Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Pra se molhar

jan2015“A solução para escrever […] é escrever mesmo assim e, ao terminar, descobrir que o mundo não se acabou. […] A única maneira de começar a nadar é entrando na água.”

O trecho acima é do livro Writing for Social Scientists, de Howard S. Becker, que em breve será publicado em português pela editora Zahar. O livro todo é uma delícia, cheio de humor e daquele tipo de saber complexo, mas dito de modo simples, com desejo de ser compartilhado.

É inspirada no Howie (como ele prefere ser chamado), que resumo meus votos para o nosso novo ano:

que a gente entre na chuva pra se molhar. E que rabisque quem quer rabiscar, que corra quem quer correr, que dance quem quer dançar, que desenhe quem quer desenhar… Que todas as listas de inutilidades fiquem pra depois; e que possamos escutar nossos desejos mais íntimos, assim como respeitar os desejos daqueles que amamos; e também daqueles mais distantes com quem compartilhamos a vida coletiva.

Como disseram, de formas diferentes, meus dois colunistas preferidos (aqui e aqui), que tenhamos boa sorte e muitos momentos felizes em 2015! Vamos precisar.

Sobre o desenho: Para entrar bem na água, pranchinhas de surf no calendário de janeiro de 2015, feitas com uma caneta Pigma Micron 0.05 e depois coloridas com os tesouros da casa: 152 lápis de cor Caran D’Ache e Prismacolor. Fiz algumas sombras também com caneta Pitt brush Faber-Castell (cor 272, cinza bem claro). Primeiro fiz só as pranchas, mas depois achei estranho vê-las voando… então fiz os banquinhos de areia, o que não impediu que algumas continuassem meio desengonçadas, prestes a cair. Porém… taí: cumpri desde já uma meta para 2015: resistir bravamente ao perfeccionismo e ao Photoshop.


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Não passei

naopasse

Não passei no vestibular de desenho (duas vezes).

Não passei na prova de estágio da editora Abril.

Não passei na prova de inglês do mestrado.

Não passei na primeira seleção de Prodoc do Museu Nacional.

Não passei no concurso do Departamento de Comunicação da PUC.

Não passei em seleções do CNPq e da Faperj (várias).

Quis registrar esses momentos porque às vezes fico sem palavras quando um amigo ou amiga queridos me dizem: “não passei”.

Para quem faz parte do meio acadêmico, nessa época do ano, o facebook fica cheio de comemorações: “passei no mestrado!”, “passei no doutorado!”, e até “passei na residência” (viva, prima!). E os posts ficam cheios de likes e comentários: é tão fácil e gostoso dar os parabéns!

Mas o que dizer diante dos não-postados: “não passei”, “não foi dessa vez”?

No documentário Vocação do Poder, os diretores Eduardo Escorel e José Joffily acompanham seis candidatos a vereador no Rio num ano eleitoral. Uma das cenas que mais me emociona no filme é quando um candidato começa a verificar os resultados das urnas e descobre que não obteve os votos que esperava. Sem querer acreditar, ele olha uma, duas, três, dez vezes, os boletins impressos das urnas. Passa e repassa aqueles papeis, como se pudesse acontecer um milagre: se ele olhar de novo, só mais uma vez, talvez aqueles números mudem… Mas não; ele não passou também.

Isso de achar ou não achar nosso nome numa lista é forte. Exige uma humildade, a menos que a lista seja uma fraude, o que também acontece sim.

Mesmo com lágrimas e choro, é um pouco mais fácil quando você é pessimista (como eu) e já acha que não vai chegar lá (escrevi sobre isso nesse post). Sempre tenho um plano B. Em algumas dessas situações, foi aquele clichê: “não passar” foi mesmo a melhor coisa que me aconteceu! Certas vezes, a única saída foi me resignar. Em outras, tentei de novo e consegui.

Acho que o desafio é escapar de viver em função de uma definição externa de nós mesmos; e seguir em frente, mesmo quando não temos o “aval do mundo” (aplausos, likes, prêmios, nome no topo da lista).

Taí uma boa meta para 2015!

E um abraço apertado para os meus querid@s que não passaram (e também para os que passaram). Como se diz por aí: tamo junto!

Sobre o desenho: Desenhei essa pontezinha desativada no Jardim Botânico em outubro para um desafio (entre amigas) sobre reflexos. Hoje me lembrei que a frase na plaquinha (“Favor não ultrapasse”) encaixava bem no tema do post. O desenho foi feito no local, num moleskine de aquarela, com canetinha preta de naquim. Aquarela e lápis de cor acrescentados em casa.

Você acabou de ler “Não passei“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2014. “Não passei”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url “http://wp.me/p42zgF-bJ“. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Balançando

balanço

Nas últimas semanas fiquei numa espécie de limbo. Não consegui fazer as tarefas no prazo, nem responder emails, nem arrumar a casa, nem desejar feliz aniversário para meus amigos, nem escrever para o blog! Estive num leve estado de choque pós-traumático (aka, pós-mudança).  Mas, ufa, passou!

Cinquenta e quatro posts e treze meses depois… retomo o blog para fazer um balanço (ou melhor, dois, né?:-).

O WordPress me avisa que atingi 50.924 visualizações. Mais da metade (27 mil) só para os dois posts mais lidos (a Carta… e as Dez lições…). O engraçado é que criei esse blog para tomar um ar fora do mundo acadêmico…

Sim, sou apaixonada por livros, por dar aulas, por pesquisar e por conhecer a pesquisa dos outros… Também não reclamo de dar palestras, escrever, publicar e prestar contas. Considero minha obrigação compartilhar.

Só que a logística disso tudo anda meio complicada… A formação encolheu (o tempo dos mestrados e doutorados diminuiu); mas os orientandos, as aulas, os eventos, os textos e as publicações se expandiram (alguns ao infinito). Ou seja, todo mundo (professores e alunos) tem que produzir mais em menos tempo.

O problema é que o dia continua tendo aquelas velhas 24 horas de sempre; e as pessoas continuam sendo humanas — mesmo quem vira onça têm que continuar comendo, dormindo etc. e tal. E ainda com diversão, arte, amor e balé (ou série americana na Tv/ipod/ipad/iphone?).

E aí: não dá.

Por tudo isso, preciso continuar tomando ar…! E decreto para mim mesma que vou manter o blog! Farei só umas pequenas mudanças para deixar a tarefa mais trancs, mas acho que ninguém vai notar. (Vou continuar postando, só que sem dia e frequência fixos. E não vou mais mandar posts por email. Assinem o envio automático do WordPress, please.)

Sobre o desenho: Gatinho se balançando feito com canetinha Kuretake num bloco de papel aquarela, e depois borrado com waterbrush. Sujei de propósito o papel para lembrar a vida é assim, meio borradinha mesmo.

Desejo para mim e para vocês um 2015 com menos telas, menos pdfs, menos facebook e menos e-mails. Só não reclamo do whatsapp, pois sou uma whatsapp-group-less. Que nosso 2015 seja um pouquinho mais analógico, com muitos papéis e canetas coloridas; além de mais (muitos) exercícios e dias ao ar livre!

E, finalmente, o melhor balanço de todos: muitos desenhos!! (Vejam abaixo uma reunião de quase todos os publicados aqui.)

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