Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Coisas que nos abraçam

“Continuou sorrindo ao recordar uma história que ouvira certa vez sobre o romancista Anthony Trollope. Trollope cruzava o Atlântico na época e ouviu, por acaso, dois passageiros comentando o último episódio de um de seus romances.
“– Muito bom”, declarou um deles. “– Mas o autor deveria matar aquela velha chata.”
Com um largo sorriso no rosto, o romancista aborda-os:
“– Cavalheiros, agradeço-lhes imensamente! Vou matá-la agora mesmo.”
(Agatha Christie, Encontro com a morte, p. 5)

Há algo de mágico e engraçado nessa cena: o escritor surpreende seus leitores e, ao invés de se aborrecer, lhes oferece uma morte de presente: matemos essa velha chata agora mesmo!

Minha bolsa e minha casa são mais ou menos como a pena mágica de Trollope e Agatha: sempre temos uma soluçãozinha pra tudo. Soluçãozona não temos, porque isso já seria demais.

Elástico, band-aid, saco plástico, lenço umedecido, chiclete, clip, caneta, bloquinho, pastilha para garganta, paninho para o frio do metrô ou do hospital, papel avulso, pen drive, piranha, elástico de cabelo, creme de mão, pasta de dente, fio dental, fone, absorvente, remedinhos para dor de cabeça, dor de barriga, enjôo, gripe, inflamação no dente, torcicolo. Caderninho, máscara descartável, lixa de unha, passas, colírio, carteira, cartão do metrô extra, lenço de chorar, cartão do faz tudo da esquina, fones, mais chiclete, álcool 70% spray pequeno, brilho labial, escova de dente, chave da casa e da mãe, óculos extras, sacolinha dobrável para compras, ansiolíticos de diversas épocas e validade vencida. Às vezes tem biscoito, barrinha de chocolate, antialérgico, post-its, marcadores de página, livros.

Já tive mais: lápis de cor miniatura, adesivos de criança, fraldas, cremes de bumbum, roupinha extra pra eles, outra pra mim, lencinho de baba, brinquedinho de morder, petisco de gato, sabonete líquido, livros de colorir, plaquinha de desenhar, fita crepe.

Para o dia-a-dia, sou daquelas que tem em casa uma pasta de envelopes reaproveitáveis, sacolinhas usadas, caixa de costura, feltro para móveis, saquinho de alimentos, roupas para emprestar. Na gaveta do banheiro, tem escova de dente nova para as visitas (dica: as de viagem são as mais baratinhas), potinhos para levar xampu e cremes. De armas secretas, há uma pinça longa de selos do tipo que meu avô usava, uma ferramenta de dentista com duas pontas que resolvem problemas inesperados, furador de lombada de livro, pincel macio para espanar teclados, colas com várias finalidades, almofadas de carimbo.

Assim como guardo coisas, coleciono informações. Arquivo quase tudo (digitalmente se possível) e sei onde achar: documentos dos falecidos e dos vivos, cadernetas de telefone digitalizadas, fotos antigas, exames médicos, cartas, datas, certificados de vacina não falsificados.

Ser esse tipo de pessoa me conforta. Sempre fui assim. Não é uma questão de dinheiro nem de acúmulo. É um modo de me sentir segura. Sou minimalista: meu armário é o menor da casa — só tenho umas poucas roupas, sapatos e bolsas. Meu estojo de aquarela é o mesmo há 20 anos.

Entre os familiares, já fui zoada pela fama de organizada. Diziam: “espera você ter filho”. Tive. A bolsa de troca do meu bebê era assim. Depois falavam: “ah, quero ver com dois filhos”. Tive a segunda. Perguntem para ela. Outro dia mesmo, Alice me pediu: “Mãe, me passa a lista dos itens de viagem!” 😀

As pessoas se acostumam no bom sentido. Meus amores também já me zoaram, mas quando foi que viajaram sem um brinquedinho-surpresa, um lanche gostoso, um cobertorzinho macio? Inclusive, a ideia desse post foi do Antônio que, semana passada, precisou de um envelope de tamanho grande para guardar uma gravura. Fomos juntos no cantinho da bagunça (sim, também temos) e mostrei para ele a seção dos envelopes reaproveitáveis. “Que perfeito, mãe!” e ganhei um abraço tão gostoso.

Acho que essa cena sintetiza o sentido das coisas: nos dar um abraço de conforto que nos surpreende ou nos acolhe na hora que mais precisamos. São as batatinhas preferidas da aluna aflita, os vários tipos de chás para a mãe, o mel do Davi, o chinelo extra para a Nara, o chocolate do Vicente, a geléia do Tomaz, o biscoito da irmã, a água com gás do cunhado, o bolinho para a Jô. Tinham as castanhas do pará do Ju. Cada pessoa que chega merece um carinho.

Sobre a citação na epígrafe: Encontro com a morte, de Agatha Christie. (Trad. Bruno Alexandre, L&PM, 2011; original de 1938). Desde 2021 venho relendo todas as obras de Agatha Christie. Foi uma redescoberta porque nas últimas décadas minha coleção (incompleta) ficou pegando poeira ou sendo emprestada aos sobrinhos. Fui para o digital para dar conta! A cada livro percebo mais camadas de ironia e autoironia, assim como certas manias e referências da autora. Se gostarem do assunto, me digam que escrevo mais. Aqui no blog já tem dois posts sobre a sua autobiografia: Lições de escrita com Agatha Christie (Parte 1) e Lições de escrita com Agatha Christie (Parte 2).

Sobre o desenho: Aquarela de uma embalagem e um saquinho de chá de erva-cidreira Chá Leão. Desenho feito em caderninho Laloran em 2021. Linhas em caneta Pigma Micron 0.05; pintura com tintas da minha paleta de várias origens e alguns toques de lápis-de-cor. Na legenda à direita está escrito: “saquinho de chá depois de 1 dia secando”. Por falar nisso, esbarrei em vídeo que sugere secar esses saquinhos e utilizar o papel em desenhos. Não sei mais onde foi. Vou tentar e mostro pra vocês.


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Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “Coisas que nos abraçam“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3ZI. Acesso em [dd/mm/aaaa].


A antropologia como uma forma de olhar o mundo – minha entrevista a Diana Mello para a revista Kula

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Antropologia, inovação, trajetória acadêmica, desenho, saúde mental — esses foram alguns dos temas que falei em uma entrevista a Diana Mello para a revista Kula: Antropología y Ciencias Sociales. A Diana é uma ex-aluna querida (criativa, talentosa e sensível!), que esteve na primeira turma do curso de Antropologia e Desenho no IFCS, em 2013. De lá pra cá, criei esse blog e ela já está no doutorado na Argentina, sua terra natal.

Seguem alguns trechos da conversa para vocês (créditos e link para a publicação completa no final).

