Karina Kuschnir

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O precioso relato de Harriet Ann Jacobs (1813-1897)

O inverno passou de maneira agradável enquanto eu me ocupava com minhas agulhas, e meus filhos, com os livros deles. (Harriet Ann Jacobs, Incidentes na vida de uma menina escrava, p. 199)

A felicidade profunda e singela de mãe é emocionante na leitura dessas memórias de uma sobrevivente de décadas de maus-tratos, torturas, estupros e tenebrosa vida escondida ou em fuga. Harriet Ann Jacobs não perde o encanto pelas crianças, não apenas seus próprios filhos, John e Louise (no livro chamados de Benjamin e Ellen), mas pelos bebês e pequenos que encontra ou cuida. Esse trecho, dos anos 1850, se passa num breve período de tranquilidade, ainda com várias intempéries por vir.

Longe de mim defender qualquer coisa que a aproxime do mito do amor materno. Mil vezes não. (Elizabeth Batinder e muitas mulheres incríveis já nos mostraram que isso não existe.)

O amor que vejo em Harriet é dela mesma, mulher negra, escravizada ilegalmente (ou legalmente, que diferença faz?) nos Estados Unidos desde o seu nascimento, em 1813, por cerca de 30 anos. Ainda sobre a reunião do trio em proteção, ela escreve:

(…) pela primeira vez em muitos anos, tinha meus dois filhos comigo. Eles aproveitaram muito o reencontro e deram risadas e conversaram com alegria. Eu os observei com o coração transbordando. Cada movimento deles me deliciava. (…) Parecia que uma enorme pedra fora retirada de cima de meu peito. Acomodada num bom quarto com a pequenina por quem era responsável, deitei a cabeça no travesseiro com a deliciosa consciência da liberdade pura e legítima. (p. 199-200)

A persistência do amor numa trajetória que tinha tudo para ser amarga me comoveu. Não é um romance, eu me beliscava para acreditar. Foi uma experiência vivida, com dimensões de sofrimento e luta política proeminentes.

Harriet foi criada por uma avó que se destacava na localidade onde moravam, única responsável por alguns anos de infância feliz e relativa proteção. Aprendeu a ler e escrever na casa de seus escravizadores, ilustrando-se mais tarde com leituras religiosas e abolicionistas.

Cedo entendeu “as dificuldades de ser menina”. Foi alvo do pai de sua “proprietária”, um médico branco, dito “doutor”, cujas práticas de estupro, assassinato e tortura eram rotineiras. Por múltiplas estratégias, Harriet consegue gerar e ver nascer dois filhos com outro homem.

Anos mais tarde, relembrando esse período, ela rezava para que ambos não conhecessem o “peso da corrente da escravidão”, mesmo que os “elos fossem de ouro”. Reflete que preferiria ver seus filhos mortos a subjugados ao doutor que “adorava dinheiro, mas adorava ainda mais o poder” (p. 91-2). Ela escreve: “Dê-me a liberdade ou a morte” (p. 113).

Com o auxílio de amigos, consegue se refugiar na casa da avó, para onde também vão seus filhos, num estratagema de seu suposto “dono” para atraí-la de volta. Ao vê-los, por um minúsculo buraquinho de seu esconderijo, ela narra:

“A alegria na casa da minha avó foi enorme! (…) A nuvem mais escura que pairava sobre minha vida tinha ido embora. Fosse lá o que a escravidão fizesse comigo, ela não poderia acorrentar meus filhos. Se eu precisasse ser sacrificada, meus pequenos estariam salvos. (…) É sempre melhor confiar do que duvidar. (…) Tive minha temporada de alegria e gratidão. Era a primeira vez, desde a infância, que experimentava uma alegria verdadeira.” (p. 122-123)

Tudo isso é escrito com a consciência das perversidades da escravidão e o desgosto pela injustiça de que eram vítimas os negros, tanto ao sul quanto ao norte dos EUA. Após sete anos escondida, Harriet chega a Nova York mas não está a salvo: “O doce e o amargo se misturavam na xícara da minha vida”, ela comenta comparando a dureza de sua luta com a doçura do bebê de quem cuidava: “Quando dava risadinhas e gritinhos, e punha os bracinhos macios ao redor do meu pescoço, eu lembrava do tempo em que Benny e Ellen eram bebês e meu coração ferido se acalmava.” (p. 187).

