Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Respirar, escrever, pontuar. E feliz dez anos do blog!

Já nas alturas, pára e respira. Quão difícil é subir a um monte. Que difícil é a busca de um espaço. Que difícil é a busca de si própria. Chamou a si todas as forças e continuou a subir.” (Paulina Chiziane, O alegre canto da perdiz, p. 211)

A maior dificuldade de escrita dos estudantes é com a pontuação. Não sei se sempre foi assim. Será que é mais um dos sintomas de pandemia prolongada. O ar nos faltou tanto que temos dificuldade de parar para respirar de novo.

Vou dar um exemplo. Pedi para os alunos descreverem acontecimentos do seu cotidiano. No trecho abaixo, demonstro os sinais da enfermidade (com redação fictícia):

“A consulta médica foi como esperado, conversamos sobre os sintomas e houve uma espera menor do que da outra vez e aí minha mãe chegou após o trabalho, e tivemos que ir ao ponto de ônibus mas não estava tão quente e foi agradável segurar sua mão e sentir seu apoio.”

Dá para entender? Dá. Mas pobres leitores! O problema é que 90% dos estudantes escrevem assim. Não é falta de conteúdo, na minha opinião. É falta de ar, de pausa, de respiração. Também não é pouca leitura. Eles lêem muito, mas lêem correndo, como escrevem. Tudo é com pressa, como os vídeos do Tik Tok.

Não tenho esse aplicativo, mas há uma tiktokização das outras redes sociais: o reels do Instagram, os shorts do YouTube. Eu tinha jurado que nunca veria um “shorts”. E ontem fiquei hipnotizada por uma hora nessa armadilha.

Costumo pesquisar dúvidas no YouTube, conforme aprendi com meus filhos. O microondas aqui de casa está sempre com a hora certa por isso. Agora até o YT responde com mini-vídeos. E depois que você vê o primeiro não consegue mais parar. É como um grande parágrafo sem ponto.

Não adianta chamar um teórico da literatura para dizer que é “fluxo da consciência”, porque você não pensou nada daquilo. O algoritmo pensou por você e te tragou para dentro dele. Aconteceu comigo ontem. Não sei o que fiz entre as 22 e as 23 horas.

Acordei de ressaca, ansiosa por um antídoto. Revi leituras das últimas semanas. E cheguei às palavras de Paulina Chiziane que abrem esse post: que difícil é viver, lutar, cansar, parar e mesmo assim continuar. Sento para escrever. Criar é uma cura.

Respiremos!

Dez anos de blog — Obrigada!

No dia 6/11/2023 foi aniversário de 10 anos deste blog! ♥️ Obrigada por estarem aqui, pela companhia desde 2013, pelas dezenas de conversas e calmaria. Agradeço o carinho! Eu tinha me programado para escrever um post bem especial sobre concursos em comemoração, mas meu gatinho Charlie ficou doente. Ele já está bem. Em breve o post sai. Será uma parceria com a Manó (@itsme_mano) surgida no nosso grupo no Telegram, Abraço acadêmico.

Que nosso sonho de uma vida acadêmica mais cooperativa e solidária continue gerando frutos! Obrigada por tudo 💌

Projeto “Como escrever um texto em 8 meses” (Semana 4/36) — Desde o último post, escrevi zero palavras! Hahaha. Foi produção de feriados, gatinho doente, leituras de romances e sequestro de mini-vídeos. Ah, tenho a desculpa de que Alice fez Enem! Serve? Não, né? Foi ela quem fez as provas. Minha curva de produtividade só não está pior porque eu pensei. Sim, gente, pensar cansa e dá trabalho. Requer respiração e amadurecimento. Consegui decidir o tema do que pretendo escrever. Já contei para vocês que este será o texto da minha promoção para professora titular? Eu estava com receio de me expor. Mas decidi que não faz sentido fazer um diário de escrita sem explicar o que me espera no final do projeto. Ano que vem completo o tempo de docência necessário para concorrer ao cargo na UFRJ. Preciso escrever um memorial e uma conferência. O primeiro não me preocupa (sou uma otimista para textos pessoais). Já a segunda tem que ser algo publicável. Como diria o Juva, tem que ter brios. Vamos a isto.