Sobre como podemos continuar gostando de antropologia, apesar de…:

KK — “…quando nos debruçamos sobre a vontade de conhecer as pessoas, [descobrimos] que muitas vezes elas são mais parecidas conosco do que a gente imaginava e, portanto, não são bem “outros”, são “interlocutores”. (…) Com todas as ressalvas, acho que sobrevive na antropologia um projeto de produção de conhecimento entre pessoas, e esse projeto continua sendo válido para mim. É isso que me faz continuar acreditando, sem negar que em toda área científica existem relações de poder que precisam ser reveladas e compreendidas.”

Sobre ser jornalista e virar antropóloga na primeira pesquisa de campo na Câmara Municipal do RJ:

KK — “…uma casa legislativa é um espaço extremamente restrito e o meu crachá [de jornalista] abriu portas. O difícil era dizer para as pessoas: ‘Olha, quero conversar com você, mas isso não vai sair em nenhum jornal’. Aí os vereadores respondiam que não tinham tempo para conversar comigo. Isso foi muito revelador. Hoje, entendo melhor que quem somos provoca uma série de situações no campo que são indissociáveis do conhecimento que produzimos.”

Comentei com a Diana como fui acolhida pelo professor Gilberto Velho no Museu Nacional, apesar da precariedade da minha formação. Além dele, devo demais a professores como Moacir Palmeira, Luiz Fernando Dias Duarte e Lygia Sigaud. Eu diria que todos, assim como a Maria Claudia Coelho (minha professora na graduação), me ensinaram que a antropologia é uma área conectada com a história, a sociologia, a política, a literatura, a arte etc. Essa perspectiva foi fundamental para que eu pudesse fazer a virada para o desenho:

KK — “Em 2011, fui a Portugal a trabalho e lá participei de um evento de desenho urbano, o segundo encontro internacional do grupo Urban Sketchers. Assisti a uma série de palestras, de pessoas que não eram cientistas sociais, mas que me abriram para a ideia de que o desenho poderia ser uma porta para conhecer o mundo, que podia ser uma ferramenta de renovação da antropologia pelo grafismo. Voltei dessa viagem e, apesar de já ter um projeto de pesquisa pronto sobre arquivos políticos, resolvi escrever um projeto novo sobre “antropologia e desenho”. O projeto foi aprovado e elogiado pelo CNPq. Conforme fui amadurecendo, tive a ideia de criar uma disciplina na graduação voltada para o tema. Comecei em 2013 e continuo até hoje.”

Depois de falarmos mais do mundo acadêmico, Diana me perguntou por que criei esse blog:

KK — “O blog surgiu da minha vontade de juntar o desenho com o texto. (…) Foi um espaço que comecei com zero expectativas, simplesmente para me obrigar a escrever um texto e produzir um desenho toda semana, tentando me inserir também no mundo do desenho onde naquela época era obrigatório você ter um blog.

O primeiro post de sucesso aconteceu em dezembro de 2013. Fui dar uma palestra e me colocaram no último horário do último dia do evento, a plateia praticamente vazia. Eu tinha tido um grande trabalho pensando no roteiro e desenhando à mão todos os slides. Como quase ninguém assistiu ao vivo, resolvi colocar no blog o post Dez Lições da Vida Acadêmica. Foi o primeiro que viralizou, e hoje tem mais de 20 mil views. A partir disso, percebi como havia uma brecha no mundo acadêmico para falar com mais leveza e humor sobre a vida acadêmica.”

Contei para a Diana que a coragem de ser mais irreverente veio também do meu contato com o Howard Becker. Uma coisa que acabei não contando na entrevista foi que o Howie (como ele gosta de ser chamado) uma vez me provocou, questionando por que no Brasil os intelectuais passam a vida toda trabalhando com um tema só. Comecei a respondê-lo de um jeito meio formal, dizendo que era dificuldade de verba de pesquisa etc., e que isso me aborrecia também. Ele se virou para mim e perguntou: “– Por que você não faz de outro jeito?”

Essa conversa ocorreu durante a entrevista que fiz com ele em 2008, por ocasião de seus 80 anos. Naquele dia, ele plantou uma ideia na minha cabeça — algo que foi frutificando nas mudanças que se seguiram em direção ao desenho e à pintura. Como lembro na entrevista à Kula, o próprio Howie é extremamente inovador em sua prática, estudando temas tabu, circulando artigos por e-mail e no seu blog.

Diana perguntou ainda sobre como surgiu o assunto da saúde mental aqui no blog:

KK — Tudo começou por causa de um post escrito a partir do encontro com um ex-aluno da graduação que estava fazendo seu Doutorado. Encontrei com ele no IFCS e ele estava visivelmente mal. Resolvi publicar no blog uma Carta a um jovem doutorando. Nesse post, que também viralizou, eu falo de todos os problemas de saúde e emocionais que eu mesma passei no Doutorado.

(…) Está complicado para os alunos fazerem um curso de Ciências Sociais no Brasil hoje. É desafiador você segurar a saúde mental num contexto em que a pesquisa em Sociologia é considerada uma ‘ferramenta do mal’ pelos setores que ocupam os espaços de poder na sociedade.

Para terminar, respondi à Diana qual conselho eu daria para quem está lutando para permanecer na antropologia e na universidade:

KK — “Um bom conselho é você buscar aquilo que te afeta, aquilo que te mobiliza afetivamente, para que a vida acadêmica tenha o seu lado de prazer, de construção, de emoção, porque sem isso você não segura o lado do sofrimento. (…) Além de muita determinação, paciência, foco e calma, é importante se cercar de pessoas que compartilham essa paixão com você, porque precisamos de grupo, de redes de apoio. (…) Primeiro você precisa viver, estar bem, se alimentar, dormir, estar inteira e não esquecer disso.”

Encerramos conversando sobre a importância de poder desacelerar para se aprofundar na pesquisa. Contei que valorizo muito a autonomia de pensamento, e que alunos têm sim direito de se tornar autores. Às vezes é bem difícil aceitar isso, mas repito: “não importa se já escreveram antes”. Os encontros autorais, bibliográficos e pessoais são únicos e merecem ser analisados e descritos. Não devemos nos censurar por querer produzir: “você pode prestar contas para a academia sem se anular, sem apagar a sua singularidade”.

Para ler a entrevista completa: A antropologia como uma forma de olhar o mundo: uma conversa com Karina Kuschnir. Entrevista concedida a Diana B. Mello. Kula. Antropología y Ciencias Sociales, nº 20/21: Especial aniversario. Diciembre, 2019, p. 22-29.

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A revista Kula é feita por alunos de pós-graduação de diversas instituições universitárias na Argentina, mas aceita artigos em português. A chamada para o próximo número está aberta!

E-mail para contato: revistakula@gmail.com

A Diana Mello está no Rio fazendo trabalho de campo até final de fevereiro. E-mail para contatos: didibmello@gmail.com

6 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-e-dignas-de-nota da semana:

♥ Holly Exlley, uma das minhas aquarelistas preferidas do You Tube, lançou um vídeo novo com time-lapse de pintura.

