Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


2 Comentários

Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 2)

Vamos à Parte 2 da aula lúdica que fiz para a disciplina de Laboratório de escrita. Materiais e dinâmicas propostas estão na Parte 1, assim como a análise das duas primeiras perguntas.

Aqui chegamos ao que mais me interessava: como os estudantes se sentem em relação à escrita e à leitura na faculdade de Ciências Sociais? (As respostas são anônimas.)

Pergunta Verde — Como foi sua experiência de escrita mais positiva durante a faculdade? E a mais negativa?

No lado positivo, salta aos olhos que os alunos amam escrever sobre temas que lhes interessam. O mesmo ocorre quando conseguem vencer desafios, tipo “escrever um texto de 10 páginas”, ou conectar autores como “Freud e Lélia Gonzalez”. É desses trabalhos de vulto que eles se orgulham, e ainda mais se tiverem um retorno positivo por parte dos professores. Outra alegria é quando descobrem fontes e métodos, como pesquisar na hemeroteca da Biblioteca Nacional pela primeira vez.

Em relação às experiências negativas, a turma se dividiu entre três queixas principais: a) dificuldade com prazos (a maioria!); b) desgosto com autores e temáticas; c) rejeição a formas acadêmicas, como provas, resumos, formatações complicadas, trabalhos em grupo. Confesso que me surpreendeu ler apenas duas respostas sobre desafios emocionais (depressão e insegurança). Talvez esse tema tenha sido encoberto pelo problema dos “prazos”, com frequência ligado à ansiedade e outros sentimentos difíceis.

Ou seja, profs queridas, para estimular escritas, precisamos dar espaço para eles explorarem escolhas e fontes, mas lembrando de desafiá-los com propostas ambiciosas. Para dar certo, isso tem que vir embalado com cronograma e apoio para redigirem em etapas, sem deixar tudo para o último dia.

Resumindo, é o básico que a gente também precisa, né? Eu pelo menos queria uma prof assim! 😉

Pergunta Laranja — Fã ou Hater — Qual a sua experiência de leitura mais positiva durante a faculdade? (De quais autores você é fã e por que?) E a mais negativa? (De quais autores você é “hater” e por que?)

Essa pergunta trouxe uma contra-estatística maravilhosa do mundinho “das humanas”. As autoras mais amadas são mulheres negras: Lélia Gonzalez, Bell Hooks, Conceição Evaristo, Patrícia Hill Collins, Grada Kilomba, Sueli Carneiro. (Já os mais citados homens foram Paulo Freire e Franz Fanon). Dá para sentir o motivo… As escritas preferidas têm “sensibilidade” para tratar de “problemas do cotidiano”, geram “identificação”, trazem “vivências” próximas e “representatividade”. Como escreveu uma aluna: “lendo Conceição Evaristo me sinto ouvida, contada, vista”.

Em termos de forma, os estudantes preferem “textos simples que conseguem tratar de problemas complexos”, como concluiu o time Laranja. Querem escrita fluida clara, leve, vívida, original, compreensível, coesa, direta, sistematizada, de fácil entendimento, “sem perder a profundidade teórica”.

Falando assim parece tão simples. Só que não é! Haja revisão.

E chegamos aos “haters”. Pierre Bourdieu ganhou de lavada a corrida dos mais detestados, ainda que tenha tido um fã. Foi seguido por outros como Hegel, Durkheim e Gilberto Freyre — este associado ao racismo.

A turma foi direta na descrição do que desgosta: autores pedantes que escrevem textos pretenciosos, rebuscados, enigmáticos, enrolados, truncados, pesados, artificiais. São difíceis de entender e, por isso, dificultam a concentração na leitura. Além do racismo, a literatura acadêmica foi relacionada ao “academicismo”, “descritivismo” e “formalismo”. Um estudante resumiu bem: não gosta de textos que ficam “dando voltas e não dizem o que querem dizer”. Errado não está, né?

Confesso que até tentei defender Bourdieu, mas lembrei da época dos meus estudos para o mestrado em que chamei um amigo francófilo para me ajudar a lê-lo. Era um artigo publicado no auge da sua fase rebuscada. Meu professor olhou praquilo e disse: “isso não está em francês não!” Se ele que dominava a língua não estava entendendo nada, que chance eu teria? Deixei pra lá e rezei. (Deu certo.) Anos depois descobri que havia outros “bourdieus” e, embora não seja fã, consegui entender suas ideias.

Voltando ao assunto: concordo com tudo que a turma diagnosticou! Por isso nossos livros-chave para o Laboratório de redação são “Truques da escrita” de Howard S. Becker, “Quarto de despejo”, de Carolina de Jesus e “Cartas a uma negra” de Françoise Ega. A explicação para esse trio fica para um próximo post!

Boas aulas, pessoas queridas!

PS: Qual o objetivo disso tudo? Ao longo do semestre, essa aula consolida os critérios dos próprios alunos para revisão dos textos deles mesmos. Na prática, eles se dão conta de que precisam revisar muito para atingir os seus ideais de escrever bem.

Projeto “Como escrever um texto em 8 meses” — Conforme prometi no Instagram, vou escrever sobre o processo de produzir um texto acadêmico que preciso entregar daqui a 8 meses. Tem que ser algo inédito e decente. Começo esse diário de escrita com meu problema inaugural: sobre o quê devo escrever? Sou eu que decido o tema. Já consultei filhos, colegas, estantes e ainda não sei. Resolvi seguir a máxima que o Ju tanto gostava: escrever para saber o que eu gostaria de escrever se estivesse escrevendo! (Foi mais ou menos o que disse Marguerite Duras, H. Becker, Anne Lamott e um monte de gente que escreve sobre escrita.) Vou tentar seguir a ideia de escrever 300 palavras por dia, conforme disse que fazia no post Escrita Diária. (Às vezes me pergunto quem era essa Karina de 2017?) Prometo que volto semana que vem para contar.

Sobre a proposta das aulas lúdicas: Esse post é continuação da Parte 1. Mais ideias de aulas lúdicas aqui.

Sobre a ilustração: Apenas inverti a ilustração do post Parte 1 (a explicação está lá). Aproveito para contar que era assim que Leonardo Da Vinci (1452-1519) escrevia em seus cadernos. Os alunos acharam que eu estava brincando, mas é verdade, como explica esse simpático blog.

Você acabou de ler “Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 2)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 2)“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-40VAcesso em [dd/mm/aaaa].


3 Comentários

Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 1)

Para animar, resolvi adaptar uma antiga aula lúdica para começar bem o semestre com minha turma de Laboratório de redação. Como na aula “brincando de pesquisar”, o objetivo era conhecer os alunos. Dessa vez, porém, foquei nas suas experiências com leituras e escritas, antes e depois da faculdade.

Material necessário: Algumas folhas coloridas em quatro cores diferentes. Comprei um pacotinho de A4 na loja Caçula da Rua Buenos Aires, perto do IFCS. Algo parecido com esse aqui.

Dinâmica: Como foi feita a aula:

Avisos — As respostas são anônimas; não é para nota; não tem certo ou errado; conta como participação. Pedir que tentem ser bem específicos nas respostas.

Preparação — Pedir para alguns alunos ajudarem a cortar o papel A4 papel em 8 pedaços, até que todos da turma tenham um pedaço de papel de cada cor.

