Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Lagartas azuis

2013 11 18 azul-001

Hoje peguei um pacote perdido de biscoito creme-craquer-com-gergelim no armário. Na dúvida, dei uma olhada no prazo de validade, pra meados de 2014 (ainda estou conseguindo ler esse tipo de informação, ainda que por cima, ou por baixo, dos óculos, oh idade). Abri o pacote e, bem naquele instantinho antes da primeira mordida, lá estavam elas: lagartinhas se movimentando pra todo lado. Não fiquem com nojo, ainda.

Nojo foi quando comi várias, que fizeram o favor de vir acompanhando umas ameixas caríssimas que comprei no Zona Sul quando estava grávida da Alice. Eu toda me achando, comprando ameixa importada. E toca a ligar para médico, clínico geral, gastro, obstetra, até pediatra… — “doutor, tô grávida, comi umas lagartas nojentas!! e agora?” E todos muito blasés, uns mais íntimos até rindo e parecendo o meu padrasto nos seus dias de humor negro: “Que nada, é proteína!! Vai até fazer bem pro bebê.”

Mas fiquei tão enfurecida que fui pra delegacia dar queixa… O pobre do gerente já tava até demitido quando chegou o dia da audiência de pequenas causas e a coisa não deu nada em nada. Ou melhor, deu que as lagartas do Zona Sul continuam felizes comendo suas ameixas e biscoitos, e a gente que deixe de frescura.
E por que escrevo sobre isso?? É que as lagartas no biscoito me lembraram dos meus dias de fúria e de tristeza… e de como essa coisa de desenhar e escrever e outros talentos que a pessoa tenha são nossas tábuas de salvação…
É por isso gosto tanto dos textos do Arthur, dos dias de chuva, dos contos que meu amigo Mauro deveria estar escrevendo, e do Mário e do Ruy Castro e de todos os doidos que eles biografam, enfim, dessa gente que cheira, chora, bebe, se mata e no meio disso tudo cria coisas. (Mas tão aí a Lygia Bojunga e a Sylvia Orthof provando que podem ser maneiras de um jeito um pouco menos auto-destrutivo.)
Então já vou desescrevendo o post da semana passada. Nada de blog bem-humorado p* nenhuma. Senso de humor, ok. Mas bom humor o tempo todo não dá. Hoje estou mais para Familia Addams… A cena da Wandinha acabando com o acampamento wasp vale mil filmes da Disney.
Vejam que esse blog não tem coerência alguma. Começou todo amarelo e animado. Depois ficou vermelho. E agora chegou na cor num azul bem fundo… que é de piscina e felicidade, mas também é dos olhos e da alma cheia d’água… que é como a gente fica quando pensa nos desencontros, nos malditos que morreram cedo demais, nos malucos que resolveram pirar em vez de deprimir um pouco menos, na pobreza no Maranhão e na Etiópia (que ainda por cima agora eu conheço pelos desenhos do Manoel João Ramos, outro que sofreu perdas demais para uma vida só, e fez alguns dos livros mais lindos da antropologia atual.)
Afinal, esse blog é sobre o que? Sobre mim é que não é. Que não sou novaiorquina nem nada para querer um blog “about me, by me, myself” (título, aliás, de um livro maravilhoso do Dr. Seuss que não vou linkar aqui porque pretendo escrever sobre ele em breve).

Fico devendo a resposta num próximo post. Vou tentar trazer alguma coisa útil. Utilidade é fundamental.

Pensando bem, aqui vai a primeira coisa útil que publico: “não comam nada comprado no supermercado Zona Sul antes de dar uma boa olhada para ver se as lagartinhas chegaram primeiro!”

E para não dizer que sou caótica: os posts principais saem em algum horário às quartas-feiras. (Porque a quarta é o melhor dia da semana: nem tão segunda para dar cansaço, nem tão sexta para nos trazer aquela obrigação de se divertir.)
(E se alguém tiver ideia de dia melhor, me avise. E se alguém tiver saudade de ler alguma bobagem, fique de olho no histórico, pois vou postar coisas antigas em datas antigas e ir acrescentando algumas páginas fixas, como a “Do blog e de mim“.)
Sobre o desenho azul:  No meio da piscina, minha filha e seus dois amiguinhos em momento de felicidade extrema. Fiz o desenho no sábado (16/11/2013) em um caderninho simples, com uma caneta preta Pilot bem comum. Depois pintei em casa com aquarela cor Ultramarin e, quando a tinta secou, desenhei por cima com caneta Posca branca. Para a versão digital, tive que acrescentar um pouco de saturação com o Picasa, pois o scanner sempre estraga os azuis. (Fiquei mais conformada com isso depois que li em vários blogs de artistas-de-verdade que eles enfrentam o mesmo problema. E tive aquela sensação que, afinal, todos precisamos ter quando estamos nos sentido azuis por dentro: “Ufa, não sou só eu.”)