♥ Terminamos a 6ª temporada de Brooklyn 99 e começamos a 3ª de Mrs. Maisel. Que produção, que diálogos! É um show.

♥ A Public Domain Review fez uma foto-montagem divertida e listou vários autores, artistas e músicos que entram em domínio público em 2020 (em inglês).

♥ A Valéria Campos do blog 1 Pedra no Caminho publicou (em co-autoria com Fernanda G. Matuda) um artigo bacana intitulado Uso de podcasts como potencializador do desenvolvimento de gêneros orais em aulas de língua portuguesa no ensino médio. Ela fez um resumo com destaques do texto aqui. Achei uma reflexão super bem-vinda também para aulas de graduação.

PS: A professora Julia O’Donnell (IFCS/UFRJ) fez um projeto com podcasts numa turma de Antropologia Urbana em 2019-2. Quem sabe ela escreve um relato para o blog? O que vocês acham?

♥ Por falar em podcasts, Daniela Manica (Labjor/Unicamp) e Soraya Fleischer (UnB) coordenam o novíssimo Mundaréu, podcast de divulgação científica sobre Antropologia. Super inovador, entrevistando antropólogas e seus interlocutores nessa primeira temporada. Uma alegria de ouvir!

♥ Em 2020 retomei minhas práticas de GTD (sigla de Getting Things Done). Já ouviram falar? A Thais Godinho explica super bem no blog Vida Organizada ou no You Tube (versão curta / versão longa). Eu não sigo tudo certinho, mas gosto da filosofia de buscar tranquilidade e foco para fazer aquilo a que você se propõe. Nada a ver com produtivismo. Como diz a Thais no primeiro vídeo:

“Às vezes, a coisa mais importante que você tem para fazer é não fazer nada; é descansar.” (Thais Godinho)

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Hoje não tem “sobre o desenho”, porque a ilustração foi a capa da revista Kula. Adorei as linhas sobrepostas da logomarca que, assim como a capa, foram criadas pela designer Valeria Mattiangeli.

Tenho desenhado o projeto “50 Pessoas” e compartilhado no Stories do Instagram. Já já trago as imagens juntas pra cá. Boa semana, pessoal. ☼

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “A antropologia como uma forma de olhar o mundo – minha entrevista a Diana Mello para a revista Kula”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3P6. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Calendários 2020 de Janeiro a Dezembro

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Para quem gosta de imprimir os calendários, seguem abaixo os PDFs de todos os meses de 2020 para download:

Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro.

Utilizei imagens anteriores, aproveitando o Photoshop para acertar as cores, ocupar melhor os espaços e clarear o branco do papel. Também marquei com desenhos os principais feriados de 2020 no Brasil. Espero que gostem!

Quem sabe agora vou começando a desenhar 2021 no ritmo certo: com calma. ♥

Muito obrigada pelas mensagens tão positivas pelo post de ontem. Continuar a desenhar e escrever voluntariamente aqui no blog é um dos meus focos de 2020.

Minha palavra-chave nos últimos anos têm sido “força”, mas estou cansada de tentar ser forte o tempo todo. Pra 2020, estou querendo liberdade e leveza.

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Revendo os calendários, amei os passarinhos que ficaram no mês de abril. Essa duplinha fofa (acima) parece que tá conspirando: — Bora voar?

Seguem todos os meses em imagens para vocês verem melhor:

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Sobre os desenhos: Quase todos os desenhos foram feitos com canetinha nanquim à prova d’água 0.05 (Pigma Micron ou Unipin) e coloridos com lápis de cor em papel A4 90gr comum. O único mês feito com marcadores é o de maio (tema Matisse), pois as cores tinham que ser bem fortes e sem textura.

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “Calendários 2020 de Janeiro a Dezembro”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3NC. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Férias de professora

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Quem reconhece uma sacolinha lotada assim, levanta a mão! Taí a imagem que sintetiza as minhas “férias” e a de quase todos os professores que conheço. Pilhas de trabalhos pra corrigir em casa, e a ilusão de que vamos terminar artigos, entregar pareceres, enviar relatórios, marcar orientações e, quem sabe, dar um gás na pesquisa e até uma arrumada nos programas de curso do semestre que vem. [Pausa para suspirar.] Alguém se identifica?

Confesso que pesquei essa listinha de um amigo querido, que me mandou um áudio comentando tudo que ele tinha pensado em fazer nesse recesso da universidade. Ri sozinha de nervoso ouvindo a mensagem no zap. Pessoa mais doida é professor… Não sabe fazer conta da imensidão do próprio trabalho, não sabe dizer não pros textos, pros alunos, pros amigos que pedem pareceres, nem pra si mesmo…

A maioria está assim por conta da precarização do trabalho, claro. O que mais tem é professor com 30 turmas em três empregos. Mas nem todos!

Muitos, como eu, se atolam porque lidam com assuntos e causas que os apaixonam. Só que a vida é como um grande barco de restaurante japonês: para comer as peças que mais gostamos, temos que entubar um monte de kani.

E olha que eu me acho super organizada. Tenho um sistema com todas as informações sobre o que preciso fazer, quando, onde e como. Sei quanto tempo levo nas tarefas e quais compromissos não posso ou não quero aceitar. Tenho clareza sobre as minhas prioridades — filhos, depois eu mesma (amor/saúde/arte incluídos), aulas e alunos, atividades da universidade em geral, a casa e o mundo.

Mas a vida e a antropologia estão aí pra nos lembrar que os laços obrigam. Se amamos nossos bichos, nos cabe cuidar. Se vamos publicar num livro da Routledge (sim, viva!), precisamos fazer o parecer que nos pedem. Se nos dedicamos às aulas, temos que corrigir os trabalhos à altura. A cada “sim”, temos uma dívida em potencial cozinhando. É preciso levar as obrigações a sério, já dizia a saudosa professora Lygia Sigaud.

A doença da Lola me impactou, alguns alunos atrasaram… e a sacolinha cheia de trabalhos foi ficando esquecida num canto. De repente, me pareceu tão bonita, recheada assim. Precisei desenhar e pintar antes de começar a corrigir. Justifiquei pra mim mesma que estava tudo bem, que o prazo ainda não chegou, que tem trabalhos vindo por e-mail ainda, porque foi pro brejo a minha rigidez de professora jovem e determinada. Como diria meu ex-terapeuta, “– É uma vitória quando você chega atrasada, Karina.” Taí o motivo do atraso, alunos queridos. Fiquei pintando os trabalhos de vocês e escrevendo post. Tudo em nome da arte, porque só a arte e os estudos nos salvam.