Quadro — Escrever as cores e as perguntas no quadro (ver abaixo).

Alunos — Pedi que os alunos respondessem nos pedaços de papel colorido. Cada papel recebe duas respostas: positivas + e negativas -. Alguns alunos responderam no mesmo lado; outros escreveram mais e utilizaram frente e verso. Não importa. Não é necessário copiar as perguntas.

Amarelo — Qual é a sua lembrança de escrita mais positiva antes de entrar na faculdade? E a mais negativa?

Rosa — Qual é a sua memória de leitura mais positiva antes de entrar na faculdade? E a mais negativa?

Verde — Como foi sua experiência de escrita mais positiva durante a faculdade? E a mais negativa?

Laranja — Qual a sua experiência de leitura mais positiva durante a faculdade? (De quais autores você é fã e por que?) E a mais negativa? (De quais autores você é “hater” e por que?)

Pote para depositar a resposta — Por conta de outras dinâmicas, tenho uma caixa preta com um buraco no meio que utilizei para ir coletando os papéis com as respostas.

Organização por cores e grupos —Todas as respostas coletadas foram misturadas na caixa. Em seguida, colocamos o monte de papéis no chão e separamos por cores. Dividimos a turma em quatro grupos e cada um ficou com uma cor. Eles acabaram chamando os grupos de “times”. Ficamos com aproximadamente 8 alunos por time/cor. Nesse momento é importante que eles movimentem as cadeiras para sentarem-se juntos de seus grupos.

Debate intra-grupos — Cada grupo leu todos os papéis da sua cor e fez uma análise qualitativa das respostas positivas e negativas. Depois, cada aluno do grupo escolheu uma resposta significativa da sua cor para ler em voz alta.

Exposição e debate com a turma — Organizamos as cadeiras em círculo para que a turma toda pudesse se escutar, mantendo os integrantes de cada time próximos uns dos outros. O resultado da análise de cada cor foi apresentado para a turma por um aluno escolhido pelo grupo, sendo essa explicação depois embasada com as leituras das respostas escolhidas para serem lidas. Seguimos a ordem dos grupos acima: amarelo, rosa, verde e laranja.

Análise das respostas

Time Amarelo — Minha lembrança mais positiva de escrita foi… Exemplos: “quando escrevi meu nome pela primeira vez na escola”; “quando escrevi meu nome ensinada por minha irmã”; “quando fiquei entre os melhores em um concurso de redação”; “quando escrevia crônicas em um projeto extracurricular”; “quando fiquei fascinada pela caligrafia da professora”; “minha primeira carta ao Papai Noel”; “quando aprendi inglês com minha mãe”; “quando escrevi meu primeiro poema de amor”; “quando escrevia cartas para meus primos”; “quando me sentia livre para escrever em meu diário”; e “quando utilizava materiais novos comprados pela minha mãe”… A mais engraçada foi “a primeira palavra que escrevi foi OVO”. 😀 Uma resposta comovente dizia que “na turma de alfabetização, quando todos liam as sílabas em conjunto, sentia um sentimento de comunhão”.

Foi emocionante ter acesso às memórias afetivas relacionadas a escrever, revitalizando a ideia de que essa já foi uma prática prazerosa para eles.

Se as lembranças positivas são diversas e específicas, as negativas relacionam-se a experiências de avaliações ruins. Ser julgado traz medo e insegurança: notas baixas ou “vermelhas”, letras “feias”, erros bobos, falhas de ortografia, comparação com colegas, desespero na redação do Enem, pressão dos pais.

Time Rosa — As memórias de leituras positivas antes de entrar na faculdade trouxeram autores como Machado de Assis, Drummond, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles, Jorge Amado, Carolina de Jesus, Fernando Pessoa, Victor Hugo, Salinger, Saramago… Os alunos mencionaram romances, suspenses, biografias, clássicos, escritas feministas ou Lgbt, quadrinhos, ficção mágica, não-ficcção histórica, poesia. A resposta mais aplaudida foi: “Ler meu nome na lista de aprovados de um exame”. E uma das mais tocantes foi a da estudante que lembrou do pai lhe ensinando o poema “E agora José?” de Carlos Drummond de Andrade.

As leituras mais lembradas como negativas eram livros específicos (tipo, não gostei de “O mago”) e aquelas feitas por obrigação, como manuais, livros famosos (tipo “O pequeno príncipe”) ou clássicos indicados pela escola. Foi interessante um estudante que mencionou ter odiado Machado de Assis no ensino fundamental e, do outro lado do papel, escrever que depois este se tornou seu escritor preferido. Como na pergunta anterior, aqui também apareceu o trauma gerado por métodos de disciplina rígidos e ríspidos.

(Tá muito grande, então, continua na Parte 2! Spoiler: a análise do time laranja foi a mais importante, por isso o post se chama Fã ou Hater)

Sobre a proposta das aulas lúdicas: Dizem por aí que toda antropóloga é uma fofoqueira profissional. Assumo o título! Já escrevi que virei fotógrafa, jornalista, pesquisadora, professora e desenhista porque gosto de gente. Amo detalhes, nomes, histórias, gostos e desgostos. Além do mais, como professora, tenho um semestre pela frente, com o desafio de sair viva no final. Espero contagiar meus alunos nessa disciplina, já que são eles os professores do futuro. Mais ideias de aulas lúdicas aqui.

Sobre a ilustração: Fotografei quatro pedacinhos do exercício com o celular e editei no Photoshop para ficar neste formato. O scanner não conseguiu pegar as cores fosforecentes dos papéis. Então utilizei o app CamScanner para capturar as imagens. Dá para utilizar na versão gratuita e é útil para transformar qualquer pedaço de papel em documento legível. Inclusive transforma foto em texto.

Você acabou de ler “Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 1)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “Laboratório de escrita – Fã ou Hater – Ideia para aula lúdica (6 – Parte 1)“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-40h. Acesso em [dd/mm/aaaa].


14 Comentários

Quinze dicas para ajudar a ler textos acadêmicos (ou não)

“Quando meu filho estava com oito meses, podia-se dizer de verdade que ele devorava literatura. Se alguém lhe dava um livro, mastigava-o.” (Anne Fadiman)

Quem se identifica com a ideia de “devorar” livros levanta a mão! Para mim, faz todo sentido. Quando uma obra me conquista, sinto que entro num espaço de prazer, como se estivesse comendo as páginas, de tão boas. Só que nem sempre é assim…

Um dos maiores desafios da vida acadêmica é a quantidade de leituras de que precisamos dar conta. Gostaríamos de ler mais do conseguimos e, pior, nem sempre podemos decidir o que vamos ler. Faz parte: alunos têm que passar pelas bibliografias que os professores selecionam; docentes precisam encarar leituras essenciais para suas pesquisas e ainda monografias, teses, dissertações e trabalhos de curso.

Como dar conta de ler tudo? Listo abaixo algumas dicas a partir da minha experiência e das dificuldades pelas quais passei. Foi mais ou menos isso que aprendi:

1) Prazer de ler – Para saber se estou na área de pesquisa certa, sempre me pergunto: “sinto prazer de ler os textos que estou lendo?” Muitos alunos me escrevem em dúvida sobre qual caminho ou tema seguir. Minha primeira sugestão é se questionar: sobre o quê você realmente gosta de ler? Porque, uma vez escolhida a área, haverá uma montanha de textos para dar conta. Foi assim que descobri meu amor pela antropologia, depois de passar por design, publicidade e jornalismo: quando me deparei com textos como o “Pessoa, tempo e conduta em Bali”, de Clifford Geertz, percebi que queria mais!

