Alice hoje não quis participar da aula de inglês. Ficamos tristes, eu e a professora (que ela adora!), tentando entender por que às vezes ela empaca desse jeito… Uma determinação que só vendo pra acreditar.
Agora à noite, achei essa história de quando ela tinha seis anos e falamos de uma situação parecida. Estávamos a caminho do pediatra:
K — Filha, agora vamos ao pediatra, tá? Tem que ter um pouquinho de paciência porque está com trânsito.
Alice — Ah, mãe, eu adoro ir lá. Lá tem aqueles palitinhos coloridos! [Palito de ver garganta com sabor.]
K — Sim, filha… Mas lembra o que aconteceu da ultima vez? Você se comportou tão mal… [não queria ser examinada, medida nem pesada!]. Eu morri de vergonha. Dessa vez, você não vai fazer isso, né?
Alice — Nããão! Pode deixar, mãe.
K — Que bom, filha. Porque, lembra da vergonha que você sentiu lá na escola? Imagina se eu agarrasse a sua amiguinha e desse um monte de beijos? Aí mesmo é que você morreria de vergonha, né?
A — Sim.
K — Entao… foi assim que eu me senti na última vez que fomos ao consultório do pediatra.
A — Ah, mãe, mas se um adulto fizesse isso, de encher uma menina na rua de beijos, ia ser louco!
K — Ia dar vergonha… viu? Estou só comparando pra você entender…
[E a resposta dela, com aquele sotaque carioca super carregado:]
Alice — Ah, mãe, não… Vamos combinar…, né? Eu sou CRI-AN-ÇA!!!
…
Pois é, filha, aos oito anos e meio, você ainda é criança sim. Vamos combinar, tá?
Só me lembra disso da próxima vez que formos visitar a Fábrica Behring — um local de ateliês de arte no Rio de Janeiro — e você decidir que vai transformar um pequeno bloco de concreto (que achou pelo chão) num objeto conceitual:
Alice — Mãe, vou fazer uma obra artística usando uma serra elétrica. Vou transformar isso num minion e colocar atrás de uma porta de vidro!
E não teve jeito: o bloco de concreto está aqui em casa aguardando seu destino artístico.
Viram, queridos da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ:a Alice não foi hoje dar palestra comigo, mas quem sabe daqui a alguns anos? Obrigada pela acolhida — foi um encontro maravilhoso!
…
Sobre o desenho: Uma casa inteirinha desenhada por mim! Me senti criança de novo, igual à Alice! Parece uma coisa tão boba, mas cada um tem os seus desafios… Acho que foi a primeira vez que consegui fazer isso numa página de caderno (sem recorrer a fotografias ou à imaginação). Ainda estou contagiada pela energia de Paraty e, pensando bem, pela concentração do Antônio e pela determinação da minha caçulinha.
O desenho foi feito todo na rua em aproximadamente 45 minutos, sem contar o tempo de terminar os tijolinhos. Já quase no final, tive que me aproximar para conseguir enxergar melhor a grade. Nessa hora, dois homens que trabalhavam na casa vieram ver o que eu estava fazendo, meio desconfiados. Mostrei o desenho e tivemos o diálogo feliz que anotei na página ao lado!
O material que utilizei foi só canetinha Pigma Micron 0.005 no caderninho Laloran.