Sobre a citação de Paulina Chiziane: Trecho da página 211 (versão eletrônica) do romance “O alegre canto da perdiz”, de Paulina Chiziane (edição Caminho, Portugal, 2008). É o segundo livro dessa autora maravilhosa que conheci por indicação da querida Sarah Toledo, do Sarices. O blog dela está em pausa, mas tem posts maravilhosos sobre literatura lá. E a Sarah também é professora de espanhol. Da Paulina Chiziane, li também o Niketche. São excelentes e muito diferentes um do outro. Adorei ambos, mas acho que prefiro o estilo mais realista e engraçado de Niketche.

Sobre o desenho: Caixinha usada de lenços Kleenex feita com canetinha 0.05 (bem gasta) da Pigma Micron. Trouxe a imagem da página inteira (acima) porque esse desenho foi feito em um bloco Canson A5, papel branco 90gr, que não se encontra mais pra comprar. As cores foram feitas com lápis de cor. Adoro desenhar objetos do cotidiano e perceber seus detalhes. Vocês já tinham lido a legenda “dia a dia” abaixo da marca? Enquanto desenhava, escrevi algumas notinhas sobre o Juva em janeiro de 2022. Foi muito triste de reler, mas a Paulina Chiziane me socorreu:

“Amar é também abrir a mão e deixar partir. Amar é ganhar e perder. É aceitar semear-se para germinar noutra encarnação.” (Paulina Chiziane, O alegre canto da perdiz, p. 77)

Você acabou de ler “Respirar, escrever, pontuar. E feliz dez anos do blog!”, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “Respirar, escrever, pontuar. E feliz dez anos do blog!”, Publicado em karinakuschnir.com, url: https://wp.me/p42zgF-41P. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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De mim, recap

“And we’ll collect the moments one by one // I guess that’s how the future’s done” (♫ Feist)
[E vamos colecionar os momentos um por um // Acho que é assim que se faz o futuro]

“Recap” sobre mim para as pessoas novas chegando: sejam bem-vindas!

Sou apaixonada pelo Antônio e pela Alice, duas criaturas sensacionais, segundo minha opinião isenta de mãe. Também amo meu gato e meu namorado — nessa ordem porque o Charlie veio primeiro (sorry, baby).

Adoro escrever sobre livros e coisas úteis. Falo de experiências pessoais quando acho que é engraçado ou bonitinho, mas não gosto de falar de mim. Evito tanto postar selfies em redes sociais que um dia recebi uma mensagem de um leitor do blog perguntando se eu era “de verdade” ou se era uma velhinha cheia de assistentes. Melhor comentário da vida! Virou lenda aqui em casa. Era de um estudante fofo, a quem agradeci muito e respondi que era de verdade sim, bastava buscar no Google.

Em 2022, meu lema será “alegria de viver” porque foi o que mais me faltou em 2021. Traduzindo em karinês: alegria pra mim é quando consigo escrever, desenhar, pintar e ler livros (de papel) todos os dias. Também estou reaprendendo a meditar (tá difícil) e conseguindo fazer 30 minutos de musculação 4x por semana (um micro-hábito bem específico que aprendi com meu filho e que tá indo bem). Meu principal desafio de 2022 é chegar em março sem esquecer disso tudo.

“As pessoas são complexas”, meu ex-orientador repetia. E eu, idem. Adoro ser solidária, mas morro de preguiça de passar álcool no tapetinho da academia. Sou apaixonada por estudar, mas já citei autor que não li só para agradar a banca. Tento ser saudável, mas vivo tomando Tylenol. Não bebo álcool, mas de vez em quando sim. Posso comer maçã todos os dias e depois nunca mais. Já fui festeira, mas invento um monte de desculpas para não sair de casa (mesmo antes da pandemia). Amo dar aulas, só que não também.

Além de jornalista, antropóloga e mãe, sou ex-voluntária da extinta ong Amigas do Peito (meu doutorado pessoal por 11 anos) e professora da UFRJ.

Em 2013, criei esse blog para ter o compromisso de publicar textos e desenhos toda semana. O lema dele é ser útil e bem humorado — para constrastar comigo, que, se deixar, fico chata e inútil rapidinho. Já publiquei 250 posts aqui, todos um pouco autobiográficos, a maioria sobre livros e vida acadêmica, sendo duas coleções de fracassos (Não Passei I e Não Passei II) super instrutivas para combater arroubos de vaidade (tudo pode dar errado) e momentos de desespero (já estive pior).