A pequena “natureza morta” que ilustra esse post une essas duas coisas: arte (a sacolinha preta foi presente do Simpósito anual dos Urban Sketchers em Manchester, de 2016, onde dei uma palestra); e estudos (os trabalhos de duas turmas maravilhosas de 2019-1, um semestre em que me dediquei a estudar e me renovar). Juntos, esses objetos me lembram do motivo de eu estar aqui pensando, escrevendo e desenhando em público, enfrentando a timidez e a preguiça. rs

Obrigada pela companhia, pessoal. Boa sorte e muita tranquilidade para todos que estão às vésperas das seleções de mestrado nesse final de julho. Meu coração está com vocês. ♥

PS: As notas de já foram lançadas, ufa! E pra quem gosta do tema #vidadeprofessora, tem esse post Sete coisas invisíveis na vida de uma professora e esse Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora, além de todos os marcados com a #mundoacademico.

6 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-ou-dignas-de-nota — Amo blogs e newsletters. Aí vão algumas que são ótimas companhias para ler nos momentos em que vocês precisarem de bons conteúdos pra se distrair, sem precisar recorrer às redes sociais:

* Duas Fridas: newsletter do blog Duas Fridas da Helê e da Monix. Sempre com temas ótimos, bom humor e com lembranças maravilhosas de posts passados que me fazem sorrir e esquecer o caos dos tempos atuais.

Ainda não acabei de pensar nisso: newsletter do blog Papiro Papirus, da Rita Caré, portuguesa, artista, bióloga, comunicadora, cheia de humor e maravilhas a nos deliciar com suas descobertas e reflexões.

Eva-Lotta: newsletter do blog da ilustradora alemã Eva-Lotta Lamm que ama o mundo das anotações desenhadas, aprender novas habilidades, pensar o cotidiano de forma lúdica e ensinar. Uma lindeza! (em inglês)

Austin Kleon: newsletter semanal do blog do autor que descobri por meio da Rita Caré (acima) — obrigada, Rita! Traz sempre uma listinha de dez sugestões de leituras, links, imagens interessantes para o autor. Voltada para quem ama livros, arte, educação: ou seja, nós! (em inglês)

Viktorija Illustration: newsletter mensal do blog da ilustradora Viktorija, baseada em Londres. Traz propostas de exercícios, inspirações, dicas e sugestões de materiais de arte. É bem despretenciosa e bonitinha. (em inglês)

• E como faço para saber dessas coisas? Utilizo um app de blogs chamado Feedly, onde “assino” os blogs que gosto, separados por assuntos. Leio no notebook, mas é também o meu app de celular preferido, seguido do Kindle, cheio de amostras de livros que não vou comprar!

E vocês, quais newsletters me indicariam?

Sobre o desenho: Fiz primeiro um rascunho rápido com lapiseira observando a sacola cheia com os trabalhos de uma turma, apoiada na pilha de trabalhos da outra (o caderninho vermelho foi feito por uma aluna super querida da aula de antropologia e desenho desse semestre, uma graça).  Depois desenhei por cima com caneta de nanquim permanente Unipin 0,2, em verso de um papel do bloco Canson Aquarelle XL (capa turquesa). Depois apaguei o lápis e pintei com vários materiais: a sacola preta e o caderno vermelho foram pintados inicialmente com uma guache acrílica (Acryla Gouache, da Holbein, que ganhei ano passado e só agora comecei a experimentar); as letras brancas na sacola foram feitas no dia seguinte (para a base secar bem primeiro!) com caneta Gelly Roll 0,8 branca da Sakura. O restante foi colorido com lápis de cor (os detalhes dos trabalhos) e aquarela (especialmente as sombras).

Você acabou de ler “Férias de professora“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2019. “Férias de professora”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3L4. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Aceitação pelo método Cupim-Kondo

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“Quem diria que as máculas vivem e ajudam a viver.” (Frida Kahlo)

Estou passando por uma fase de auto-aceitação. Não, não fiz dieta, nem ginástica, nem ganhei prêmios.

O processo veio do luto, da passagem do tempo, dos feminismos renovados, da leitura e escuta de mulheres e pessoas negras, das dores e alegrias de assistir ao crescimento dos meus filhos e de uma simples descupinização.

Apesar de já me considerar minimalista, em janeiro e fevereiro encaramos uma descupinização (há muito adiada) de todos os velhos armários do apartamento. Foi uma verdadeira revolução Cupim-Kondo! (Na verdade, o problema era “broca”.) Tivemos que tirar tudo dos quartos, um a cada duas semanas, para não gerar risco aos gatinhos. Deu um imenso trabalho, mas foi.

Apesar de pouca, havia acumulação sim. Na parte de cima do meu armário, e mesmo nos cabides, tinha calças, saias e blusas que “um dia me couberam tão bem”, sapatos comprados para o casamento de uma prima, tecidos que “qualquer hora vou costurar”, mochilas tipo “quem sabe eu uso”, sandálias que “o sapateiro consertará”, roupinhas das crianças “que um dia eles vão gostar de rever”…

Separei apenas uma caixa pequena de lembranças para cada pessoa da casa. (Na minha, guardei as peças com as estampas mais bonitas que “um dia pretendo desenhar” rs.) No mais, doeei tudo. Contando por alto, devem ter sobrado umas 20 blusas, 6 calças, 2 vestidos, duas sandálias, 1 tênis, 3 shorts, 2 saias, alguns casacos, uns sapatos de sair. Só. Que leveza abrir o armário de manhã!

Estou num processo de aceitar que não vou voltar a ter 32 anos, que tenho sono de tarde, que durmo pior, que meus cabelos estão quase brancos, que preciso de mais tempo para ir a médicos. Em compensação, sinto-me mais confiante pra estar em sala de aula, para cuidar, conversar, acolher e saber que tudo isso me faz bem.

Há tempos sei que a vida é feita de oportunidades e escolhas. Mas confesso que, ainda assim, tem um lado meu que continua querendo agradar, me “enquadrar”, dar conta, criar regras, mesmo para as coisas boas, como ser mãe, cuidadora da casa, funcionária pública, quase-artista-escritora.  

Não é possível. É um desperdício de energia lutar contra nossa própria humanidade. Preciso de tempo pra chorar, pra dormir, ir ao banheiro, namorar, pegar o ônibus e o metrô, viver sem me atropelar (tanto).

Que possamos, como ouvi no evento de ontem, “não desistir de resistir”; não desistir de lutar, aprender, mudar, rever e até, quando for o caso, de aceitar.

Sobre a citação: A frase da Frida Kahlo que abre o post está no livro “Frida Kahlo: uma biografia”, escrito e ilustrado por María Hesse (ed. LP&M). Ganhei essa preciosidade (é lindo demais!) de surpresa, de um amigo a quem ofereci um livro que descobri ter duplicado (na grande missão Cupim-Kondo que se espraiou pelas estantes também).