Só que dentro de uma área existem centenas de recortes possíveis. Inclusive, isso me lembra um episódio vergonhoso da minha vida acadêmica, quando fiz uma pesquisa numa universidade no exterior. Apesar de toda a alegria de ter recebido o auxílio para esse trabalho, passei boa parte do meu tempo lendo livros e fuçando bibliotecas sobre outro assunto. Pois é. Isso foi há muitos anos! Já fiz relatório, publiquei, prestei contas, tudo certinho. Só que até hoje me sinto culpada por ter me dedicado menos do que deveria às leituras apropriadas. Demorei a perceber que aquela “fuga” era um sinal de que estava na hora de mudar. (Voltarei a esse tema adiante.)

2) Organização do calendário – Ao começar um semestre, pego um calendário dos próximos meses e assinalo todos os compromissos, como aulas, defesas, bancas, congressos etc. Pesquiso e marco os feriados. Feito isso, tento calcular qual será o volume de leitura de cada etapa (por semana). Se eu tiver períodos de sobrecarga ou de eventos, tento compensar programando menos textos nas aulas da época.

Sei que é difícil prever tudo isso, mas essa lista é para lembrar de tentar. Ao aceitar participar de uma banca, por exemplo, tento aliviar a carga de leitura daquela semana. Ah, Karina, isso não existe… Gente, não é porque não existe que não devemos querer que passe a existir. Já vi várias vezes colegas chegarem em bancas sem terem lido direito o material do candidato; e eu mesma já cheguei numa aula sem me sentir preparada. Então vale estarmos atentas: somos humanas e nossa capacidade de leitura é finita!

3) Calcule sua capacidade de leitura por número de páginas – Uma das dicas mais importantes é aprender quanto tempo levamos numa leitura. Aprendi fazendo assim: ao começar um texto, anotava o horário de início no alto da página. Seguia lendo até a primeira interrupção, quando escrevia novamente o horário da pausa, mesmo que fosse para ir ao banheiro ou buscar um copo d’água. Fui fazendo isso em vários os textos até chegar numa média de velocidade para cada tipo de texto. Por exemplo: leituras em português ou em língua estrangeira; não-ficção ou ficção; texto obrigatório x texto complementar; texto em PDF x texto em papel; livros x artigos; leituras x releituras; trabalhos de alunos, dissertações ou teses. Cada material desses traz pequenas alterações no nosso rendimento. Eu não medi todos eles (não sou tão obsessiva assim!) A ideia é chegar numa média, numa medida realista da nossa velocidade. Por exemplo, no meu caso, costumo ler de 20 a 30 páginas por hora. (Pode ser menos ou mais a depender dos fatores envolvidos, como explico abaixo.)

4) Calcule sua capacidade conforme o objetivo da leitura – Outra dica importante é entender quanto tempo você leva para ler um texto sobre o qual deverá falar, apresentar seminário ou dar uma aula sobre. Nesses casos, eu, pelo menos, preciso sublinhar, anotar e, se possível, fazer um fichamento. Então não adianta utilizar as medidas de leitura do item 3. Eu sei, a gente insiste em achar que vai dar, mas não dá. E dá-lhe virar noite ou chegar na aula insegura porque não fez o trabalho direito. Melhor fazer um planejamento pragmático. Para citar o meu caso, fui preparar uma aula sobre um texto de apenas 22 páginas (que já tinha lido antes): levei 1 hora e meia entre reler e fichar os principais pontos para falar.

5) Calcule sua capacidade de leitura conforme o período do dia ou da semana – Nossos corpos têm ritmos distintos e níveis de concentração muito variáveis. Sou do tipo que prefere varar a madrugada. Nunca entendi quem dorme cedo e coloca o despertador para as 5 da manhã para terminar de preparar ou ler algo! Simplesmente não funciono nesse horário, mas tem gente que sim. Outra coisa muito idiossincrática minha: às vezes prefiro acumular um volume maior de leituras para sábado e domingo, do que ler um pouquinho todos os dias (principalmente trabalhos monográficos). Depende de cada um encontrar o seu jeito; e não tem jeito certo, desde que você termine a tarefa a tempo sem se esgotar.

Depois de medir uma participação em banca de doutorado (tese grande), cheguei à conclusão de que gastei quase 6 dias inteiros de trabalho, entre leitura, preparação da arguição e a defesa em si. Sim, seis dias rolando com a tese e as demais tarefas de dona-de-casa, mãe e professora. É muito! Então, toda vez que me convidam para uma banca, já tenho uma noção bem realista do tempo que vai me tomar. (Quando o trabalho é bom, tudo ótimo, aprendemos bastante… Mas quando é ruim, que sofrimento. No fundo, a grande medida para tudo isso é a qualidade do texto. )

6) Não dá para ler tudo – A vida é feita de escolhas, né? Essa é bem clichê mas a gente insiste tanto nesse erro que vale apontar: não dá para ler 1500 páginas por semana! E digo isso para alunos, que se sentem culpados porque não deram conta; e repito para os professores que (ainda) fazem seus programas de curso como se esquecessem que os alunos têm outros cursos para atender. Para ler 1500 páginas por semana, a pessoa teria que ler 11 horas por dia, de segunda a domingo (média de 20 páginas/hora). Quem tem condições de fazer isso? Eu até posso ler (e leio) um romance de 900 páginas numa semana livre. Mas isso se for uma boa ficção e eu estiver de férias! (Mesmo assim, varia. Por exemplo, li em seis dias Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves; mas levei várias semanas para ler Middlemarch, da George Eliot. Ambos são imensos e adoráveis, mas são narrativas com ritmos diferentes.)

Sim, sei que alguns alunos ainda precisam aprender a se concentrar e a priorizar a tarefa da leitura. Ler para uma aula é parte do trabalho de ser estudante. Não desanimem, tá? A velocidade melhora com a prática e conforme vamos nos familiarizando com a linguagem acadêmica e com o vocabulário conceitual da área em que estamos inseridos. E às vezes o problema não é seu: é que o texto é ruim mesmo! Saber identificar essa diferença é um aprendizado. Tenham paciência.