Acho que é isso. Ufa, que post difícil!

O que mais vocês gostariam de saber? ☼

Projetos para o blog em 2022: publicar novos planos de aulas; fazer uma Parte II sobre cursos de desenho e pintura online; escrever sobre hábitos e organização; falar de livros que li em 2021; e fazer um índice de todos os autores já citados aqui.

Coisas:

♥ Para quem quiser ver se sou de verdade, publiquei pela primeira vez uma selfie junto da imagem desse post no Instagram.

♥ A citação de abertura é da música Mushaboom, da Feist. Vocês podem ouvir no Spotify ou no Youtube.

♥ Sobre o Charlie, tem um desenho dele aqui, num post sobre os “defeitos” do Saul Steinberg.

♥ Amanhã (21/1/2022), às 17h, farei uma live sobre volta às aulas com a maravilhosa Thais Godinho do Vida Organizada, no IGTV dela.

♥ Dia 29/01/2022, estreia a Exposição CHORO, do Antonio Kuschnir, com curadoria do Victor Valery, no Museu de Arte Contemporânea — MAC, de Niterói. (Sim, uma exposição de mais de 70 pinturas do meu filho — artista mais jovem a expor numa individual na história do MAC. Pensem na mãe mais feliz e orgulhosa do mundo!)

Sobre o desenho: Traços feitos com canetinha de nanquim descartável Pigma Micron 0.05 e lapiseira Pentel grafite 0.7 feito em um bloco de desenho espiral “Meu Primeiro Canson” em abril de 2021. Feito a partir de uma fotografia, tentando registrar rapidamente, como se fosse no tempo do ao vivo, como aqui.

Você acabou de ler “De mim, recap“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2022. “De mim, recap”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3TB. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Lola (2009-2019)

lola-sozinha.jpg

“Vai, minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade
A realidade é que sem ela não há paz
Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

No dia 27 de junho de 2019, saí da veterinária arrasada, com a suspeita de que minha gatinha Lola estava com um tumor grande no abdômen (daí não termos notado). No dia seguinte, uma ultrassonografia não apenas confirmou o diagnóstico como cessou nossas esperanças de cura devido à quantidade de órgãos atingidos. Foi tudo muito rápido: em fevereiro, ela foi examinada de rotina e estava bem.

Lola azul amarela

Tivemos 17 dias em sua companhia desde então. Demos todas as comidas que ela mais adorava e o máximo de remédios paliativos possíveis. Instalamos um colchão na sala onde nos revezamos nos cuidados e na companhia. Alice era sua preferida para as sonecas, como registrei nesse desenho de 2013, quando Ulisses ainda estava conosco:

Alicegatosp

Adotamos a Lola em agosto de 2009, com uma cuidadora de gatinhos abandonados no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.  A bichinha era minúscula, com centenas de pulgas e olhos inflamados. Junto, adotamos seu “irmãozinho” Charlie.

Lola casaEla tinha outros planos: recusou a fraternidade e impôs que o Charlie seria sua MÃE. Por meses a fio, mamava com todas as suas forças tentando extrair algum leite da barriga dele. Temos vídeos dessa época: o pretinho gorducho todo ensopado, pacientemente se deixando ordenhar pela “filhinha” determinada.

À medida que iam crescendo, Lola se tornou a irmã mandona. Era a líder. Escolhia onde domir, miava reclamando que estava na hora do lanche, comia primeiro. Quando Charlie passou a noite na clínica para ser castrado, ela nem se abalou. Quando chegou a sua hora, o irmão ficou desesperado: para onde tínhamos levado sua Lolinha? Nunca miou tanto e tão sofrido. Na imagem abaixo, acho que consegui captar seu olhar mais típico de “eu que mando” (bem “I’m the boss”).

Lola psi

Era com esse olhar, acompanhado de uma levantadinha de queixo e miados curtos,  que ela vinha me cobrar atitude diante de algum filho doente ou triste. Parecia que falava: “– Anda, se mexe, sua filha está chorando, não tá vendo? Faz alguma coisa!” E virava o corpinho na direção em que eu deveria segui-la. Depois ficava ali supervisionando.