Anos se passam sem que ela esteja em segurança: “É muito triste ter medo do próprio país” (p. 203). Mesmo em NY, era sujeita às leis da escravidão, com receio constante de ser levada de volta ao sul nos anos 1850:

“Que  desgraça  para  uma  cidade  que  se  classificava  como  livre,  que habitantes inocentes de qualquer ofensa e buscando desempenhar suas obrigações com consciência fossem condenados a viver com esse medo incessante e não ter nenhum abrigo para onde se voltar em busca de proteção!” (p. 209)

Harriet sofria também por não poder participar dos ritos religiosos: “Lá estava eu, naquela cidade grande, inocente de qualquer crime, mas ainda assim sem ousar adorar Deus em qualquer igreja. (…) uma americana oprimida que não ousava dar as caras.” (p. 217)

Quando, finalmente livre, pela ajuda de amigos e não pela conquista plena de seus direitos, Harriet desabafa:

“Quanto mais minha mente tinha se esclarecido, mais difícil era me considerar artigo de propriedade; pagar dinheiro àqueles que haviam me oprimido com tanta angústia parecia tirar do meu sofrimento a glória do triunfo. (…)

Então eu estava  vendida, finalmente! Um ser humano sendo  vendido  na cidade livre de Nova York! O recibo de venda  está  registrado,  e  futuras  gerações  vão  aprender  com  ele  que mulheres eram artigo de tráfico em Nova York no final do século da religião cristã. (…)

Leitores,  minha  história  termina  com  liberdade;  não  da  maneira costumeira, com felizes para sempre. Meus filhos e eu agora somos livres. (…) [Mas] o sonho da minha vida está por se realizar. Ainda não estou com meus filhos numa casa própria, continuo sonhando com um lar que seja meu, mesmo que bem humilde. (…)

Foi doloroso, em muitos aspectos, recordar os anos terríveis que passei no cativeiro. Se pudesse, eu os esqueceria com prazer. No entanto, a retrospectiva não vem totalmente sem alívio, porque com aquelas memórias sombrias chegam lembranças ternas da minha boa avó idosa, como luz, nuvens felpudas flutuando sobre um mar escuro e agitado.” (p. 219-221)

Deixo aqui minha homenagem a essa mulher admirável, Harriet Ann Jacobs (1813-1897). Nós que a lemos no Brasil de 2023 ainda temos muito a aprender com seu precioso relato. Muito obrigada, Harriet.

Como diz Jarid Arraes no posfácio da edição da Todavia: “O fim da escravidão não foi o fim do racismo. Não foi o fim da pobreza, (…) da exclusão, do pensamento supremacista. (…) E, para os que se desconfortam nas cadeiras pensando ‘quantas vezes ainda temos que falar sobre isso’, minha resposta é: todas elas”. (trecho destacado pela editora)

Sobre o livro: Incidentes na vida de uma menina escrava, Escrito por ela mesma. Harriet Ann Jacobs (Linda Brent, pseudônimo). (Todavia, 2019, tradução de Ana Ban; pósfácio de Jarrid Arraes; capa de Oga Mendonça).

Sobre a ilustração: Desenho sobre a única foto reconhecida de Harriet Ann Jacobs, disponível na Wikipedia sobre selo creative commons (restaurada por Adam Cuerden; publicada originalmente no Journal of the Civil War Era). Arte com canetinha japonesa Gelly Roll branca 0.5, da Sakura (trazida por minha prima que vive nos EUA) sobre foto impressa em papel comum na impressora de casa. A ideia de decorar a foto veio da ilustradora Lisa Congdon. Quis homenagear Harriet com sua própria imagem e tentei desenhar algo parecido com as rendas utilizadas no vestido dela e em golas do século XIX.

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “O precioso relato de Harriet Ann Jacobs (1813-1897)“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3ZS. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora

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Há 48 semestres que me preparo para entrar em sala de aula como professora, já descontando os dois de licença-maternidade e os dois do pós-doc. É sempre difícil. Minha síndrome de véspera não falha: ansiedade, insônia, medo… mas um pouquinho de curiosidade e antecipação positiva também!

Como prometi para vocês (e a mim mesma) que esse blog deveria ser útil, aí vai minha checklist* de início de semestre letivo para professores:

1) Criar as pastas do curso no computador e na nuvem — Minha estrutura em 2017 estava assim:professora15dicas_01

As pastas iniciais têm o nome do curso primeiro pois serão compartilhadas. O link que dá acesso às três primeiras é enviado aos alunos para que enviem trabalhos (pasta Grupos) ou baixem os PDFs (pasta Textos). Num programa sobre imagens acho mais razoável pedir trabalhos apenas em formato eletrônico para não gerar despesas de impressão. Na pasta Aulas, adiciono meus fichamentos ou .ppts de aula que, em alguns casos, compartilho com a monitora do curso. A pasta Programa só tem as versões do programa mesmo (sempre acabo tendo duas ou três). E a pasta Turma e Notas fica com a planilha de presença e avaliações. Já tive semestres em que ficou tudo embolado numa pasta só, mas essa estrutura facilita achar as coisas durante a correria do semestre.