Sobre o método Cupim-Kondo: o nome é uma brincadeira com a Marie Kondo, organizadora profissional que ficou mega famosa com a série da Netflix sobre seu método. Li os livrinhos dela emprestados e gostei principalmente do segundo. Não tive paciência de ver a série toda porque sinto náuseas com o consumismo excessivo das famílias de classe média norte-americanas (apesar de um ou outro episódio ser melhorzinho).  Com a necessidade da descupinização, percebi que eu estava em estado de negação, que precisava de ser mais humilde. Mesmo me achando “super organizada”, vi que guardava coisas que não tinham mais sentido, numa tentativa de voltar a ser alguém que não serei mais.

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Sobre o desenho (na verdade, pintura): Aquarela “para relaxar”, feita sem compromisso com o resultado, em dezembro/2018. Cores diversas pintadas sobre um círculo feito a lápis (depois apagado; no original aprox. 11 x 11 cm) no verso de um papel Canson XL Aquarelle. Escaneei, aumentei um pouco o contraste para ficar mais próximo do orginal e montei em várias repetições no Photoshop.

Podem deixar que não esqueci do calendário: prometo postar até domingo!

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2019. “Aceitação pelo método Cupim-Kondo”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3K2. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora

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Há 48 semestres que me preparo para entrar em sala de aula como professora, já descontando os dois de licença-maternidade e os dois do pós-doc. É sempre difícil. Minha síndrome de véspera não falha: ansiedade, insônia, medo… mas um pouquinho de curiosidade e antecipação positiva também!

Como prometi para vocês (e a mim mesma) que esse blog deveria ser útil, aí vai minha checklist* de início de semestre letivo para professores:

1) Criar as pastas do curso no computador e na nuvem — Minha estrutura em 2017 estava assim:professora15dicas_01

As pastas iniciais têm o nome do curso primeiro pois serão compartilhadas. O link que dá acesso às três primeiras é enviado aos alunos para que enviem trabalhos (pasta Grupos) ou baixem os PDFs (pasta Textos). Num programa sobre imagens acho mais razoável pedir trabalhos apenas em formato eletrônico para não gerar despesas de impressão. Na pasta Aulas, adiciono meus fichamentos ou .ppts de aula que, em alguns casos, compartilho com a monitora do curso. A pasta Programa só tem as versões do programa mesmo (sempre acabo tendo duas ou três). E a pasta Turma e Notas fica com a planilha de presença e avaliações. Já tive semestres em que ficou tudo embolado numa pasta só, mas essa estrutura facilita achar as coisas durante a correria do semestre.

2) Criar um marcador no Gmail para o curso — Outra tarefa fácil, mas que facilita muito a vida durante as aulas. O meu setup de 2018-2 está assim:

professora15dicas_02

Coloco essa @número para ordenar as pastas iniciais do meu jeito (e não em ordem alfabética). Para os cursos, coloco um 0 (zero) na frente para que sejam as primeiras. Seleciono uma cor diferente para identificar logo as mensagens. Vou jogando ali os programas enviados, os e-mails dos monitores, e depois toda a correspondência oficial (enviada pelo sistema da universidade) e as minhas com os os alunos. Dá um trabalhinho no início, mas facilita demais a vida conforme vai chegando a época das avaliações! (E os dramas…)

3) Programa de curso — Claro que esse arquivo precisa estar pronto com mais antecedência, mas sempre dá para rever, retirar ou adicionar textos e informações na véspera de começar as aulas (e até durante). Vejam aqui um exemplo do programa e Antropologia e Desenho de 2016.

(Quando dei meu primeiro curso, recebi um programa para seguir. Eram tempos pré-internet e eu era quase da idade dos meus alunos. Hoje em dia, montar uma bibliografia é uma espiral de ansiedade. Poder acessar todos os programas de curso de todas as universidades do mundo dá uma depressão… São tantas escolhas e, ao mesmo tempo, bate aquela real de “só sei que nada sei”!)

4) Calendário de aulas — Sempre crio uma planilha com todas as datas de aulas, aproveitando para ver se haverá feriados ou eventuais ausências devido a compromissos acadêmicos. Assim, consigo planejar o número de aulas e as compensações necessárias para chegar na carga horária correta. Essa mesma planilha servirá para os itens 5, 6, 7 e 8 (ver exemplo adiante).

5) Planejamento aula-a-aula —  Pra mim, um curso não é uma lista de textos. Gosto de planejar exercícios, atividades lúdicas, tempo de orientação, devolução das correções, aulas com convidados, filmes etc. Mas tem uma hora que preciso fechar essas datas para providenciar o que for necessário e deixar monitores e alunos avisados. Claro que sempre fica alguma coisa para resolver mais à frente, é normal!

6) Diário de aulas dadas — Meu semestre ideal é quando tenho tranquilidade e foco para escrever sobre as aulas dadas. Como foi a reação dos alunos? O texto novo rendeu? O exercício foi interessante? Tive alguma ideia para uma futura aula? Às vezes consigo fazer um arquivo separado, mas na maioria dos semestres faço algumas anotações na própria planilha do calendário/planejamento. No exemplo abaixo, a estrutura da planilha que utilizei em 2017-1, anotações das aulas 3 e 4:

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A coluna “ok” é para marcar que a aula foi dada. Tem coisa melhor do que ticar uma tarefa feita? Espero que dê para ler ao clicar na imagem!

7) Controle de presença — Há alguns anos passei a fazer minhas próprias listas de presença ao invés de utilizar as da universidade. Baixo os PDFs oficiais e copio/colo os nomes numa aba da planilha da turma, acrescentando as colunas com as datas, feriados etc. Além da praticidade, imprimo com espaçamento e fonte mais amigáveis para meu astigmatismo e miopia. Um exemplo:

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8) Controle de Notas — Na mesma planilha (acima), incluo colunas para juntar os alunos em grupos (quando é o caso), anotar entrega de trabalhos (no exemplo abaixo, T1 e T2), os graus atribuídos (N1 e N2) e as médias finais. Aí vai uma amostra com as cores separando os grupos para vocês verem melhor:


professora15dicas_05.jpg

9) PDFs e Textos — Uma das coisas mais chatinhas de ser professora é ter que providenciar o material que os alunos precisarão consultar. Como estou sempre modificando minhas bibliografias, costumo fazer em duas etapas, deixando as primeiras semanas prontas e acrescentando as demais quando termino de defini-las. Gosto de ir sentindo a turma e de retirar ou acrescentar textos conforme o rumo das discussões.

10) Planejar semana — Como expliquei nesse post, ser professora exige um imenso trabalho nos bastidores. Preciso separar pelo menos um dia para me dedicar às aulas da semana, seja para ler, reler, preparar, corrigir exercícios, providenciar material, responder e-mails dos alunos, conversar com monitores etc. Dependendo do momento do semestre e do tipo de curso, esse volume se multiplica por dois, três ou mais. Mas tento ter pelo menos um dia em que não marco nenhuma outra atividade. Normalmente separo as segundas-feiras pra isso. Considero uma felicidade acordar numa segunda (!) tendo um dia calmo pela frente, relendo autores e escrevendo sobre temas de que gosto.