Lola pintura 2013

Ela própria era uma ótima enfermeira. Bastava alguém cair doente, e lá vinha a Lola postar-se em cima. Considerava uma grande honra para a pessoa que a recebia. Adorava nossa companhia, mas nunca foi grudenta. Chegou a ser noiva e casar com o Antônio, com cerimonial e tudo! Mas foi gata-feminista à frente do seu tempo, como se dissesse: “– Lambo quando quiser, entro e saio da sua cama quando me der na telha!” Mas foi um divórcio amigável.

Lola adorava jogos de cachorro. Aprendeu desde pequena a buscar bolinhas de borracha (daquelas que saem nas máquinas de um real). Tínhamos um corredor comprido no outro apartamento. Eu sentava numa ponta e quicava a bola para longe. Ela ficava agitadíssima, apoiando as patas de trás na parede mais próxima, para ganhar velocidade e trazer a bola de volta, prendendo em sua boquinha e soltando na minha mão.

Lola amarela

Depois de muitas rodadas, sinalizava a exaustão olhando a bola passar com enfado e me encarando com um jeito de quem diz: “não percebeu que não quero mais, humana?”. Ia dormir por horas. Tinha muitos jeitos bonitinhos de cochilar, mas o meu preferido era quando esticava as patinhas pra frente.

gardenreadingg 2015

Ainda bem pequena, ficava resfriada com frequência. Era um corre-corre de remédios, nebulização e alimentos especiais para fazê-la engordar. Sempre foi miúda. Nunca passou de 3,5 kg. Um dia, já sem saber como abrir seu apetite, ofereci atum. Foi um alvoroço. Ela se apaixonou e ficou viciada a ponto de não aceitar qualquer outro alimento. Haja persistência para vencer a turrice dela.

Um dos dias mais felizes de sua vida de gata-de-cidade foi durante uma viagem a Itaipava. Nao ia ser uma grande aventura, pois a ideia era mantê-la segura dentro da casa. De repente, descobriu uma lagartixa! Foi uma festa de corre-corre pra lá e pra cá com uma “bolinha” de verdade! Ficou tão feliz que nunca esquecemos desse dia. Felizmente, saíram ambas vivas.

lola 29-04 2011

Seu sono mais gostoso era quando estávamos todos na sala, conversando ou tocando violão, de preferência com visitas já conhecidas. Era apaixonada pela mochila da Roberta, nossa amiga e ex-professora de inglês do Antônio. Era muito asseada, lambia tudo que via pela frente. Charlie era seu brinquedinho particular, assim como nossos cabelos e seu próprio pêlo, mantido impecável. Se ganhasse um beijo de qualquer pessoa, imediatamente limpava a área “atacada” por humanos.

Lolas dez 2014 b.jpg

Quando Ulisses chegou em 2011, passou um bom tempo trancado no quarto, em “quarentena”, esperando que a Lola o aceitasse. Acabaram se tornando bons amigos, ora respeitosos e lambitivos, ora trocando patadas para ver quem mandava. Era ela, claro, mas sabiamente deixava passar o atrevido, em nome do Charlie, agora assumido no papel de filhinho dos mandões.  Que saudades desse dia, em que desenhei os três juntos na posição que mais ficavam: Lola e Ulisses nas pontas, com Charlie no meio.

LolaUlissesCharlie

É isso, pessoas queridas. A vida. Dez aninhos de Lola em histórias e imagens. Parece que foi ontem. Parece muito; foi pouco. Alegria e tristeza juntas, dessas que a gente não sabe explicar, mas faria tudo de novo.

Obrigada por tudo, Lolinha. ♥

Sobre os nomes: Para quem não conhece, os nomes Charlie e Lola foram inspirados em dois personagens dos livros e desenhos animados da ilustradora e escritora inglesa Lauren Child. Não achei um bom site oficial, então deixo uma busca de imagens e filminhos. Foi um de nossos desenhos preferidos quando as crianças eram pequenas. Além disso, as ilustrações são lindas, misturando colagens e desenho.

Sobre os desenhos: Recolhi de vários caderninhos ao longo desses dez anos, mas devo ter muitos perdidos ainda. Ela foi o gatinho que menos desenhei, porque achava seu pêlo tricolor super difícil de registrar. Confesso que me surpreendi em ver como as imagens, mesmo de rascunhos super rápidos, conseguiram captar a vibração da nossa querida gatinha. Saudades infinitas já.