2) Criar um marcador no Gmail para o curso — Outra tarefa fácil, mas que facilita muito a vida durante as aulas. O meu setup de 2018-2 está assim:

professora15dicas_02

Coloco essa @número para ordenar as pastas iniciais do meu jeito (e não em ordem alfabética). Para os cursos, coloco um 0 (zero) na frente para que sejam as primeiras. Seleciono uma cor diferente para identificar logo as mensagens. Vou jogando ali os programas enviados, os e-mails dos monitores, e depois toda a correspondência oficial (enviada pelo sistema da universidade) e as minhas com os os alunos. Dá um trabalhinho no início, mas facilita demais a vida conforme vai chegando a época das avaliações! (E os dramas…)

3) Programa de curso — Claro que esse arquivo precisa estar pronto com mais antecedência, mas sempre dá para rever, retirar ou adicionar textos e informações na véspera de começar as aulas (e até durante). Vejam aqui um exemplo do programa e Antropologia e Desenho de 2016.

(Quando dei meu primeiro curso, recebi um programa para seguir. Eram tempos pré-internet e eu era quase da idade dos meus alunos. Hoje em dia, montar uma bibliografia é uma espiral de ansiedade. Poder acessar todos os programas de curso de todas as universidades do mundo dá uma depressão… São tantas escolhas e, ao mesmo tempo, bate aquela real de “só sei que nada sei”!)

4) Calendário de aulas — Sempre crio uma planilha com todas as datas de aulas, aproveitando para ver se haverá feriados ou eventuais ausências devido a compromissos acadêmicos. Assim, consigo planejar o número de aulas e as compensações necessárias para chegar na carga horária correta. Essa mesma planilha servirá para os itens 5, 6, 7 e 8 (ver exemplo adiante).

5) Planejamento aula-a-aula —  Pra mim, um curso não é uma lista de textos. Gosto de planejar exercícios, atividades lúdicas, tempo de orientação, devolução das correções, aulas com convidados, filmes etc. Mas tem uma hora que preciso fechar essas datas para providenciar o que for necessário e deixar monitores e alunos avisados. Claro que sempre fica alguma coisa para resolver mais à frente, é normal!

6) Diário de aulas dadas — Meu semestre ideal é quando tenho tranquilidade e foco para escrever sobre as aulas dadas. Como foi a reação dos alunos? O texto novo rendeu? O exercício foi interessante? Tive alguma ideia para uma futura aula? Às vezes consigo fazer um arquivo separado, mas na maioria dos semestres faço algumas anotações na própria planilha do calendário/planejamento. No exemplo abaixo, a estrutura da planilha que utilizei em 2017-1, anotações das aulas 3 e 4:

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A coluna “ok” é para marcar que a aula foi dada. Tem coisa melhor do que ticar uma tarefa feita? Espero que dê para ler ao clicar na imagem!

7) Controle de presença — Há alguns anos passei a fazer minhas próprias listas de presença ao invés de utilizar as da universidade. Baixo os PDFs oficiais e copio/colo os nomes numa aba da planilha da turma, acrescentando as colunas com as datas, feriados etc. Além da praticidade, imprimo com espaçamento e fonte mais amigáveis para meu astigmatismo e miopia. Um exemplo:

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8) Controle de Notas — Na mesma planilha (acima), incluo colunas para juntar os alunos em grupos (quando é o caso), anotar entrega de trabalhos (no exemplo abaixo, T1 e T2), os graus atribuídos (N1 e N2) e as médias finais. Aí vai uma amostra com as cores separando os grupos para vocês verem melhor:


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9) PDFs e Textos — Uma das coisas mais chatinhas de ser professora é ter que providenciar o material que os alunos precisarão consultar. Como estou sempre modificando minhas bibliografias, costumo fazer em duas etapas, deixando as primeiras semanas prontas e acrescentando as demais quando termino de defini-las. Gosto de ir sentindo a turma e de retirar ou acrescentar textos conforme o rumo das discussões.