Pelo lado dos professores, porém, vejo que alguns programam textos demais por aula. Isso pode ter motivos válidos, como apresentar um curso bem completo com o “estado da arte” de um tema. Mesmo nesses casos, o docente, na minha opinião, deveria calcular uma quantidade de texto obrigatória razoável: em torno de 100 páginas por semana numa pós-graduação que exige que o estudante faça três ou até quatro disciplinas por semestre. O restante pode ser indicado como leitura complementar. Alguns professores esquecem que eles leram aqueles textos ao longo de muitos anos, e não em poucos dias, como estão exigindo dos alunos. E tem os que montam programas imensos por vaidade mesmo. Sem comentários…

7) Tenha um kit de leitura (acessórios, bebidas e comidas) – Sou dessas que não consegue ler sem óculos e uma lapiseira na mão. Esse é meu kit-mínimo. Não importa se estou lendo romance, livro acadêmico, artigo, até PDF: preciso sublinhar, marcar, anotar. Minha companheira preferida é uma lapiseira Pentel 0.7, com grafite pelo menos 2B — se tiver 3B, melhor. Passei a comprar cor-de-rosa-choque porque as crianças não gostavam. Mas isso é passado. Hoje a Alice tem uma igualzinha e Antônio já me roubou várias. A solução foi enrolar washi tape para marcar a minha. 😉

Tenho um pequeno sistema de códigos pessoal de anotação, com carinhas (sorrindo, chorando, com raiva e de boca aberta), coração, pontos de exclamação e um sinal para quando encontro erros tipográficos. Sempre acho que vou escrever para a editora para avisar do erro, mas depois a preguiça me vence. Outra coisa que faço, quando gosto muito de uma frase ou expressão: reescrevo com a minha letra no alto da página, colocando entre aspas, só para destacar bem ou porque pode ser algo para trazer para o blog. Não uso caneta mas adoro rever um livro cheio de anotações. Quando não tem, é porque não gostei ou li correndo.

Além da lapiseira, costumo ter um lápis-borracha e um caderno ou bloquinho de rascunho. Outra coisa que não pode faltar: post-its de vários tipos. Quando já sei que vou dar aula sobre o texto, marco páginas com trechos essenciais para ler com os alunos. Em livros que não posso anotar, colo post-its maiores com anotações sobre os trechos que pretendo utilizar depois. Já tive suportes de leitura, desses que mantém os livros inclinados na mesa, mas o meu preferido quebrou e nunca mais consegui um igual (era cheio de regulagens, super leve, perfeito).

Finalmente, tem a parte sobrevivência para me manter acordada: comes e bebes! Copo d’água, chá, mate, refrigerante, suco, água com gás, vale tudo né? (Quem leu o post sobre meu TCC, sabe que ele foi feito à base de coca-cola diet. Tomei tanto que nunca mais! Café não está na minha lista porque não tomo, me perdoem a falha.) De comidinhas, prefiro todas que sejam pequenas e picadas, para durarem mais: pipoca, frutas cortadas ou uvas, passas, castanhas, biscoitos, chocolate amargo, até semente de abóbora. Serve qualquer coisa que me mantenha mastigando por um tempo, com o cuidado de não ser muito trash para não dar dor de estômago. Uma época, fiquei com mania de comer torrada seca (de pacote) picada em pedacinhos para render mais. Hoje em dia, costumo comer coisas sem glúten e continuo viciada no mate solúvel (sem açúcar); mas também tomo bastante chá, se estiver frio.

8) Prepare e varie seu local de leitura – Esse post começou inspirado no desenho do início: eu lendo no quarto da Alice com meu gato Charlie. É o único cantinho da casa onde tem rede e ainda bate o sol da manhã. Tornou-se um dos meus locais preferidos para leituras longas de trabalho. Na sala tem um cantinho bom perto da janela. Pra mim, o importante é ter boa iluminação, pois não enxergo bem, nem de perto, nem de longe. Por isso, reforcei as luminárias e lâmpadas em todos os cantos da casa onde pude. Meu sonho ainda é melhorar essa parte e, principalmente, no futuro, ter uma varanda.

Fora isso: uma leitura longa pede apoio para os pés, ventilador no calor, cobertor no frio! Se bater o sono, vale sentar numa mesa de trabalho mais formal ou até ler em voz alta. Mesmo mudar de lugar dentro de casa, ou ler num outro local ajuda. No meu prédio tem um espaço que dá para ler no terraço. Não vou sugerir que vocês leiam em cafés e bancos de praça porque não estamos no Instagram, né? Pelo menos no Rio de Janeiro, sei lá, é bem surreal: se for silencioso, é caro; se for barato, é barulhento; se for na rua, é sujo ou num cenário de desespero social. Talvez na praia ou em uma biblioteca dê jeito. Vocês conseguem?

9) Ler em papel ou PDF – Sou totalmente adepta da leitura em papel. Ler em telas é uma tortura, seja pelo cansaço ocular, seja porque não consigo memorizar os conteúdos. Computador, notebook, tablets, Kindle: todos me trazem a mesma dificuldade. Não sinto o texto, não me aproprio das palavras, não rendo.

Só que preciso ler PDFs mesmo assim! Na área acadêmica é praticamente impossível evitar. Quando não tem jeito, utilizo o aplicativo Books do Ipad e uso a canetinha para destacar ou anotar. Se for uma leitura importante, faço um fichamento à parte. Sobre o Kindle, não tenho, mas utilizo o app para Android e Ipad. Além dos preços mais baixos e do acervo de livros gratuitos (domínio público), a grande vantagem é a função de reunir todas as nossas marcações num arquivo à parte. Isso já me salvou para fazer bons resumos e selecionar trechos para artigos.

10) Ler livros, capítulos ou artigos – Assim como prefiro papel, também sou fã de ler livros inteiros ao invés de capítulos ou artigos. Semestre passado inclusive, dei um curso de graduação cuja bibliografia obrigatória era o volume todo do Truques da Escrita, do Howard S. Becker. As demais referências eram complementares. Os alunos adoraram. A maioria me disse que nunca tinha lido um livro acadêmico do início ao fim na faculdade!

Sei que essa não é uma proposta fácil, nem factível em todos os tipos de cursos. Mas reforço a ideia que defendi acima: não é porque uma prática não ocorre que não devemos desejar que passe a ocorrer. Os textos que mais marcaram minha vida foram livros que li integralmente. Foi esse tipo de leitura que me formou e é isso que desejo para minha vida e para a dos meus colegas e alunos.

11) Renove suas leituras com resenhas, entrevistas, ficção etc. – Um truque para entender melhor as ideias de um autor: ler resenhas sobre os seus livros e entrevistas que ele tenha dado em revistas acadêmicas. É impressionante como esses tipos de textos ajudam a encaixar um autor com suas reflexões e conceitos. Autores que escrevem difícil, às vezes têm um jeito de falar bem claro! Da mesma forma, uma boa resenha sobre um livro, pode nos trazer informações fundamentais sobre o contexto da obra, sua inserção numa área de pesquisa e suas principais contribuições teóricas e empíricas. Ler entrevistas e resenhas de forma aleatória é também um jeito divertido de buscar novos temas e abordagens para nossa pesquisa quando estamos enjoados ou empacados.

A leitura de textos de ficção que se aproximem (ou não) do nosso tema (por área geográfica, temática, histórica etc.) pode ser outra forma de sacudir nossas ideias. No caminho acadêmico, cabe ampliar o leque de autores, saindo da lista tradicional da sua disciplina. Tenho feito isso nos últimos anos e as descobertas são muitas. No sentido inverso também: reler clássicos que você leu quando ainda estava imatura traz supresas. Volta e meia me supreendo com releituras de textos que achava datados ou de pequena relevância. Isso ocorre tanto porque não estávamos preparados para entendê-los quanto porque, com o tempo, nossas perguntas e referências mudam.

