estava grávida do Antônio, meu padrasto foi diagnosticado com câncer de bexiga. Mesmo com todas as dificuldades e más notícias, ele e a minha mãe tinham uma forma bem positiva de lidar com a doença. Faziam planos, viajavam nas horas mais improváveis e reuniam os amigos no quarto do hospital. A Alice desde pequenininha era a paixão desse que foi o seu único avô de verdade. Quando soube que vinha a tão sonhada neta-menina, lá foi ele (o advogado rígido e severo) comprar um lacinho de cabelo vermelho para ela. Esse amor dos dois nos aproximou, e fiz o máximo para que a Alice convivesse com ele, com ou sem ambiente hospitalar. Mesmo no auge do sofrimento, eu sabia que uma visitinha da neta era capaz de arrancar um sorriso ou fazer esquecer um pouco as dores e os prognósticos cada vez piores. Até a última semana de sua vida, ele e minha mãe não perdiam as esperanças (ou nunca aparentavam ter perdido). Acho que fez uma enorme diferença que nós, os cinco filhos, tenhamos estado o tempo todo próximos, nos revezando na cabeceira da cama, junto com outros amigos e profissonais, por quem tenho uma admiração profunda. Os livros que fui lendo pelo caminho falam muito sobre como uma rede humana amorosa produz efeitos positivos na vida dos doentes. Ao ver o fim de perto, senti mais do que nunca como isso vale também na vida de todo nós.

Foi pensando nessa e em tantas outras histórias bonitas que aceitei com imenso prazer o convite para colaborar na campanha de alerta para o câncer infanto-juvenil, que acontece todos os anos em novembro.caminhadacorpTive a felicidade de ser convidada pela Ludmila para participar como voluntária dessa iniciativa linda em prol de crianças e adolescentes em tratamento da doença no Rio de Janeiro. Fiz o desenho da corrente humana (acima) e a imagem para a camiseta (abaixo) que vamos usar na “II Caminhada Contra o Câncer Infanto-Juvenil” no dia 8/novembro, às 9 horas da manhã, na orla da praia do Leblon (saída na altura do Jardim de Alah). Todos podem colaborar comprando uma camiseta da campanha pelo site ingressocerto.com (R$30,00), mesmo quem não puder comparecer. Os recursos obtidos com as vendas serão integralmente revertidos para as crianças e jovens com diagnóstico oncohematológico.

A caminhada tem como objetivo alertar a população e os profissionais de saúde para a importância do diagnóstico precoce, mas será também um momento de confraternização e alegria entre todos os envolvidos com a causa. Por trás disso tudo estão os Pacientes e Amigos da Onco-hematologia Pediátrica do Hospital Federal da Lagoa e a maravilhosa associação Saúde Criança, que há anos apoia as famílias com filhos em situação de doença prolongada. Nos encontramos lá!

camiseta

Sobre os desenhos: O desenho da camiseta surgiu de anotações que fiz durante a visita à unidade de tratamento oncohematológico no Hospital da Lagoa. As imagens evocam a importância do diagnóstico precoce (gotinhas de sangue), a perda de cabelo que pode ocorrer no tratamento (carinhas carecas), a esperança e a fé das famílias (pombinha azul), uma homenagem à líder da equipe, doutora Soraia Rouxinol (o passarinho amarelo cantando), a importância do apoio e do amor à criança e ao jovem (mãozinhas verdes e corações), o renascimento (flor de lótus), o lado lúdico do aquário (tartaruga) e a volta das crianças a uma vida ativa e criativa (livros, lápis e aquarelas). Para a execução, fiz rascunhos a lápis, contornos com canetinhas de nanquim descartáveis e pintura com aquarela baseadas em imagens pesquisadas na internet. (O contorno ilustrativo da camiseta foi tirado direto na internet, só para mostrar aqui no post como deve ficar o produto final.) Minha preferida de fazer foi a tartaruga, bichinho pelo qual tenho a maior simpatia. Para o desenho da corrente humana, fiz os bonequinhos em duas folhas A4, em formato paisagem, à mão. A ideia é inspirada na antiga marca das Amigas do Peito, desenhada pela minha amiga querida, Claudia Orthof, filha-sobrevivente de uma mãe falecida de câncer. Para juntar tudo, escaneei e usei o Photoshop, programa que serviu também para colar todas as demais imagens por cima. Ficou meio confuso, eu sei, mas foi o possível!