10) Planejar semana — Como expliquei nesse post, ser professora exige um imenso trabalho nos bastidores. Preciso separar pelo menos um dia para me dedicar às aulas da semana, seja para ler, reler, preparar, corrigir exercícios, providenciar material, responder e-mails dos alunos, conversar com monitores etc. Dependendo do momento do semestre e do tipo de curso, esse volume se multiplica por dois, três ou mais. Mas tento ter pelo menos um dia em que não marco nenhuma outra atividade. Normalmente separo as segundas-feiras pra isso. Considero uma felicidade acordar numa segunda (!) tendo um dia calmo pela frente, relendo autores e escrevendo sobre temas de que gosto.

Sei que é um enorme privilégio estar numa universidade que me permite ter tempo de preparação e número de turmas compatível com pesquisa, ensino e extensão. Já estive em situação de ministrar 26 horas semanais de aula (nível universitário). Quando se tem dois ou três empregos simultâneos, o único tempo de estudo/correção é sábado e domingo. É ótimo ter trabalho, claro, mas saúde deveria vir primeiro…

11) Roupas — A atividade de professora nos expõe muito… Mesmo eu, que não gosto de consumir, me sinto mal de não ter uma roupa decente para dar aula. As blusas de vocês também estão furando à toa? As minhas sim! Antes do semestre começar, preciso ter pelo menos uma calça e algumas camisas que não estejam apertadas, com o botão faltando, com alguma parte rasgada ou manchada. Não é bobagem: quando a gente sai de casa se sentindo bem dentro das próprias roupas, isso se reflete numa segurança maior em sala de aula. (Desculpem se esse ponto for óbvio pra vocês, mas eu precisava escrever! Esse item 11 é terapia pra mim mesma, pois fui me tornando muito crítica ao consumismo e às vezes acabo exagerando.)

12) Saúde — Essa foi minha primeira lição como professora, pois fiquei totalmente rouca quando comecei. Aprendi a cuidar da minha voz, fazendo pausas e bebendo água durante a aula. Também tenho na bolsa um kit-saúde preventivo. Como ainda temos quadros de giz no IFCS, esse kit de auto-cuidado inclui: pastilhas de hortelã sem açúcar, creme de mão, álcool gel, lenço de papel, lenço umedecido, remedinhos diversos (tipo Tylenol e de alergia), além do básico escova/pasta de dente/batonzinho. E vocês, o que levam?

13) Papelaria — Chegamos na parte boa! Quem não gosta de dar uma passadinha na papelaria? Começo de semestre é uma ótima desculpa para renovar o que estiver faltando: caneta, lapiseira, grafite, borracha, post-its, iluminadores, marcadores de quadro branco, apagador, pasta com elástico (costumo usar uma cor para cada curso, tentando reaproveitar dos semestres anteriores). Esse ano renovei meu estojinho (um bem básico de plástico e zíper, da Yes), e também tenho sempre um pen-drive e carregador de celular extra no trabalho.

14) Mochila — Bolsa, pasta, mochila… professor está sempre carregando papéis, trabalhos, livros… No mundo ideal, eu andaria com uma bolsa pequena e uma sacola de pano separada para o material de aula. Mas com o histórico dos ombros doloridos e algumas dores nas costas, estou indo trabalhar de mochila. Herdei uma bem simpática (e leve) da minha sobrinha que foi morar fora. ♥

15) Livros — Bem, esse item não se compra no início do semestre… Na verdade, uma ida à livraria (ou sebo ou biblioteca!) é um prêmio pessoal por essa preparação toda! ☺ Observação sobre o anti-consumismo do item 11: comprar livros não é gasto, é investimento! Já frequento a biblioteca do meu instituto toda semana, mas essa listinha me lembrou que preciso explorar mais por lá.

Espero que esses lembretes sejam úteis!

E vocês? Fazem alguma coisa ou têm dicas que esqueci de anotar? Me mandem ou escrevam nos comentários: vou adorar saber da rotina (e das maluquices) de cada um. Espero que não tenham me achado a doida-da-organização!

* Checklist é uma listinha de lembretes para tarefas recorrentes. O objetivo não é ser super original, mas sim juntar um monte de pequenas tarefas numa lista só. Aprendi lendo esse artigo aqui (em inglês), mas no blog da Thais Godinho tem explicação simplificada (em português). Nunca mais parei de fazer as minhas. Tenho várias para diferentes situações. Me avisem se acharem interessante o tema que eu trago alguma outra pra cá.

Sobre o desenho: Esses posts sobre vida acadêmica acabam me exigindo muito na hora de ilustrar, socorro! Fiz uns esboços a lápis primeiro, depois cobri com uma canetinha azul gel Muji 0.38. Deixei secar e passei uma aguada bem suave de aquarela azul (French Ultramarine) com um pincel Winsor & Newton University Series n.1. Como papel, utilizei o verso (que é menos rugoso) do bloco espiral da Canson XL Aquarelle (capa azul turqueza).