12) Registre uma lista das suas leituras – Essa é uma dica bem simples: anote tudo que você lê! Não precisa baixar aplicativos sofisticados. Atualmente, utilizo uma planilha simples do Google, com número, ano, mês, autor, título, editora, origem, estrelinhas e um espaço para observações. É uma boa forma de lembrar do que li e do que gostei nos últimos meses e anos. Também é um jeito de registrar os PDFs que acabam perdidos em vários dispositivos diferentes.

Divido a lista por ano e a linha superior é a mais recente. Às vezes deixo em vermelho o que estou lendo (se estou com mais de uma leitura simultânea). Aproveito também para anotar os empréstimos com fundo em amarelo para não deixar de cobrar.

Nas primeiras linhas da minha tabela, deixo em cor cinza os autores e livros que tenho vontade de ler mas ainda não comecei ou não tenho. Alguns ficam morando ali durante anos e acabo apagando. Mas tem horas que essa listinha é um lembrete fundamental do que já tenho ou do que quero comprar.

Nessa planilha, ficam registradas todas as leituras (ficção, não-ficção; acadêmicas etc.). Só não anoto releituras para dar aula, pois são muitas e tornariam a lista super confusa.

13) Leitura dinâmica para situações de emergência – Aprendi essa dica com um professor que admiro muito. Mesmo sendo um gênio, ele teve a generosidade de me dizer que também não dava conta de ler tudo.

A sugestão era mais ou menos assim: “Karina, quando você não tiver mais tempo, pelo menos ‘sinta o cheiro’ do texto.” Fiquei olhando com cara de pastel: “Cheiro? Como assim?” Ele explicou: “Você vai folheando o livro, página por página, lendo os títulos dos capítulos e das seções. Se possível, leia a primeira linha de cada parágrafo. Isso já vai te dar uma ideia do que o autor quis dizer.”

Lógico que não é o ideal e que esse método pode gerar percepções erradas, mas eu estaria mentindo se dissesse que nunca fiz isso. Claro que sim. E também já apelei para aquele velho truque de ler só a introdução e a conclusão. Recomendo? Não. Mas às vezes a vida é assim, e a gente faz o que dá. 😉

14) Crie um grupo de estudos ou tutoria entre colegas – Essa foi sugestão de um amigo-professor que vem se deparando com os “alunos da pandemia”. A vida dos estudantes já era difícil antes da Covid-19, agora então… Muitos chegam na universidade depois desses dois anos de ensino online (seja no Ensino Médio, seja nos primeiros períodos da faculdade) se sentindo sem base para compreender as leituras e as aulas presenciais, mais densas. Uma forma de compensar isso pode ser criar grupos de leitura entre os colegas da própria turma ou com alunos mais experientes que possam atuar como tutores. Embora o exemplo seja entre alunos, eu mesma tive um grupo de leitura com colegas durante a pandemia. Recomendo.

15) Tenha um gato ou um cachorro pra ler contigo – Sei que esse conselho não deveria estar nessa lista, mas eu precisava de quinze itens, né? Cá entre nós, para quem já curte gatinho ou cachorro em casa: tem coisa melhor do que ler com um bichinho no colo? Eles são a melhor companhia do mundo.

E chegamos ao fim dessa listinha! Lembraram de algo que esqueci? Escrevam nos comentários por favor. Sou apaixonada por livros e pelo prazer de ler, a tal ponto que, durante uma boa parte da minha prática artística, eu só desenhava pessoas lendo!

Obrigada pelo mar de mensagens de carinho e apoio que vocês têm me mandado por aqui e pelas redes sociais. Tem dias que sou só lágrimas, melancolia e saudades, mas há outros em que sinto que vou sobreviver. Consegui ler, escrever e desenhar um pouquinho. Já significa muito.

Boas leituras para todos. Que vocês tenham amor, saúde e paciência. Até o próximo post! ♥

Sobre a citação: A epígrafe do post é do livro “Ex-Libris: confissões de uma leitora comum”, da Anne Fadiman. (Tradução de Ricardo Quintana, editora Zahar, 2002). Adoro esse livro. O meu original, todo anotado, se perdeu em algum empréstimo. Há uns anos atrás, acabei comprando outro mas ainda preciso reler para resublinhar tudo de novo. Apesar disso, nunca esqueci a parte em que ela conta sobre a mania do filho de comer os livros! Comia mesmo, principalmente se tivesse desenho de comidas. 😀

Sobre os desenhos: O desenho que abre o post foi feito no meu caderno-diário em tempos bem mais felizes (26/01/2022). Os demais desenhos foram feitos hoje (23/6) para o post, inspirados numa coleção de imagens sobre livros que junto há muitos anos. Alguns fazem referência aos Simpsons, como vocês podem reconhecer; a menina com a pilha de livros é inspirada num desenho do Quentin Blake, que amo. A menina estudando com um gatinho no colo fiz em homenagem a uma conta do Instagram que adoro seguir: @cats.friedaandhenry.

O caderno que utilizo como diário é um A5 espiral da Papel Craft, capa dura com elástico. (O link que coloquei é só um exemplo; a estampa do meu não tem mais.) É meio caro para um caderno, mas ganhei de presente e dura bastante. Tem um bom acabamento, 90 folhas e bom espaçamento entre as linhas. Apesar do papel ser 75g, consigo desenhar com canetinha e a cor não vaza para o outro lado. No dia-a-dia, para listas e organizações, uso um caderninho A5 da Tilibra de 80 folhas que custou R$12,50! Quando quero colocar algum desenho nele, faço num papel à parte e colo na página. Atualmente, o meu tem sido esse aqui:

Para esses desenhos, utilizei canetinha Pigma Micron azul 0.1 nas linhas, e marcador Tombow n. 451 azul claro. O primeiro desenho era só um registro pessoal, sem rascunho, sobre o “melhor do meu dia”. Segui o estilo nos desenhos de hoje, desenhando de forma rápida, sem usar lápis antes. Escaneei tudo e separei as imagens no Photoshop.

Você acabou de ler “Quinze dicas para ajudar a ler textos acadêmicos (ou não)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2022. “Quinze dicas para ajudar a ler textos acadêmicos (ou não)“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3WN  Acesso em [dd/mm/aaaa].


10 Comentários

Agosto/2018 – Mulheres que lêem são perigosas

ago2018_p.jpg

Pessoas queridas, bom dia! Aí vai o calendário de agosto, uma homenagem ao nosso amor pela leitura. Não sou de ligar tanto para aniversário (dia 21), mas dessa vez resolvi desenhar algo que amo para comemorar.

Antes que eu esqueça: o .pdf para imprimir!

Os desenhos foram inspirados no livro Women who read are dangerous, que ganhei de uma amiga super generosa. ♥ A capa já apareceu aqui no blog num post anterior. As imagens internas são pinturas, desenhos e fotografias.

Não há tantas figuras de corpo inteiro, como a Marilyn Monroe lendo de biquíni, que no calendário ganhou um vestidinho (é a segunda, da esquerda pra direita, na parte de baixo). Várias pinturas de mulheres nuas aparecem no meu desenho em versões vestidas. Para a grande maioria, tive que inventar o corpo, as roupas e os bancos, cadeiras e sofás em que elas se apoiam. Também só me inspirei nas imagens em que as mulheres estavam efetivamente lendo, e não apenas com um livro nas mãos (entre essas, uma das mais lindas, é do Van Gogh). Outra adaptação foi fazer mulheres negras, que, assim como as mulheres-artistas, estão quase ausentes da obra.