Você acabou de ler “Lola (2009-2019)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2019. “Lola (2009-2019)”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3KI. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Permissão para descansar

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Pessoas queridas, obrigada pelas leituras e comentários generosos dos últimos posts. Fico sinceramente agradecida! Esses milhares de acessos aqui no blog me deixam super envergonhada e tímida, como se vocês tivessem aparecido na janela da minha casa e me flagrado escrevendo bobagens ao invés de trabalhando “de verdade”.

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Resolvi postar os desenhos que fiz durante o Carnaval, quando me permiti ficar lendo bastante. Misturei algumas plantas que observei com imagens da minha imaginação. Minha ideia de paraíso é mais ou menos essa: estar num jardim, com um livro e o Charlie, meu gatinho gordo.

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A Lola, meus filhotes e meu namorado também contam, coitados. É que às vezes um longo feriado como o Carnaval nos lembra de que precisamos descansar uns dos outros!

Mentira minha, eu é que fiquei com preguiça de desenhar tanta gente junta. Eles moram no meu jardim imaginário também. A verdade é que passei a semana escrevendo o fichamento do livro que li (no Carnaval) e não deu tempo de bolar um post decente, desculpem. Para quem estiver com saudades dos textos acadêmicos, leiam os comentários super legais dos últimos dois posts, ou cliquem nos links dos mais lidos na lateral (ou no rodapé, se estiver no celular) do blog.

Que vocês tenham um bom final de semana, com boas escritas, defesas, qualificações, leituras, ideias!!

Nos vemos semana que vem!

Sobre os desenhos: Estou usando um bloquinho de desenho (espiral) que achei perdido aqui em casa: XL Extra White, A5, Canson, papel 90 gr. As linhas foram feitas com uma canetinha japonesa azul marinho (Muji hexagonal gel ink 0,25). Amei essa canetinha mas desenhei tanto com ela que já acabou — não admira que foram tão baratinhas… Muito chato!

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Permissão para descansar”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Dc. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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O gato que virou livro

junho2015

Imaginem uma família crítica, agora multipliquem e elevem ao quadrado… É mais ou menos de onde eu vim. A tia mais fofinha era do tipo que olhava seus dentes antes de te dar bom dia. A avó pegava no colo e contava histórias, mas ai se você estivesse mais gorda. A redação da escola vinha com nota dez, ufa, parabéns; mas o filho da fulana escreveu uma com 60 linhas — quantas linhas tinha a sua mesmo?

A pessoa não sai ilesa vivendo 20 anos nessa espécie de bancada-Roda-Viva constante. Vira crítica também; ao cubo, três vezes. Isso não garante que vai ser boa em alguma coisa, mas até que favorece a profissão acadêmica… Adquire-se uma imaginação infinita para antecipar críticas.

Agora, joguem essa pessoa no mundo da arte? Ferrou. Num universo de parâmetros tão subjetivos, de mestres tão obsessivos, de imagens tão encantadoras… Como a pessoa pode se achar no direito de bater à porta? Não, de jeito nenhum. Me deixem aqui no meu cantinho rabiscando no caderno, que é melhor. Assim eu pensava.

Mas uma rede de amigos e até muitos da família (!) me empurraram porta adentro… Manoel, Nathalia, Arthur, Manya, Mário, Gilberto, Eduardo S., Clau, Bel, Mari, Ale, Robs, Joana, Malu, Sofia, Susi, Andrea, Hanny, Dady, Ronald, Elisa, Celina, Antônio, Alice, Vera, Cilene e, claro, o Juva, que escreveu, esperou, ouviu, aturou, incentivou, acolheu, elogiou, amou… Taí a coragem que vocês me ajudaram a ter! Meus agradecimentos infinitos também para os leitores desse blog, e aos amigos do Facebook, por tantas gentilezas, incentivos e apoios, principalmente em 2014, um dos anos mais difíceis da minha vida.

E um pote de sachê para o Charlie, a Lola e o Ulisses, meus gatos amados que aceitaram virar livro-de-verdade! (E não levem atum, porque a Lola é membro dos Atumhólicos Anônimos.)

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Se estiverem fora do Rio, podem pedir online na Vieira & Lent !