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3GO. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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A gorda, missão íntima

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“Não se pode ir com muita sede ao pote. Nem com pouca. Uma pessoa nunca sabe como abordar o pote. É à sorte.” (A gorda, de Isabela Figueiredo, p. 63)

Foi num domingo de manhã que uma amiga me recomendou A gorda, de Isabela Figueiredo (ed. Todavia). Mal sabia o quanto iria me emocionar esta narrativa numa primeira pessoa cheia de contrastes: sensível e objetiva, triste e engraçada, surpreendente e cotidiana. Foi um pote delicioso, bebido com sede!

“Em silêncio, sou sempre eu e o que em mim se compõe e apruma.” (114)

Estamos em 2018 e ainda me espanta e alegra ler uma mulher com voz num mundo em que são os homens que “têm direito a ser grandes”(30). Isabela, Maria Luísa, a mamã, a titia, a vizinha, a amiga… mulheres que precisam aprender a enfrentar seus corpos:

“O meu corpo não esperava que eu tivesse a coragem. Foi surpreendido logo de manhã. Levaram-se para o bloco de operações e zás. (…) Estava só eu e o meu corpo, como se tivesse acabado de nascer, mas consciente. Só nós dois, na nossa luta. (…) ‘Quem manda sou eu!’. E o meu corpo a piar fininho. Quietinho. Dobrado sobre si. E eu dizendo-lhe, ‘subestimaste-me. Afinal não conhecias assim tão bem a mulher com a qual te meteste.'” (124-5)

O mundo interior de Maria Luísa, a protagonista do romance, é ao mesmo tempo melancólico e bonito…

“Por vezes considero que perdi muito tempo, no passado, desgostando de mim, mas reformulo a ideia concluindo que o tempo perdido é tão verdadeiramente vivido na perdição como o que se pensa ter ganho na possessão. E volta o sossego.” (21)

Frágil e forte…

“Mas não, não, mesmo pelos meandros da loucura considerava que matar-me seria um grande desperdício, avaliando o investimento já realizado.” (42)

Sofrido e divertido…

“Imaginei-os comentando uns com os outros, ‘doutor Sequeira, está ali uma senhora a sofrer por amor, vá lá dar-lhe uma injeção ou pô-la ao soro’, e no meio da loucura soltei uma gargalhada. Rir-me era um bom sinal. Ainda não estava louca (…)” (70)

Há uma solidão por vezes sufocante…

“Eu era uma miséria de mulher, um torpor, uma dor que já nem dói. Um farrapo de lã que já não aquece.” (72)

…mas é a de um corpo vivo, um corpo que ama o corpo do outro (David), que se deixa rebentar no momento do encontro, quando não se pertence “a lugar algum”, quando sexo e cérebro são só “dor luminosa no lugar do nada, ópio que não pode durar mais” (40).

“É uma missão íntima entre o nosso coração rarefeito e o do Tejo [o cão]. Os nossos caminhos também se cruzaram sem o termos pedido.” (135)

Acompanhamos as reflexões de Maria Luísa por dentro, os fatos se dobrando às memórias. É uma narradora crescida…

“A vida adulta raspa a pele.” (127)

…que sente saudades

“Falta-me qualquer coisa muito antiga.” (129)

…mas segue:

“Há um dia em que todas as noites acabam.” (151).

Não sabemos ao certo como ou quando se dá seu ponto de fervura interna (“O teu pai ferve em pouca água”, diz a mamã, p.137). Em algum momento nos damos conta, junto com a narradora, que os pais se foram, que a casa se vende, que o desconforto sossega, que as lembranças clareiam, que a vida se ilumina:

“Que bela mulher eu sempre fui! Um corpo tão perfeito, tão imponente, como pude desamá-lo tanto?!” (203)

Que leitura comovente, simples, amorosa, feito chão de tábua corrida com sol.

Um ótimo final de semana, leitores queridos! ☼

Sobre o livro: Agradeço à querida Maria Helena Mosse pela indicação d’A gorda. Que boa companhia! Da autora, Isabela Figueiredo, só sei o básico: é moçambicana, radicada em Portugal desde 1975, autora de Cadernos de memórias coloniais (ainda não disponível no Brasil) e deste primeiro romance A gorda (ed. Todavia, 2018). Adorei que a editora manteve o português lusitano, que amo ler. Comprei numa livraria de rua aqui no Rio de Janeiro, mas vi que está mais barato na Amazon.

