Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Artista, bicho, jardim

vangogh

“O artista é um bicho assim: a dor dá cor ao seu jardim…” (Juva Batella, em Do gato Ulisses as sete histórias, p.38)

Pela coragem de atravessar a cidade, pela paciência de encarar a fila, pelos sorrisos, pelos abraços, pelas flores, pelos carinhos, pelos compartilhamentos, pelas mensagens dos que não puderam ir, e pelos quase 150 Ulisses que vocês levaram para passear… muito obrigada!

Queria escrever sobre os livros que estou lendo, mas não terminei nenhum dos dois ainda… Também estou em crise de decidir o que quero desenhar, mas tanto os diários da Margaret Mee quanto as cartas do Van Gogh me levam em direção às plantas. Na falta de um jardim de verdade, fui para um imaginado (acima) e para um pequeno parque perto de casa (abaixo).

Sempre leio que o artista cria a partir das suas “referências de infância”. Tipo José Lins do Rego escrevendo sobre a vida no sítio do pai — história aliás lindamente transformada no livro “O menino que virou escritor” de Ana Maria Machado (ilustrada por Ciro Fernandes, ed. José Olympio).

Mas menina urbana tem lá referência?

Pensa daqui, pensa dali, chego à conclusão de que tenho umas memórias de coisa verde sim. As plantas da escola onde estudei até os 12 anos ocupavam a nossa falta-do-que-fazer nos anos 1970. Na hora do recreio, uma das minhas atividades preferidas era arrancar essa florzinha vermelha do pé, despetalar e sugar o miolo! É uma eca, eu sei… mas não tinha celular nem mp3 naquele tempo. E o ser humano gosta de fazer besteira.

hibiscos

Uma coisa divertida dessa busca pelo jardim perdido é usar o Google para descobrir o nome das plantas. Essa aí de cima é uma “Malvaviscus arboreus”, também chamada de hibisco-colibri pelos especialistas (porque não acredito em “nome popular” de planta).

* 7 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:
* Uma amiga leu o post sobre os 3 Ps (paixão, paciência e prática) e me mandou de presente a linda ideia dos três Cs: Coragem, Coração e Consciência!

* Apesar da resistência, reli com a Alice “Os bichos que eu tive”, da Sylvia Orthof, e ela teve que admitir que achou muito engraçado.

* Um tio-cunhado leu o post sobre as críticas e me mandou de presente a história de quando ele entrou para a família. Depois de se hospedar na casa da minha tia-avó, ele ouviu-a ligar sorrateiramente para a futura sogra: — “Dida, tu sabes que ele tomou banho e deixou tudo impecável, como se o banheiro não tivesse sido usado!”

* A Cora Rónai fez uma foto incrível e escreveu um perfil muito simpático de um dos meus heróis no Rio de Janeiro: o Tony, que resgata, protege e doa animais abandonados, com a ajuda da Marluce, sua companheira.

* Participei a convite da Daniela Manica e da Marina Nucci de uma roda de conversa emocionante no IFCS com alunos e funcionários, sobre gênero, corpo e trabalho. Foi um momento marcante nesses quase dez anos de UFRJ, que me lembrou o amor por tudo que aprendi na escola das Amigas do Peito.

* Achei por acaso (e comprei por um preço ótimo!) o lindíssimo livro “Usos e circulação de plantas no Brasil”, organizado pela Lorelai Kury (ed. Andrea Jakobson).

* Três crianças disseram que leram de uma vez e adoraram o nosso “Do gato Ulisses as sete histórias”!

* Sobre os desenhos: Desenhos feitos no caderninho Laloran com aquarelas Winsor & Newton e lápis de cor Carand’Ache aquarelável. No primeiro, o jardim foi de imaginação, exceto pelo passarinho inspirado numa imagem do livro-fofo The Summer Book, da Susan Branch, que ganhei de presente há seculos da Dri. A frase à direita é de uma das cartas de Van Gogh para seu irmão Theo. Para o segundo desenho, colhi algumas flores de verdade caídas no chão, já bem murchas, coitadas, pois não tive coragem de arrancar do pé onde um beija-florzinho tomava seu café-da-manhã.


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Faz logo o meu autógrafo!

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Alice, ontem à noite: — Mãe,  me dá o livro. Vou ler. Não posso chegar no lançamento sem ter lido né? ?

Eu: — Ok, filha, claro, tá aqui.

Alice, na página 42: — Mãe, adorei o Gatovsky. Ele é bem legal. Estão querendo comprar ele. Mas porque o Juva usa aspas ao invés de travessão?

Eu: — Os dois são certos… Ele preferiu aspas por causa das rimas.