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Uma semana com defeito

charlie bolsa.bmp

Quando me apaixono por um artista, me divirto procurando seus defeitos. Não, não é um prazer perverso para me afastar da paixão. Ao contrário, me delicio e me apaixono ainda mais porque as supostas falhas e defeitos (geralmente apontadas por eles próprios sobre este ou aquele trabalho) trazem à tona um caminho criativo, feito de fragilidades, deslizes e perdas.

Acho graça, por exemplo, num trecho da quase autobiografia de Saul Steinberg quando ele conta sobre o período em que passou no Instituto Smithsonian, em Washington, nos anos 1960. Ele lembra que, influenciado pela presença maciça de funcionários chineses, resolveu fazer um diário desenhado num rolo de papel com dez metros de comprimento. O problema é que foi se tornando “escravo do rolo”, e acabou estragando o trabalho “de tanto querer embelezá-lo”.

(Viram? Agora podemos fingir que Saul Steinberg conseguia estragar algum desenho…)

Em outro trecho auto-crítico, da mesma obra, o artista afirma que sempre considerou mais difícil e arriscado observar do que imaginar, outro feito que soa impossível:

“[Nos meus desenhos de observação] vejo alguns dos meus defeitos constantes: terminar sem terminar, cansar e renunciar a insistir num ponto que seria essencial; por timidez ou por preguiça, deixo de insistir, e as coisas não terminam como deveriam, a promessa é mais abundante do que o resultado.”

Nem parece o mesmo Saul Steinberg retratado nos livros dedicados à sua obra. Minha história preferida de um deles é a contada por seu amigo Ian Frazier, da revista The New Yorker. Enquanto outros artistas ficavam melancólicos e desanimados quando algum editor rejeitava seus desenhos, Saul simplesmente os colocava em um novo envelope e os mandava de volta! Fazia isso quantas vezes fossem necessárias até que os editores entendessem o recado. E entendiam.

Tudo isso porque aqui em casa a semana foi cheia de defeitos. Tive uma virose e descobri que tenho uma pedra no rim. O desenho ficou incompleto e o blog teve o post atrasado em dois dias. (Para quem está chegando agora, minha promessa é publicar toda quarta-feira. Se eu trabalhasse num jornal, estava demitida?) Experiência vivida, lição aprendida: preciso preparar esses posts com mais antecedência e ainda ter alguns na manga para semanas-com-defeito.

Sobre o desenho: Meu gato Charlie tem medo de gente desconhecida e tantas falhas no pelo que ontem a Alice comentou, entre divertida e temerosa: — “se vier muita visita aqui em casa, mamãe, o Charlie vai ficar careca.” Mas ele é o meu gato-enfermeiro, aquele que sempre sabe se estou doente, por fora ou por dentro. As linhas foram feitas em canetinha Faber-Castell Pitt S (mais ou menos equivalente a uma 0.4) e a bolsa foi colorida com aquarela. Ficou faltando cor num pedaço, mas assim foi minha semana também. A aquarela está vívida (sem Photoshop!) porque o papel desse caderno é o máximo! Ganhei de presente de Natal do meu cunhado, que achou a relíquia intacta na estante: está ligeiramente amarelado nas primeiras folhas e desgastado por fora. Perfeito para mim que tento não gostar de coisas perfeitas. 🙂

Sobre os livros de Saul Steinberg: As citações são das páginas 78 e 131 do livro Reflexos e sombras, de S. Steinberg com colaboração de Aldo Buzzi (IMS, 2011, trad. Samuel Titan Jr.). É uma pequena joia de livro, embora o depoimento deixe grandes vazios no coração de uma leitora apaixonada. A anedota de Frazier está em Steinberg at The New Yorker (Joel Smith, ed. Harry N. Abrams, 2005). Outras maravilhas do autor podem ser encontradas em Saul Steinberg Illuminations (Yale Univ. Press) e Saul Steinberg: as aventuras da linha (IMS, org. Renata Saraiva). Na internet, vale visitar links produzidos pelo IMS aqui e aqui, além da Fundação Saul Steinberg. Se alguma alma souber onde consigo o documentário La ligne de Steinberg, dirigido por sua sobrinha Daniela Roman, agradeço. Não sei por que esses diretores de documentários tornam tão difícil o acesso aos seus filmes…