Sei que é um enorme privilégio estar numa universidade que me permite ter tempo de preparação e número de turmas compatível com pesquisa, ensino e extensão. Já estive em situação de ministrar 26 horas semanais de aula (nível universitário). Quando se tem dois ou três empregos simultâneos, o único tempo de estudo/correção é sábado e domingo. É ótimo ter trabalho, claro, mas saúde deveria vir primeiro…

11) Roupas — A atividade de professora nos expõe muito… Mesmo eu, que não gosto de consumir, me sinto mal de não ter uma roupa decente para dar aula. As blusas de vocês também estão furando à toa? As minhas sim! Antes do semestre começar, preciso ter pelo menos uma calça e algumas camisas que não estejam apertadas, com o botão faltando, com alguma parte rasgada ou manchada. Não é bobagem: quando a gente sai de casa se sentindo bem dentro das próprias roupas, isso se reflete numa segurança maior em sala de aula. (Desculpem se esse ponto for óbvio pra vocês, mas eu precisava escrever! Esse item 11 é terapia pra mim mesma, pois fui me tornando muito crítica ao consumismo e às vezes acabo exagerando.)

12) Saúde — Essa foi minha primeira lição como professora, pois fiquei totalmente rouca quando comecei. Aprendi a cuidar da minha voz, fazendo pausas e bebendo água durante a aula. Também tenho na bolsa um kit-saúde preventivo. Como ainda temos quadros de giz no IFCS, esse kit de auto-cuidado inclui: pastilhas de hortelã sem açúcar, creme de mão, álcool gel, lenço de papel, lenço umedecido, remedinhos diversos (tipo Tylenol e de alergia), além do básico escova/pasta de dente/batonzinho. E vocês, o que levam?

13) Papelaria — Chegamos na parte boa! Quem não gosta de dar uma passadinha na papelaria? Começo de semestre é uma ótima desculpa para renovar o que estiver faltando: caneta, lapiseira, grafite, borracha, post-its, iluminadores, marcadores de quadro branco, apagador, pasta com elástico (costumo usar uma cor para cada curso, tentando reaproveitar dos semestres anteriores). Esse ano renovei meu estojinho (um bem básico de plástico e zíper, da Yes), e também tenho sempre um pen-drive e carregador de celular extra no trabalho.

14) Mochila — Bolsa, pasta, mochila… professor está sempre carregando papéis, trabalhos, livros… No mundo ideal, eu andaria com uma bolsa pequena e uma sacola de pano separada para o material de aula. Mas com o histórico dos ombros doloridos e algumas dores nas costas, estou indo trabalhar de mochila. Herdei uma bem simpática (e leve) da minha sobrinha que foi morar fora. ♥

15) Livros — Bem, esse item não se compra no início do semestre… Na verdade, uma ida à livraria (ou sebo ou biblioteca!) é um prêmio pessoal por essa preparação toda! ☺ Observação sobre o anti-consumismo do item 11: comprar livros não é gasto, é investimento! Já frequento a biblioteca do meu instituto toda semana, mas essa listinha me lembrou que preciso explorar mais por lá.

Espero que esses lembretes sejam úteis!

E vocês? Fazem alguma coisa ou têm dicas que esqueci de anotar? Me mandem ou escrevam nos comentários: vou adorar saber da rotina (e das maluquices) de cada um. Espero que não tenham me achado a doida-da-organização!

* Checklist é uma listinha de lembretes para tarefas recorrentes. O objetivo não é ser super original, mas sim juntar um monte de pequenas tarefas numa lista só. Aprendi lendo esse artigo aqui (em inglês), mas no blog da Thais Godinho tem explicação simplificada (em português). Nunca mais parei de fazer as minhas. Tenho várias para diferentes situações. Me avisem se acharem interessante o tema que eu trago alguma outra pra cá.

Sobre o desenho: Esses posts sobre vida acadêmica acabam me exigindo muito na hora de ilustrar, socorro! Fiz uns esboços a lápis primeiro, depois cobri com uma canetinha azul gel Muji 0.38. Deixei secar e passei uma aguada bem suave de aquarela azul (French Ultramarine) com um pincel Winsor & Newton University Series n.1. Como papel, utilizei o verso (que é menos rugoso) do bloco espiral da Canson XL Aquarelle (capa azul turqueza).

Você acabou de ler “Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Quinze coisas para fazer na volta às aulas como professora”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3GO. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Junho/2017!

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Pessoas queridas, junho chegou, viva! O calendário demorou um pouquinho porque fiquei sem internet hoje. Espero que traga sorte e alegria para vocês. O desenho foi inspirado no cartão de dia das mães que ganhei do Antônio (feito por ele). Fizemos a adaptação na folhinha desse mês, a quatro mãos. Não marquei o feriado de Corpus Christi (15-16) porque temos visitantes de outros países aqui no blog. Mas é tão boa a perspectiva de uma semaninha mais curta, concordam? Professores e alunos que me lêem: as férias estão chegando!

Para facilitar a impressão, é só clicar no pdf.

Até semana que vem!

Sobre o desenho: Linhas feitas com canetinha de nanquim permanente Pigma Micron 0,1, depois coloridas com lápis-de-cor Polychromos Faber-Castell. Antes de desenhar, imprimo (em papel comum A4) o calendário do mês gerado por um programinha antigo chamado Above&Beyond (na verdade, em janeiro, imprimi todos os 12 meses do ano de uma vez).

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2017. “Junho/2017!”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: http://wp.me/p42zgF-2ba. Acesso em [dd/mm/aaaa].
 

 


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5 razões para dizer sim e Maio/2017

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Certa vez, minha amiga Claudia contou que sua neta mais velha era o oposto dela: adorava colocar salto alto, usar frufrus e passar maquiagem. Quando a avó hippie lhe perguntou porque ela fazia isso, a resposta foi curta e direta: “Porque sim, porque eu gosto, vó!”

Que simples. Isso de agradar a todo mundo é uma areia movediça que engole o nosso cérebro. No cotidiano, no mundo acadêmico, na vida. Com minha mania de querer justificar o que faço com base nos Valores Maiores do Mundo, vivo atormentada. Tocar violão com a Alice, comprar presentinho para os amigos, ir para a academia, desenhar e escrever para o blog — tudo que não se encaixa na categoria “útil/obrigatório” na minha agenda vira um debate interno: por que, por que, por que? Ainda estou aprendendo a dizer: “porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem”. Meninas que me leem: vamos treinar dizer essa frase em voz alta? Aí vai em destaque:

“Porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.”

Normalmente, numa revisão de texto bem-feita, eu cortaria o pronome “eu” dessa frase, já que há uma redundância em escrever “eu gosto”. No entanto, resolvi deixar redundante mesmo. Afinal, na contramão do mundo narcisista e egocêntrico, aqui no blog somos uma turma de problemáticos que precisa aprender a se aceitar.