Divulgação: Fiquem à vontade para copiar e colar qualquer imagem ou texto dessa página que ajude na divulgação do evento e na venda das camisetas!


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A cor salva!

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Estamos todos — adultos, crianças & gatos — nos sentindo engaiolados no micro-apartamento provisório. Daí a vontade de desenhar pássaros sem gaiolas para o calendário de outubro. Decidi que não posso abandonar os temas coloridos para esse enfeite-útil das nossas geladeiras. Na falta de boas tiradas da Alice, a cor salva!

Queria aproveitar também para dizer:

Obrigada de verdade a tod@s que têm mandado mensagens e comentários positivos sobre o blog! Sei que não tenho conseguido responder, mas cada linha enviada me dá uma força enorme para continuar com essa ideia maluca de desenhar e escrever toda semana.

Só agora, aliás, me dei conta de que este blog também é uma espécie de trabalho voluntário: tem que ralar muito, ter compromisso (mas não obrigação), acolher as próprias dificuldades e apoiar quem está à volta. Mas o retorno é o máximo: a sensação de se sentir útil!

Tive a sorte de virar voluntária quando fiquei grávida do Antônio, em 2000. Me apaixonei pelo grupo Amigas do Peito, de apoio à amamentação, onde atuei intensamente por 11 anos. Em 2010, com as minhas duas crianças desmamadas, me aproximei do apoio aos animais de rua, ajudando a encontrar lares para dezenas de gatinhos abandonados. Nessas duas atividades, acabei criando os blogs, lidando com muitas pessoas, aprendendo e recebendo muito mais do que pude oferecer, como diz o clichê-super-verdadeiro sobre o tema.

Há uns três anos, mantive as amizades, mas acabei precisando me afastar. Eu ia escrever que foi “por falta de tempo”, mas não. Não rola falta de tempo quando a gente se apaixona por uma causa! A verdade é que… bem, eu me apaixonei sim, mas foi pelo meu namorado. E paixão depois dos 40 é um trem que a gente não pode deixar passar, sô!

Agora que estamos virando um casal normal, com espaço para o resto do mundo, percebo que a vontade de me dedicar a alguma causa está crescendo de novo. Quando eu era “antropóloga da política”, não conseguia nem imaginar misturar trabalho com voluntariado, como muitas amigas que admiro fazem. Mas desde que virei “antropóloga que desenha”, vejo um mundo de possibilidades se abrindo… tenho certeza de que em breve vou conseguir juntar tudo! Deixa só eu me mudar, me aguardem!

E para fechar o post, mais uma brincadeira de casinha! Nunca pensei que ia encarar uma loucura gótica dessas, mas aí está! Graças ao amor pelo futebol da Alice, que conseguiu convencer até o Antônio a jogar com ela, passei uma hora e pouco fazendo esse desenho no último domingo. Depois, já em casa, terminei de desenhar os tijolinhos, acrescentei as sombras e os dois detalhes ao lado, tendo como referência fotos feitas com o celular.

gurilandia

 

Sobre os desenhos: Os pássaros do calendário foram feitos a partir de fotos do Google, com canetinha Pigma Micron 0.005, e coloridos com lápis de cor Prismacolor (não aquarelável) e CaranD’Ache (aquarelável). Tenho a felicidade de ter duas caixas grandes de 72 e 80 lápis cada uma, que considero entre os bens mais valiosos da minha casa! Quase morri uma vez que a Alice levou uma delas para a escola, porque decretou que não podia fazer os trabalhinhos do segundo ano sem aquelas 80 cores diferentes… Alice sendo Alice! (O pior é que eu concordo e me identifico tanto com ela… se a minha mãe tivesse uma caixa dessas, eu ia ser a primeira a tentar “pegar emprestado” e nunca mais devolver…)

O desenho da Gurilândia, uma casa-clube em Botafogo, foi feito com a mesma caneta 0.005 e depois sombreado com a aguada de nanquim que uso na waterbrush Sakura. As crianças votaram para eu deixar preto & branco. Então assim ficou! Mas acho que, no fundo, nós três ficamos com medo de que eu não acertasse nas cores e “estragasse” o desenho. Descobri no encontro de Paraty que muita gente tem esse medo… Bora enfrentar.