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Alice, aos prantos, invade meu quarto: — Mãe!!! A Babi morreu… a Babi morreu…

Eu, tentando consolá-la: — Eu sei, filha… Mas, pensa bem, agora a Babizinha que você tanto ama está para sempre no livro…

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Alice, ao terminar: — Mãe, adorei!

Eu: — Que bom, querida!! De qual parte você mais gostou?

Alice: — De quando o Ulisses conheceu a Penélope!

Eu: — Esse também é meu capítulo preferido, filha!

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Alice: — Gostei do livro, é bem legal. E é melhor do que “Os bichos que eu tive”, da Sylvia Orthof. [Implicando, porque ela sabe que eu amo esse livro.]

Eu: — Ai, filha, não fala isso! Eu adoro o livro do Ulisses, mas a Sylvia é imbatível!

Alice: — Mãe, pára de ser velha. Os desenhos dos bichos desse livro [da Sylvia] são horríveis. E faz logo o meu autógrafo!

[E mais não falei; porque os desenhos do Gê Orthof são maravilhosos… É só a minha filha sendo filha… heart]

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Sobre os desenhos: Fiz a imagem que abre o post a partir de uma foto da Alice que tirei ontem mesmo. Desenhei com canetinha 0.05 e fiz umas aguadas de aquarela sobre papel A4 comum. O gatinho é o Charlie, que toda a noite faz companhia para a Alice ler. Depois de pronto, fui no Photoshop e encaixei no desenho uma imagem escaneada da capa do livro! Todas as outras imagens são ilustrações do livro novo. Abaixo, mostro pra vocês algumas ideias que tive antes de resolver qual seria o tipo de ilustração final — e isso levou mais de um ano!

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Sobre o livro: O lançamento é quinta-feira, 11/junho, na livraria Argumento, a partir das 19h. Para quem não puder ir ou estiver fora do Rio, todas as informações estão no site da editora Vieira & Lent. Na semana passada, esqueci de publicar pelo menos um pequeno trecho da quarta capa:

“Ulisses viajou o mundo inteiro, um mundo de aventura, um mundo de cheiro. Foi bailarino, músico e marinheiro; foi artista de rua e gato em cativeiro. Também se apaixonou, e o nome dela é bonito. A fera se chama Penélope — como no mito.

Viaje com este gato, ao longo de sua estrada. Vamos repensar a vida, esta grande, grande charada.”

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O gato que virou livro

junho2015

Imaginem uma família crítica, agora multipliquem e elevem ao quadrado… É mais ou menos de onde eu vim. A tia mais fofinha era do tipo que olhava seus dentes antes de te dar bom dia. A avó pegava no colo e contava histórias, mas ai se você estivesse mais gorda. A redação da escola vinha com nota dez, ufa, parabéns; mas o filho da fulana escreveu uma com 60 linhas — quantas linhas tinha a sua mesmo?

A pessoa não sai ilesa vivendo 20 anos nessa espécie de bancada-Roda-Viva constante. Vira crítica também; ao cubo, três vezes. Isso não garante que vai ser boa em alguma coisa, mas até que favorece a profissão acadêmica… Adquire-se uma imaginação infinita para antecipar críticas.

Agora, joguem essa pessoa no mundo da arte? Ferrou. Num universo de parâmetros tão subjetivos, de mestres tão obsessivos, de imagens tão encantadoras… Como a pessoa pode se achar no direito de bater à porta? Não, de jeito nenhum. Me deixem aqui no meu cantinho rabiscando no caderno, que é melhor. Assim eu pensava.

Mas uma rede de amigos e até muitos da família (!) me empurraram porta adentro… Manoel, Nathalia, Arthur, Manya, Mário, Gilberto, Eduardo S., Clau, Bel, Mari, Ale, Robs, Joana, Malu, Sofia, Susi, Andrea, Hanny, Dady, Ronald, Elisa, Celina, Antônio, Alice, Vera, Cilene e, claro, o Juva, que escreveu, esperou, ouviu, aturou, incentivou, acolheu, elogiou, amou… Taí a coragem que vocês me ajudaram a ter! Meus agradecimentos infinitos também para os leitores desse blog, e aos amigos do Facebook, por tantas gentilezas, incentivos e apoios, principalmente em 2014, um dos anos mais difíceis da minha vida.

E um pote de sachê para o Charlie, a Lola e o Ulisses, meus gatos amados que aceitaram virar livro-de-verdade! (E não levem atum, porque a Lola é membro dos Atumhólicos Anônimos.)

ulissesconvite

Se estiverem fora do Rio, podem pedir online na Vieira & Lent !