Aqui vai a listinha completa das imagens que me ajudaram — para vocês poderem comparar com a versão desenhada no calendário:

Pieter Janssens Elinga – Woman Reading (1668-70)
Jean Raoux – The letter (1720)
Jean-Etienne Liotard – Marie Adelaide of France (1753)
Gustav Adolph Hennig – Girl Reading (1828)
Carl Christian Constantin Hansen – The Artist’s Sister (1826)
Sir Edward Burne-Jones – Portrait of Katie Lewis (1882-86)
Jean-Jacques Henner – Woman Reading (c.1880)
James Tissot – Stillness (s/d)
Peder Severin Kroyer – Rose Garden (1893)
Carl Larsson – Karin Reading (1904)
Vilhelm Hammershoi – Interior with a Woman Reading a Letter (1899)
Albert Marquet – Standing Female Nude (1910)
Robert Breyer – Woman Reading (1909)
Félix Vallotton – Woman with Yellow Necklace Reading (1912)
Gabriele Münter – Woman Reading (1927)
Duncan Grant – The Stove [Angelica Bell] (1936)
Vanessa Bell – Amaryllis and Henrietta (1952)
Cagnaccio di San Pietro – Portrait of Signora Vighi (1930)
Aleksandr Aleksandrovich Deineka – Young Woman with Book (1934)
Edward Hopper – Hotel Room (1931)
Theodore Miller – Lee Miller and Tanja Ramm (s/d)
Eve Arnold – Marilyn Reading Ulysses (1952)

Desses originais, minhas preferidas são as de Ducan Grant e Vanessa Bell, casal de artistas, ela irmã de Virginia Woolf. Também amei a obra de A. A. Deineka e o desenho da Gabriele Münter.

Desculpem o excesso de links! É para vocês terem um gostinho do livro… Ainda não li a introdução de Karen Joy Fowler, mas em breve conto aqui.

7 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:

♥ Li recentemente e adorei: Mamãe & Eu & Mamãe, da Maya Angelou (Rosa dos Tempos, 2018).

♥ O que estou lendo: J-B, Debret, historiador e pintor, de Valéria Lima (Ed.Unicamp, 2007). Achei por acaso na Livraria da Travessa e estou amando. Que maravilha de trabalho! Na próxima vida quero ser historiadora da arte.

♥ Acompanhando: a ótima série no blog da Sarah Toledo sobre livros escritos por mulheres.

♥ Li no celular e adorei: a bem-humorada história do casal Kana e Mateusz Urbanowicz, artistas vivendo no Japão, ela japonesa, ele polonês: 47 mini episódios em quadradinhos, por Kana Urbanowicz.

♥ Onde tenho navegado: Public Domain Review, que manda uma simpática newsletter. Outro dia publicaram essa lindeza de obra botânica.

♥ O que amaria ganhar de aniversário: But I Really Wanted to Be an Anthropologist, da divertida Margaux Motin!

♥ Onde tenho postado — Uma das melhores coisas de julho foi ter feito a mudança de duas estantes de livros do trabalho para casa. Eram obras que há muito tempo eu queria ter mais perto. Com a ajuda do Antônio, fizemos uma enorme reorganização e separamos bastante coisa para doar. Vou postar essas doações lá no Stories do Instagram (onde também venho mostrando as prateleiras reorganizadas — vou mostrar a de mulheres em breve). Meu perfil para quem quiser acompanhar: https://www.instagram.com/karinakuschnir/

ago2018_mini1

Sobre os desenhos: Primeiro fiz um rápido esboço a lápis de todas as mulheres e livros. Depois passei canetinha de nanquim permanente Pigma Micron 0.05 e colori com lápis-de-cor Polychromos, da Faber-Castell. Tentei usar uma paleta com poucas cores. Alguns pequenos detalhes fiz com canetinhas Pigma Micron de cores diversas. No final, sombreei com lápis-de-cor cinza e azul claro. Minhas preferidas são essas duas deitadinhas. A de cima é totalmente inventada e baseada no meu jeito de ler antes de dormir, vestindo uma calça de pijama bem velhinha que amo. A de baixo é inspirada na pose da imagem de Henner (link acima).

ago2018_mini2

Há algum tempo venho pensando no que eu poderia fazer com esses desenhos dos calendários mensais. Cheguei a pensar em redesenhá-los e imprimi-los na forma de cartões, mas quem ainda usa cartões de papel, além da minha mãezinha? O que vocês acham? Alguém gostaria de prints dessas imagens em resolução melhor? Se tiverem alguma ideia, me escrevam nos comentários ou em e-mails ou DM no Instagram.

Boa volta às aulas a tod@s!!

Você acabou de ler “Agosto/2018 – Mulheres que lêem são perigosas“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Agosto/2018 – Mulheres que lêem são perigosas”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Gx. Acesso em [dd/mm/aaaa].


12 Comentários

Junho/2018 e Bastidores do blog (2)

jun2018p

Bem-vindos ao mês de junho/2018! Aqui vai o calendário em .pdf para imprimir.

Há alguns dias, o blog ultrapassou a marca das 500 mil visualizações e 300 mil visitantes. São números pequenos para o tamanho da internet, mas gigantes para mim! 😀 Para comemorar esse meio milhão de cliques, resolvi retomar alguns temas do post Bastidores do blog escrito em maio/2017, e acrescentar outros, que chegaram em comentários, em perguntas de amigos queridos ou na minha cabeça mesmo:

Quanto custa manter o blog? Tenho duas despesas anuais fixas com o blog. Desde a sua criação, pago o tema/template Yoko do WordPress (30 dólares por ano), que permite escolher fontes e cores, widgets (códigos html pré-formatados para serem utilizados na lateral) e faz ajustes automáticos para diferentes telas (celular, tablet e computador). Em janeiro/2018, passei a pagar um plano Pessoal do WordPress (48 dólares por ano) para que parassem de aparecer anúncios no rodapé dos posts.

Por que você não utiliza o endereço karinakuschnir.com? O plano Pessoal do WordPress dá direito a um domínio .com mas, por enquanto, não me sinto bem associando meu nome a um domínio comercial.

O blog está hospedado em algum servidor? Não. Utilizo a hospedagem virtual do WordPress. No ano passado, me dei conta que não tinha backup! Com ajuda da minha sobrinha, passamos todos os posts para arquivos de Word, um conjunto para cada ano. Um dia ainda pretendo imprimir tudo… mas esse dia nunca chega.

Esse é o seu primeiro blog? Sim e não… Uso a internet desde 1991. Em 1994, criei uma disciplina eletiva na PUC-Rio chamada “Comunicação e novas tecnologias”. Adorava dar esse curso que teve o apoio do RDC (prédio da informática da PUC, onde trabalhei de 1992 a 2006) para termos acesso aos laboratórios conectados à internet. Criei blogs para dar suporte a vários cursos, mas foi nos anos 2000 que ajudei a montar um blog mais complexo para a Ong Amigas do Peito. O trabalho estrutural foi feito pelo webdesigner Marcelo Torrico com quem aprendi muito. Depois disso, fiz um blog institucional e vários de apoio a projetos. Este karinakuschnir.wordpress.com foi criado em 6/11/2013 e é meu primeiro blog pessoal de verdade.