Portanto, vamos treinar dizer, em várias situações:

  1. Vou fazer [tal e tal coisa] porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.
  2. Desejo [isso e isso] porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.
  3. Vou me empenhar [em tal e tal coisa] porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.
  4. Vou me doar [para essa causa] porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.
  5. Gosto [dessa pessoa] porque sim, porque eu gosto, porque me faz bem.

E aí, conseguiram? É simples, é bobo, mas é forte, né? Notem que acrescentei na frase da neta da minha amiga a expressão final “porque me faz bem”. Sem esse detalhe, nosso eu destrambelhado correria o risco de sair por aí fazendo muitas, muitas besteiras. Não sei o de vocês, mas o meu com certeza. Por isso adicionei esse lembrete; para não me esquecer de que nem tudo que gosto, ou acho que gosto, me faz bem; e, para essas situações, talvez seja melhor dizer um singelo “não”.

O calendário de maio — esse mês que é o preferido de tantas pessoas e também um dos meus — foi inspirado num acontecimento das últimas semanas. Ajudando a Alice a arrumar as coisas da escola, percebemos que o lápis-de-cor vermelho dela estava no finzinho. Fui espiar na lata em formato de Bob Esponja onde guardamos lápis-de-cor usados. Ao procurar algum da cor vermelha, só achei cotoquinhos antigos, pequenos pedaços de memórias da vida das crianças. Fiz até uma foto para mostrar pra vocês.

mai2017 foto lapis akc 2017-04-28

Ainda bem que aquela Marie Kondo não faz sucesso aqui em casa. Ela jogaria tudo isso no lixo. Nós não conseguimos. Não foi à toa que outro dia a Alice tirou dez no trabalho autobiográfico para a aula de história. Um dos critérios de avaliação era a diversidade de fontes. Nem preciso dizer que tínhamos ticket de teatro infantil, ingresso de museu e até xerox do passaporte português do Ulisses. Imagina a felicidade do professor! E da mãe! Quanto ao lápis vermelho: consegui comprar um avulso na papelaria JLM, no Largo do Machado.

Sobre o desenho: Para o desenho no calendário, fiz os mini-lápis com uma canetinha preta de nanquim permanente Pigma Micron 0.2. Depois o Antônio me ajudou a escolher as cores e colorir. Tentamos sair do óbvio, explorando a caixa de Polychromos da Faber-Castell, utilizando ocres, sépias, sanguínea, turquesa, verde cobalto, entre outras. No final, fiz as sombras com uma caneta pincel Tombow cinza n.79.

Para imprimir o calendário, cliquem no .pdf ou na imagem acima (em .jpg).

6 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-ou-dignas-de-nota das últimas semanas:

♥ Adorei o post Coordenando, escrito pelo João Marcelo Maia, avaliando o aprendizado positivo na sua gestão como coordenador do curso de Ciências Sociais da FGV do Rio. Acho importantíssimo valorizar o trabalho administrativo feito por professores, num campo que o torna invisível pelos critérios de agências e fóruns científicos. Li uma parte para minha turma no IFCS e tivemos uma boa conversa sobre o tema da saúde mental no mundo universitário. Em breve, conto aqui.

♥ Continuo na “dieta” de abstinência do Facebook e Instagram. Eu já tinha um uso parcimonioso, mas ando numa de escrever e ler mais, com menos interrupções. Também gosto da ideia de parar de enriquecer Zuckerberg e cia. Confesso que não sinto saudades dos feeds, mas sim dos amigos que fiz por lá… ainda estou na dúvida se devo (e como) voltar.

♥ Por falar em escrever mais, retomei a prática de escrever pelo menos 300 palavras todos os dias (de semana!). Utilizei um método assim na época em que escrevi as teses de mestrado e doutorado. É impressionante como dá para cumprir esse hábito, às vezes, em apenas 15 minutos! Além do prazer de “ter escrito”, acabo dando conta de registrar logo algum acontecimento do dia anterior que pode ser útil depois, como resumo de aulas dadas, ideias para o blog, aulas e planos futuros etc. Claro que, em alguns dias, fico empacada, digitando bobagens e tudo bem.

♥ Descobri um guia de Emojis fofo para usar no Todoist, o aplicativo que uso para anotar tarefas. Para quem gosta desse tipo de utilidade inútil, também existem guias de códigos-Alt para digitar símbolos em teclados comuns (como os coraçõezinhos — Alt-3 — dessa lista).

♥ Consegui convencer as crianças a dar uma chance à série Abstract: the art of design do Netflix. Muito simpática, pelo menos o primeiro episódio, com momentos que misturam documentário e animação.

♥ Pesquisando para dar uma aula, acabei assistindo a divertida palestra “Sua linguagem corporal molda quem você é“, da Amy Cuddy no TED Talks. Impossível não terminar sorrindo! ☺

Você acabou de ler “5 razões para dizer sim e Maio/2017“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2017. “5 razões para dizer sim e Maio/2017”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: http://wp.me/s42zgF-lapis. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Entrando em foco para Abril/2016

abril2016

Estou ficando uma pessoa insuportável que não come açúcar e acorda todos os dias às 6:00 da manhã, por motivo de idade e de colégio de filha. Quando o Antônio era pequeno, eu até levantava cedo, mas voltava pra cama correndo! (E a Alice me denunciava pra todo mundo, como já escrevi aqui.) Agora, às 7:15 já estou trabalhando e lendo sites tipo My Morning Routine, cheio de personagens horrivelmente certinhos. Escrevi para um amigo ontem: — Me ajuda, o máximo de rebeldia na minha vida está sendo acordar às 8:00 no sábado e entregar o calendário do blog atrasado!

Sem saber, a Andréa Cordeiro, que faz um trabalho lindo no grupo Bonequeiras sem Fronteiras, foi quem deu o empurrãozinho para essa vibe de produtividade. Ela me lembrou de  um blog que eu costumava ler há uns anos atrás chamado Vida Organizada, escrito pela Thais Godinho. Os assuntos são ótimos para quem está precisando de ajuda para gerenciar as mil demandas da vida.

Uma ideia simpática que importei de lá foi começar o mês fazendo uma listinha das coisas em que realmente preciso focar e me dedicar nos próximos 30 dias. Tento não escrever mais do que oito itens, pra ser uma lista de prioridades e não mais uma inbox abarrotada.

Comprei umas fichinhas na papelaria (5 reais o cento!), colei uns adesivos e comecei. Para vocês terem uma ideia, em março, listei sete objetivos: 3 pessoais, 1 do blog e 3 de trabalho. Depois acrescentei mais 3 de trabalho e os 4 aniversariantes do mês para quem eu queria comprar presentinhos. Ou seja, 14 itens. Parece pouco? Mas experimentem fazer… O resultado foi: completei 7, comecei 3, e ainda não cheguei em 4! Ou seja, para abril, vou tentar focar mais.