Sobre o desenho: Estava sem ideia de imagem para o post e adoro desenhar o objeto-livro. A capa original é do Pedro Inoue. Desenho feito no verso de um papel Canson (bloco XL Mix Media) com canetinha de nanquim permanente Pigma Micron 0.2, depois colorido com aquarela (várias marcas, mas a maioria Winsor & Newton), que depois resolvi cobrir com guache (tenho as três cores primárias da Winsor & Newton). Foi um sacrifício escrever em laranja na capa e na lateral. Depois dei uma ajeitada em tudo no Photoshop para ficar legível.

Você acabou de ler “A gorda, missão íntima“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “A gorda, missão íntima”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Fh. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Marielle, Presente!

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Há dez dias Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes foram assassinados. Dor,  desilusão, raiva, é muito sentimento misturado. Estivemos nas manifestações, ouvindo, andando, gritando as palavras de ordem, nos emocionando, seguindo. Penso em todas as pessoas que perderam seus filhos, companheiros, representantes, amigos… mais uma tragédia no Brasil; e são tantas.

Ao invés de escrever, preferi desenhar. Tentei trazer alguns dos símbolos que ela representava: mulher, negra, favelada (por isso deixei as sobreposições) e bissexual (o lilás), sem deixar de ser sua própria, alegre, mistura. (Os detalhes sobre o desenho estão no final do post.)

Queria também compartilhar com vocês algumas palavras das pessoas que registraram esse momento ao longo desses tristes dias:

Flávia Oliveira, jornalista, n’ O Globo:

“São tantas camadas. Cada tiro atingiu uma pele. A pele da mulher negra. A pele da mãe. A pele da favelada. A pele da socióloga. A pele da defensora dos direitos humanos. A pele da representante eleita para a Câmara Municipal de uma cidade tomada pela brutalidade e pelo medo (…) Seu corpo está morto. Suas ideias hão de sobreviver.” (Flávia Oliveira)

Teve o vídeo com os poemas “Terra Fértil” e “Rosa de Sangue” de Carolina Rocha/Dandara Suburbana, com performance de Rosa de Sangue Movimento Artístico, direção de Emy Lobo, no canal Sobre Elas. Vejam até o final — a voz da multidão gritando #MariellePresente traz muito da emoção dos eventos para quem não pode estar lá.

Foi emocionante o post da Priscilla Brito citando Audre Lorde, poeta negra, ativista LGBT:

“Destas semanas de medo agudo nasceu o conhecimento – a partir desta guerra que todas estamos lutando contra as forças da morte, sutis ou não, conscientes ou não – de que eu não sou apenas uma baixa, sou também uma guerreira. Quais são as palavras que você ainda não possui? O que você precisa dizer? Quais são as tiranias que você engole diariamente e tenta tornar suas, até que você adoeça e morra delas, ainda em silêncio?” (Audre Lorde)

Dos relatos pessoais sobre Marielle, a carta de Vanessa Berner foi linda… Um trechinho:

“Afeto era seu nome do meio, Mari. E foi por causa dele que você se tornou essa gigante que hoje o mundo todo conhece. (…) Você sempre foi boa nisto, Mari, em fazer as pessoas se sentirem melhor. Na vida cotidiana, na política. E é a soma dessas pequenas coisas que te tornou a pessoa que nós sempre amamos. A solidariedade, amora: eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor! (…) Isto acontece porque você fez tudo certo. Desde o princípio. Você sempre investiu na formação política das mulheres, seu discurso sempre foi sua prática. Uma linda prática coletiva, amorosa, responsável. Você investiu na utopia feminista, em uma nova ética. (…) Nem uma menos! Você nos acolhia a todas, abraçava todas nós, se solidarizava com a dor do mundo. Por isto nos reconhecíamos em você: um mútuo reconhecimento tão evidente que cada tiro que te atingiu, doeu profundamente em todas e em cada uma de nós.” (Vanessa Berner)

Lembro também da dura verdade dita por Luciana Nepomuceno, que escreveu e fez uma bonita compilação de vídeos sobre Marielle para o blog Biscate Social Club:

“Que lutemos as lutas de Marielle. Que apoiemos outras mulheres negras na política. Que não esqueçamos sua morte. Que balancemos suas bandeiras. Que sonhemos, juntos, seus sonhos. Mas Marielle, mesmo, nunca mais.” (Luciana Nepomuceno)

Compartilho ainda a matéria que só o talento de Mário Magalhães poderia produzir, no The Intercept. Honrada de participar da indignação, como diz a senhora reportagem –aquela coisa meio esquecida em que um jornalista entrevista pessoas, lê ou vê fontes com todo cuidado, mesmo com pouco tempo, traz novas informações, busca sentido no que não tem sentido:

“E quando chegar a noite cada estrela parecerá uma lágrima”, poetou o Renato Russo. Se a cada lágrima corresponde uma estrela, raras vezes o céu do Rio esteve tão estrelado. (…) As estrelas choram, mas iluminam e inspiram caminhos.” (Mário Magalhães)

Para terminar com um pouco de esperança, assistam o “50 mães, 50 e muitas crianças – 1 cromossomo”,  linda homenagem ao dia da Síndrome de Down (21/03) criada por um grupo de mães inspiradas na organização Singing Hands do Reino Unido. Impossível não sorrir e se emocionar! Um detalhe bonitinho: o uso da música “A Thousand Years” foi autorizado pela autora, Christina Perri, via seu marido, Paul Costabile, contatado pelas mães pelo Twitter e ele próprio apoiador da causa.

“Como ser corajoso | Como posso amar quando eu estou com medo de cair” (Christina Perri)

Sobre o desenho: Foi muito difícil, fiz várias tentativas… Nessa versão, que sobreviveu, desenhei com caneta de nanquim permanente (Pigma Micron 0,2) olhando para uma foto tipo selfie da Marielle na Câmara dos Vereadores. Não é a foto mais bonita dela, mas é uma das poucas em que ela não está com seu largo sorriso lindo. (Quem desenha rostos, sabe como é quase impossível registrar sorrisos de uma forma que não fique horrível.)  Estava preto e branco, sem a menor graça. Aí lembrei de uma página de estudo em que pintei só misturas de aquarelas roxas, lilases e rosas. Escaneei, editei tudo no Photoshop e saiu assim. Depois escrevi o Marielle, presente! e encaixei na imagem. Fiquem à vontade para usar.

Editado para correções em 24/3/2018. 

Você acabou de ler “Marielle, Presente!“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Marielle, Presente!”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3DF. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Mulheres que dizem Não!

dez2015p

Está acontecendo na internet (principalmente no Facebook, mas não só) uma campanha chamada #meuamigosecreto ou #meuamigooculto. É uma hashtag que reúne depoimentos, histórias, desabafos e denúncias de mulheres sobre o machismo do dia-a-dia, principalmente sobre aquele mais sutil, que não te leva para a delegacia, mas te fere constantemente, derrubando a sua autopercepção e a sua autonomia de pensamento, ação e desejo.

Tenho compartilhado, lido e curtido as postagens, pois minha vida mudou quando finalmente entendi a violência por detrás de alguém que se recusa a aceitar o meu “não”: não quero, não posso, não sinto; simplesmente, “minha resposta para você é não”. Acredito que essa e muitas outras lutas feministas são fundamentais para que minha filha e todas as mulheres não precisem aprender a dizer não da pior forma, na marra, sofrendo, sozinhas.

Minha visão do mundo mudou quando conheci o grupo de mães Amigas do Peito. Foram mulheres pioneiras que, em 1980, fundaram um espaço de trocas e apoio mútuo, onde recusavam o controle dos médicos sobre seus corpos e afetos. Tive a sorte de ser ativa no grupo por 11 anos, aprendendo, a cada reunião, que juntas somos mais fortes, mais solidárias e mais inteligentes também, por que não? Eram bem-vindas todas as pessoas, de todos os tipos, gêneros etc., desde que não viessem para mandar nem esfregar diplomas ou quaisquer outros símbolos de sua sapiência. Foi um enorme aprendizado, a cada reunião de apoio, lembrar de exercer a palavra de forma horizontal e dialógica, aceitando as narrativas, os silêncios, os sins e os nãos.

Pode parecer óbvio, mas não é: o direito das mulheres de falar, e principalmente de dizer “não”. Parabéns a todas que estão por trás dessas iniciativas (e não cito aqui os nomes porque não saberia ser precisa), e a todas que estão escrevendo, falando, conversando sobre isso.

Ah, e quase ia me esquecendo de recomendar a leitura do depoimento da Mariana Cavalcanti no blog sempre ótimo A vida pública da sociologia, do João Marcelo Maia!