Você ganha algo com o blog? Nada, em termos financeiros. Mas posso dizer que ganho muito em termos pessoais, afetivos e profissionais. Explico. Criei o blog inspirada numa página que fiz para o caderno Prosa do jornal O Globo, a convite da editora Mànya Millen, conforme já expliquei aqui. O objetivo era simples: me obrigar a publicar um desenho e um texto uma vez por semana, com o desafio de ser algo lúdico, útil e positivo. Essa regularidade me permitiu estreitar laços com pessoas conhecidas e desconhecidas, além de trazer leitores para os meus trabalhos acadêmicos, alimentando uma rede afetiva e intelectual. Como não sou muito enturmada na vida (sou aquela que ama estar nos bastidores), o blog vem me trazendo uma sensação boa, de pertencimento. O único momento embaraçoso é quando percebo (na vida real) que as pessoas sabem detalhes da minha vida e eu não estou sabendo nada da delas!

Quanto tempo você leva para escrever e desenhar um post? Atualmente, levo cerca de 6 horas para escrever e revisar o texto de um post normal. Se for um post sobre livros ou mundo acadêmico, preciso de o dobro de tempo. Para os desenhos, depende muito. Posso levar 4 horas ou mais. Venho melhorando um pouco nessa área: já consigo começar um desenho num dia e continuar em dias diferentes. Fico feliz quando isso acontece, já que nunca tenho tantas horas livres em sequência. No mais, o que escrevi no primeiro bastidores do blog continua valendo: não tenho pauta, nem consigo produzir com antecedência, mas adoro a sensação de ter feito!

Qual é a parte mais difícil de fazer o blog? Em termos práticos, o mais difícil (e frustrante) para mim é a preparação das imagens: escanear e editar os desenhos e aquarelas. Sou autodidata. Já melhorei depois de alguns cursinhos online, mas ainda sofro. Outros desafios constantes são: inventar ilustrações para os calendários e para posts acadêmicos, encontrar assuntos novos, ter tempo para escrever e desenhar com calma, ser engraçada e manter o tom positivo diante de tanta tragédia que acontece no Brasil (nem sempre consigo). Em termos pessoais, porém, o mais difícil é encontrar um equilíbrio entre dizer a verdade e me proteger da exposição excessiva. Acho super importante falar de vulnerabilidades, mas não consigo imaginar a vida sem um pouco de privacidade.

Como você escolhe os temas dos posts? O que vem primeiro: o desenho ou o texto? A graça de fazer o blog é alternar entre esses dois pontos de partida. Às vezes, o post surge de um desenho, às vezes de uma ideia. O que mais gosto de fazer são posts sobre livros que adorei ter lido ou de aulas lúdicas que deram certo (embora ambos sejam trabalhosos). Na última semana do mês, sinto um alívio por saber que não preciso pensar num tema, já que é a época de postar o calendário. Passo 30 dias buscando ideias para ilustrar o calendário do mês seguinte. Quando leio um livro, fico na espreita, avaliando se daria um post.

Quais posts você acaba não escrevendo? Às vezes tenho ideias mirabolantes para futuros posts que, pouco depois, murcham e perdem o sentido. Tem posts que desejo muito escrever, mas não posso, seja porque ferem o objetivo do blog — falar mal da vida e de certas pessoas, por exemplo! 😉 –, seja porque são sobre assuntos que preciso guardar para publicar em forma de artigos de pesquisa. Por mais que eu já tenha me libertado, ainda preciso produzir coisas que possam ser incluídas no Lattes.

Que novidades você gostaria de trazer para o blog? Uma das coisas que está nos meus planos a curto prazo é fazer um sumário que abranja todos os posts do blog (este é o 197º). A longo prazo, adoraria publicar os posts em português e inglês, para poder ser lida pelos amigos da área do desenho de outros lugares do mundo. Isso ainda não dá, pois teria que investir um tempo enorme para melhorar meu inglês escrito e para as traduções em si.

Qual é o balanço desse último ano do blog? Minha maior conquista nesse período foi ser mais assídua nas respostas aos comentários e ter publicado quase todas as postagens semanais. Adorei ter feito dois posts pela primeira vez com a ajuda dos amigos acadêmicos de carne e osso (e não apenas de bibliografia) que foram o Doze lições para ajudar a terminar TCC, dissertação e tese… Parte 1 e Parte 2.  Além desses, meus preferidos foram o Memória visual, espaços e cotidiano – Ideia para aula lúdica (4), o Sete coisas invisíveis na vida de uma professora, o Lições de escrita com Agatha Christie – Parte 1 e Parte 2, Você vai deixar de me amar se eu não acabar a tese? – Parte 1 e Parte 2.

Os posts mais pessoais  foram o Não Passei (2) – Janeiro foi fork! e Querido Diário. O post que mais me emocionou foi Desistindo de (quase) tudo, em função da repercussão afetiva que gerou nas pessoas e em mim (ainda não consegui responder os comentários desse, desculpem). Um dos posts mais leves e úteis, que me surpreendeu pela reação positiva, foi o Caderninho bom, bonito e barato. Além de todos os já citados, dois dos meus desenhos preferidos dos últimos meses são os dos posts Escrita Diária e Materiais – Canetinhas coloridas.

Qual o conselho você daria para quem pensa em começar um blog? Comecem! Estabeleçam alguns princípios e tentem seguir em frente. Acho que a ideia de postar semanalmente é perfeita, pois não é frequente nem espaçado demais. Se você não desenha ou produz as próprias imagens: invista nisso, tire fotos, se associe a um banco de imagens de qualidade ou utilize imagens de bases públicas, sempre dando os créditos. Por mais conteúdo que exista na internet, tem espaço para todo mundo. Vivo à procura de blogs legais para ler — mandem seus links! ♥

regua_p

Sobre o desenho: Para o calendário de junho, quis começar de um jeito que não precisasse me esforçar muito, já que semana passada fiz um desenho trabalhoso. Fiz as bolinhas com a ajuda de duas réguas de desenho geométrico, como essa que desenhei (imagem acima). Desde pequena, adoro essas réguas! Depois de fazer os círculos em tamanhos variados, com canetinha de nanquim permanente 0.2, fiz os traços internos com a mesma caneta, só que 0.05. A seguir, colori com as mesmas cores que utilizei na semana passada, com os lápis-de-cor Polychromos da Faber-Castell. O mais legal foi que a Alice me ajudou! Quando ficou pronto, vimos esse monte de “rodas” e pensamos que nosso subconsciente captou o tema do momento: caminhões, carros, gasolinas, estradas e bicicletas… ♥

ps: As rodas invadiram o dia 30 porque inicialmente eu tinha desenhado no calendário de Julho! Por sorte uma leitora querida do blog me avisou do erro. Troquei a parte interna do mês no Photoshop.

Você acabou de ler “Junho/2018 e Bastidores do blog (2)“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Junho/2018 e Bastidores do blog (2)”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3F1. Acesso em [dd/mm/aaaa].

junho2018_id


8 Comentários

Ler muda o mundo – sobre “O sol e o peixe” de Virginia Woolf

solpeixesp

“Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo.” (Virginia Woolf)

É difícil  começar a escrever sobre o livro “O sol e o peixe: prosas poéticas”, de Virginia Woolf: são tantas frases que dariam boas epígrafes! Como diz o subtítulo, é ensaio mas parece verso. Aí vão, por capítulos (fora de ordem), algumas ideias desse linda obra.