Para que serve tudo isso? Pra mim, essa listinha tem sido a bússola que me coloca de volta no caminho toda vez que as demandas externas me puxam pro lado (e isso vai desde navegar a esmo na internet até aceitar mais um parecer acadêmico). Fica mais fácil dizer “não” e, por mais paradoxal que pareça, também fica mais fácil dizer “sim” pra surpresas e boas oportunidades.

Bom final de semana, bom mês de abril!

6 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:

* Sabe aquele dia em que você sai de casa certa de que vai enfrentar trânsito, filas e atendentes de má vontade? Pois na quarta-feira, tive uma manhã feliz: ruas livres, banco sem fila, funcionários públicos de bom humor e, para completar, gatinhos fofos sendo bem cuidados por uma idosa no jardim da prefeitura!

* Dica de Netflix da minha dentista e amiga Lúcia Deluiz: a série inglesa Bletchley Circle, toda protagonizada por mulheres que trabalharam como decifradoras de código na Segunda Guerra Mundial. São só três ou quatro capítulos por temporada. Vi a primeira e achei bem simpática.

* Da organização da biblioteca do Gilberto Velho, a qual estou me dedicando algumas horas por semana: achei uma pequena coleção da obra do antropólogo Thales de Azevedo, com todos os volumes dedicados e autografados, cada um mais bonitinho que o outro. (Link para uma bibliografia completa do autor.)

* Graças ao Mauro Ventura, descobri o Facebook do jornalista Tom Cardoso, com histórias de morrer de rir! (Link)

* Essa semana vi um filminho com a história do ponto de exclamação! Muita gente do mundo das letras desdenha desse sinal, mas eu amo e adorei a homenagem! (Link)

* Quinta-feira estive na banca de doutorado do Ricardo Barbieri, com colegas muito especiais. Foi um momento de aprendizado e cordialidade, daquelas ocasiões em que nos sentimos felizes por escolher a profissão. Para completar, ainda soube que o blog tinha ajudado o casal — sim, porque a Taynah foi fotógrafa oficial da pesquisa!– a atravessar a tese com um pouquinho menos de estresse. Viva vocês, leitores!

Sobre o desenho: Calendário de abril em .jpg  e em .pdf. As imagens desse mês são inspiradas em estampas da marca de tecidos inglesa Liberty, que acho lindas! Desenhei primeiro com canetinha de nanquim 0.05 Pigma Micron. Depois colori com lápis CaranD’ache aquarelável e, em algumas cores, com pincel hidrocor Tombow, uma delícia de usar! Andei estudando para melhorar a qualidade da imagem no Photoshop. Me digam se está imprimindo melhor (isto é, com fundo mais branco e linhas mais nítidas por favor)!


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Tese sem CEP. Será que dá tempo? (Parte 1/2)

paninho

“Não é preciso muita força para fazer coisas, mas é necessária uma grande dose de força para decidir o que fazer.” Elbert Hubbard

Volta e meia alguém me pergunta:

— Será que dá tempo de terminar minha tese até o final do ano? ou …de fazer uma pesquisa em 6 meses? ou …de escrever a qualificação de doutorado até julho?

Penso muito sobre esses tempos, de vocês e os meus. Tenho chegado à conclusão de que o primeiro passo para se ter tempo (e fazer as coisas no tempo que queremos) é decidir primeiro pra onde vamos caminhar, qual é o nosso destino — no sentido de ponto de chegada.

Gosto de começar os exercícios etnográficos com os alunos pedindo para eles me dizerem qual é o CEP do local de pesquisa. Cep é ótimo: é específico, é preciso, é um código, é um espaço onde se chega num certo tempo por algum meio.

O problema é que a gente decide, digamos, ir à casa da Maria, em Maricá. É longe e no meio do caminho vamos parando na padaria, onde encontramos um amigo querido; depois passamos na farmácia… Às vezes nos distraímos tanto que até esquecemos que estávamos indo pra casa da Maria.

Com a tese, ou com qualquer projeto de médio/longo prazo, acontece muito isso! A vida cotidiana vai entrando no meio do nosso mapa e, quando nos damos conta… Qual era mesmo o nosso destino? Como o tempo passou tão rápido?

Nossa tese não tem CEP, né? A minha pelo menos não tinha. Era um pontinho lá longe depois de quatro — que pareciam longos — anos. E de repente esses “longos” já não existiam. O prazo ficou apertado! Várias vezes eu peguei estradas laterais que saíam do roteiro.

É muito difícil se manter fiel a um destino que leva tanto tempo para chegar e que exige tanto empenho para acontecer. Hoje em dia não tenho mais tese para terminar, mas continuo achando um grande desafio saber para onde quero ir e me manter nesse caminho, isto é, investir meu tempo nesse projeto.

Por isso, concordo tanto com a frase que abre esse post: o segredo é decidir pra onde queremos ir. Essa decisão por si só é uma fonte geradora de tempo, que nos mantém na rota do nosso desejo, seja ele qual for.

[…continua!]

E para quem se interessa pelo mundo acadêmico, o blog tem posts sobre como explicar sua tese, dicas para aproveitar a defesa de doutorado e outros textos sobre minhas experiências… nos truques da escrita, na elaboração de projetos, nas defesas de tese, nas dores de não passar, na falta de tempo, no ensino de antropologia e desenho, no aprender a desescrever, nas agruras de ser doutoranda, na vida dos alunos, no sorriso do professor, nas lições da vida acadêmica, na importância de não ser perfeito e nas muitas saudades de Oxford 1, 2, 3 e 4!

5 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-ou-dignas-de-nota da semana:

* Aprendi uma comidinha nova: semente de girassol crua (ou pode ser torrada) para colocar na salada ou para comer de lanche. É uma delícia e saudável.

* Ainda com energia para organizar a casa: pendurei quadros que estavam há mais de um ano no chão e coloquei um monte de ganchinhos na parede, finalmente estreando a furadeira que ganhei em 2015 — um sonho antigo!

* Escrevi um parecer de um artigo ótimo! É tão raro isso.

* Li um artigo muito bacana sobre Checklists, publicado na New Yorker.

* Vi um vídeo super criativo sobre como posicionar pessoas num desenho.

* E a melhor de todas: hoje estou voltando a publicar um post no dia certo, quarta-feira!

Sobre o desenho: Há tempos eu queria mostrar aqui como ficam lindos os pedaços de papel toalha depois de servirem de apoio para limpar os pincéis durante uma pintura em aquarela. Esse é o que estou usando no momento! É um papel toalha especial, um pouco mais resistente, que parece um tecido e dura bastante. Só comprei uma vez, e tenho o mesmo rolo até hoje. Acho que essa imagem vai para a página de Materiais aqui do blog. Como diz o Becker, mesmo uma peça aparentemente insignificante é essencial para uma quebra-cabeça ficar completo. Sem um paninho, a pintura não existiria. Achei que era uma boa ilustração para esse tema do tempo e do caminho.