Sobre o desenho: Caixa é bom demais, né? Me sinto criança de novo! O que será que tem dentro? Presente, livro, chocolate, bilhete, caderno, notícia boa, notícia ruim? Foi pensando nisso que escolhi o tema do calendário de dezembro (pdf). Queria encantar as crianças que imprimem o calendário, como o Henrique, que todo mês anota os dias da mãe e do pai nos quadradinhos em branco. Fui visitá-lo outro dia e me emocionei vendo meus desenhos misturados com a letrinha dele, num plano carinhosamente pensado pela Dani, sua atenta e amorosa mãe. Queria também caprichar no mês que é o aniversário da Alice (10 anos dia 9!) e de uma amiga muito querida! Segue a imagem para o dia (abaixo, que pode ser impressa por esse pdf) para todos os aniversariantes desse mês.

dez2015anivmini

O desenho foi feito com canetinha Pigma Micron 0.05 e colorido com lápis de cor. Me inspirei em caixinhas daqui de casa, inventei algumas, e pesquisei outras no acervo do Victoria & Albert Museum na internet. O tema das cores vermelho e rosa foi inspirado no desenho infantil Charlie & Lola, que amo!

Agradecimentos: Não estou dando conta de responder aos comentários aqui no blog, mas queria dizer o quanto me emocionam e incentivam a continuar. Muito obrigada!

 


13 Comentários

Zero problema

UskBcn
Alice adora quando encontra mulher dirigindo táxi. Ontem avistou uma no trânsito e me perguntou:

— Mãe, você gostaria de ser taxista?

Eu — Não, filha, detesto trânsito! E ainda o dia inteiro…

Alice — Ah, mas imagina só: cada passageiro tem uma história para contar! Quando você se dá conta, já acabou o caminho!

Eu — E você, filha, o que gostaria de fazer quando for adulta?

Alice — Hum, será que pode ser “treinadora de futebol da seleção brasileira”? Será que pode ser mulher? Eu acho que pode!

Eu — Deveria poder sim.

Alice — … Ou então: professora de educação física, artista, desenhista, jogadora de futebol e… diretora da Globo!

Eu — Legal, filha.

[e mais tarde…]

Alice — Mãe, estou tão feliz! Atualmente eu tenho “zero problema”.

Eu — Como assim?

Alice — Eu resolvi o problema do cabelo na escola, o da falta da minha bola e o da falta da minha bicicleta, que você buscou hoje.

Eu — Que bom, filha! E como é que a gente faz para ter “zero problema”?

Alice — Ué? É só resolver todos. Resolve um, depois outro, depois outro e assim vai.

Eu — Mas os meus problemas nunca acabam…

Alice — É que nem jogo de futebol, mãe. Não pode sair todo mundo da defesa de uma vez; nem atacar com todos os jogadores de uma vez. Tem que defender quando precisar defender, e atacar quando precisar atacar. E não pode perder a bola.

Eu — Eu sempre perco a bola…

Alice — Não deixe nada te causar problema, mãe.

Eu — É, filha, você tem razão. Quer dizer que você não tem problema…?

Alice — Pensando bem, eu tenho um problema sim: não tenho com quem brigar!

Eu — Como é que é?

Alice — É que o Antônio está viajando! Ah, e tenho outro problema também: a Alemanha vai ganhar a Copa de 2018…

Sobre o blog: Vamos combinar que a semana passada não existiu? Eu finjo que não deixei de escrever o post-de-quarta e de brinde a gente ainda anula os jogos infames da seleção brasileira! Como os jogadores, não sei explicar o que aconteceu: apagão, excesso de Copa, volta às aulas das crianças, mudança número três, obras, gatos, dor nas costas, tudo-isso-junto. Só que não; não adianta dar desculpa. Desde que o blog existe, tive motivos bem piores do que esses para não escrever ou não desenhar ou os dois. Então, bora pra frente. Faz de conta que a semana passada não existiu.

(Mas vamos abrir uma exceção para não apagar a crônica deliciosa do Arthur Dapieve que saiu no Globo na sexta e nenhum dos textos sempre lúcidos do Mário Magalhães no Uol. A Copa ficou melhor com eles.)

Sobre o desenho: Feito no último dia do Simpósio Urban Sketchers em Barcelona, em julho de 2013. Que saudades dessa semana incrível! Queria voltar a desenhar assim… A mistura de cores e materiais foi influência dos workshops que fiz com duas artistas maravilhosas: Inma Serrano e Marina Grechanik. Usei de tudo um pouco: lápis de cor, caneta de pena e nanquim, aquarela, caneta Pentel com ecoline dentro, canetinha Unipin 0.1 e até lápis de cera (acho). Por falar nisso, em agosto acontecerá o 5o. Encontro dos Urban Sketchers no Brasil, em Paraty — ainda dá para participar!

E como alguns têm escrito para saber como se desenvolver no desenho, recomendo a maravilhosa Sketchbook Skool, uma escola online criada pelos ultra-simpáticos e talentosos Danny Gregory e Koosje Koene. Amei o primeiro semestre e estou sonhando com o segundo…