Em “A paixão pela leitura”, a autora celebra os livros como a grande criação da humanidade, nos provocando para sermos leitores mais generosos. Seu alerta é atual:

“(…) nossa primeira obrigação para com um livro é que devemos lê-lo pela primeira vez, como se o tivéssemos escrevendo. Para começar, devemos nos sentar no banco dos réus e não na poltrona do juiz. Devemos, nesse ato de criação, não importa se bom ou ruim, ser cúmplices do escritor. Pois cada um desses livros (…) representa um esforço para criar algo.” (p.35)

O mesmo poderia ser dito para a escrita ou leitura de uma tese! Deveríamos tentar entender um texto pelos olhos de quem o escreve. Assim, diz Virginia, aprendemos, inclusive com aqueles que mais “violentam nossos preconceitos”. (p.36) Um livro nos ensina quando deixa impressões “penduradas no armário da mente”, como “roupas que tiramos e penduramos à espera da estação adequada”. (p.38)

No ensaio “Montaigne”, a autora aproveita para nos falar da escrita de si:

“Dizer a verdade sobre si mesmo, descobrir a si mesmo de tão perto, não é coisa fácil. (…) aquilo que pensamos, quão pouco, então, somos capazes de transmitir!” (p.14)

Admirada pelo escritor-filósofo, pelo esforço de escrever dizendo a verdade, Virginia afirma:

“Pois, para além da dificuldade de comunicar aquilo que se é, há a suprema dificuldade de ser aquilo que se é. Esta alma, ou a vida dentro de nós, não combina absolutamente com a vida fora de nós.” (p.15)

Haverá um segredo para uma existência coerente, por dentro e por fora? O escritor deve se recolher ou seguir para o mundo?

“Observe a si próprio: num momento, você está todo animado; no seguinte, um copo quebrado deixa-o à beira de um ataque de nervos. Todos os extremos são perigosos. É melhor ficar no meio da estrada, nas trilhas costumeiras, por mais lamacentas que sejam. Ao escrever, escolha as palavras comuns; (…)” (p.18)

Uma vida flexível, disposta ao movimento e às mudanças, é uma vida mais real e feliz, sem a rigidez das convenções e da morte, escreve Virginia. “Talvez” é sua palavra favorita. “É preciso viver entre os vivos” (Montaigne, III, 8), buscando nos comunicar com nossos semelhantes.

“Comunicação é saúde; comunicação é verdade; comunicação é felicidade. Compartilhar é nosso dever; mergulhar energicamente e trazer à luz aqueles pensamentos ocultos que são os mais mórbidos; não esconder nada, não fingir nada; se somos ignorantes, dizê-lo; se gostamos de nossos amigos, fazer com que o saibam.” (p.22)

Como não concordar com esse lindo trecho?

A autora segue, falando do prazer de viajar, seja para longe, seja para dentro de um singelo sonho.

“A beleza está por toda parte, e a beleza está a apenas dois dedos de distância da bondade.” (p.23)

A lição que Montaigne lhe deixa é a de um “grande mestre da arte da vida”, a de alguém que “agarrou a beleza do mundo com todos os dedos”, atingindo a felicidade. (Algo que, infelizmente, sabemos que Virginia não conseguiu fazer; o que torna esse ensaio doloroso para quem ama sua obra, como eu.)

Suas lembranças do pai estão em “Memórias de uma filha: Leslie Stephen, o filósofo em casa”, segundo capítulo do livro. É bonito ler suas recordações de carinho, sabedoria, cachorros e caminhadas. Apesar de rígido quanto aos comportamentos, seu pai lhe dava o principal:

“se liberdade significa o direito de ter os seus próprios pensamentos e seguir suas próprias metas, então ninguém respeitava a liberdade — na verdade, insistia nela — mais completamente do que ele.” (p.32-3)

Na filosofia paterna, o lema era “leia o que quiser”! Aos 15 anos, Virginia tinha total liberdade para vasculhar a biblioteca de casa. Para ele, leitura e escrita eram simples: goste dos livros que gostar; e escreva “com o mínimo de palavras”, com clareza, dizendo o que quiser dizer. (p.33)

Escrevi apenas sobre os três capítulos iniciais, embora o restante do livro merecesse igual atenção. O caso é que o post já ficou muito longo, e logo nessa semana de Natal, que ninguém tem tempo de ler. Ou seria o contrário? Que melhor lugar para se refugiar nessa época do ano do que nas leituras, nos livros, ensaios, contos ou poemas?

Minha sugestão para essa próxima semana: desliguem os celulares e mergulhem num livro! É simples, é bom, e ainda nos recarrega, sem fio.

Muito obrigada por todos os comentários inteligentes e gentis que vocês escreveram nos últimos posts, de verdade! Até semana que vem. ☼

Sobre o livro: “O sol e o peixe: prosas poéticas”, de Virginia Woolf. Seleção e tradução Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.  Vejam que linda é a capa original (abaixo), projeto de Diogo Droschi. Pena que não deram o crédito da origem desses peixes, que devem vir de alguma coleção de ilustração científica antiga. Aproveito para agradecer mais uma vez à leitora do blog que me indicou esse livro. ♥

solpeixe_capa.jpg

4 coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-ou-dignas-de-nota da semana:

♥ Para quem lê inglês: fui uma das milhares de pessoas que se emocionaram e se divertiram com o conto Cat person, de Kristen Roupenian, da New Yorker. (Em breve sairá em português pela Companhia das Letras.)

♥ Para quem tem filhos entediados: essa semana nos divertimos jogando Banco Imobiliário Júnior. Era daqueles brinquedos de tabuleiro velhos, que já estava quase indo para doação, mas reviveu por insistência da Alice. Derrubamos algumas regras, criamos outras, fizemos doações generalizadas e falimos! Tudo sem precisar de internet.

♥ Uma notícia maravilhosa: nosso livro “Do gato Ulisses as sete histórias” foi selecionado como leitura recomendada para os alunos das escolas municipais de Belo Horizonte. Meu agradecimento à nossa querida editora Cilene Vieira, pelo empenho em divulgar essa obra. (Uma seleção de trechos do livro aqui.)

♥ Por falar em livros, estou lendo “Azul: história de uma cor”, de Michel Pastoureau, edição portuguesa da Orfeu Negro, com tradução de Anabela Carvalho Caldeira e José Alfaro (2016). Do mesmo autor, já li “Preto: história de uma cor”. Quando acabar, prometo que faço um post sobre os dois.

 

Sobre o desenho que abre o post: Peixes inspirados nos desenhos da capa do livro, feitos com as limitações de cores que tenho trabalhado no meu caderno atual Laloran, como expliquei aqui. Canetinhas azuis Muji 0,38, Pigma Micron 0,2, Tombow Brush (números 451 e 526); e uma amarela da Faber-Castell Pitt brush. Não vejo a hora de acabar esse caderno, mas sinto que aprendo com o desafio das cores restritas. E, aqui, nesse cantinho onde só chegam os artistas que lêem o blog, meu desejo para as férias: bons desenhos e pinturas! Quem tem um sketchbook nas mãos, nunca está só. ♥