Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Os afetos que nos movem

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“Professora Karina!
Escrevi para você por e-mail no início de 2019. Conversamos sobre as durezas dos nossos tempos, desde o incêndio do Museu. Te contei do que mamãe me falava sobre fragmentos de felicidade e de como seu blog cumpriu um papel fundamental na minha saúde emocional de pesquisador.
Essa madrugada eu terminei o texto da dissertação. Tudinho. Pronta para imprimir. E na hora lembrei de todos os textos que você já escreveu e que serviram como abraços para nós, jovens cheios de incerteza sobre a qualidade do que fazemos.
Queria reafirmar a você o quanto seus textos foram importantes para me convencer a acreditar em mim mesmo. Muitíssimo obrigado, professora Karina! Você cumpre um papel indispensável e de excelência na academia brasileira”

Recebi esse texto hoje e não pude deixar de me emocionar. Normalmente não compartilharia aqui um elogio a mim mesma, mas relevem: estou merecendo.

Na semana passada, fui jogada de um barco em alto mar. Foi um susto, uma violência? Foi. Mas sou grandinha e sei nadar. Tô ferida-viva, aquecida pelas mensagens de carinho e conseguindo fazer uma das coisas que mais amo no mundo: escrever e desenhar para compartilhar com vocês.

Respondi ao jovem da mensagem com o maior sorriso que encontrei dentro de mim. Agradeci cada palavra e disse aquilo que um dia tanto me ajudou na tempestade que foi o meu doutorado: “Parabéns por finalizar a sua dissertação. É sua, é seu trabalho; é algo que ninguém nunca vai poder tirar de você.

E completei: nos momentos difíceis, cada vez mais acredito que o caminho é a gente se doar — compartilhar coisas e conhecimentos para, quem sabe, facilitar a vida de quem estiver precisando.

No meio da nossa conversa, que seguiu por muitos parágrafos, ele mencionou um verso da música do Caetano Veloso, “Desde que o samba é samba”. Cito duas estrofes:

“Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora”

“O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou
O samba não vai morrer
Veja o dia ainda não raiou
O samba é pai do prazer
O samba é filho da dor
O grande poder transformador”

Sem que eu precisasse explicar nada do que estava acontecendo comigo, ele escreveu:

“A família por vezes faz com que passemos por momentos delicados. Eu desejo de todo coração que tudo isso passe, passe logo, e que enquanto isso não acontecer, que você tenha serenidade para lidar com aquilo que escapa ao seu controle.

Junto com a terapia, a meditação foi um outro instrumento que me ajudou a cuidar de mim. Às vezes, a única coisa que o dia pede é essa lição de sentar, respirar e observar nossas dores. E no fim, conseguimos até valorizar nossos fragmentos de felicidade, mesmo quando tudo fica ‘demorando em ser tão ruim’.

O que afaga o coração é olhar para o lado e ver que os afetos seguem nos movendo. Talvez essa seja das coisas mais doloridas, mas igualmente mais fascinantes da condição humana. (…) Talvez o melhor caminho seja ser mais fiel às nossas vontades do que aos nossos medos.”

Como eu poderia escrever melhor? Que presente ler algo tão significativo. Quanta sabedoria numa pessoa que acabou de passar por processos difíceis.

Quanto estamos em sintonia conosco, as pessoas e as portas certas parecem nos encontrar e se abrir sem esforço. Quando não, tudo parece demorar em ser tão ruim…

Como saber se estamos diante da porta certa? Para mim, é quando encontro um sorriso íntimo, um suspiro gostoso, uma vontade de cantar um ‘samba transformador’. Mesmo que o mundo lá fora diga não. Respondi para ele (e pra mim): “Fique atentos. Quando o coração bater de alegria, presta atenção. Quando bater de alívio, porque algo tava pesando, presta atenção também. É nisso que tenho pensado nesse momento.

Diante da tsunami e do mar sem boias, precisamos nadar e buscar novos sentidos para nos sentirmos inteiros. (Tem receitinha-lembrete no post da semana passada).

Meu desejo para vocês que estão terminando suas dissertações e teses nesse momento: força, calma, clareza, compaixão, paciência, e um pouquinho de disciplina, que não faz mal à ninguém. E lembrem-se do nosso mantra: “vai passar”.

Boa sorte, pessoal! Saibam que cada um de vocês importa, cada pesquisa importa, cada parágrafo que produz conhecimento sobre esse nosso mundo doido importa!

Coisas impossivelmente-legais-bonitas-emocionantes-e-dignas-de-nota da semana:

♥ A vitrola antiga-nova da Alice está a mil alegrando a casa. Ela está ganhando e comprando vinis, de João Gilberto a Diana Ross. ☺

♥ Visitamos nossa amiguinha do peito Helena e saímos de lá com uma foto polaroid. Que coisa fofa!

♥ Fomos ao teatro ver a última sessão da temporada de Novos Baianos – O musical. Emocionante! É indescritível de tão lindo o trabalho dos atores-bailarinos-músicos. Não percam quando o espetáculo voltar ao Rio.

♥ Encontrei ex-aluna, ex-colega de departamento, amiga de infância, amigas de internet, amiga de trabalho, amiga de desenho, amiga de bairro, prima, irmã, mãe, titia. Mulher é um bicho bom demais, gente. Mulheres maravilhosas, obrigada! ♥

♥ Para não desqualificar a categoria como um todo, vamos lá, tenho que admitir: quatro homens foram engraçados, gentis e solidários, sendo um deles o que me escreveu as mensagens desse post.

♥ Tento tentado postar diariamente nos stories do meu Instagram. Consegui redesenhar e pintar à mão a logomarca que aqui no blog ainda estava na versão original do App. Agora ficou assim:

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Sobre o desenho: Esse jovem no metrô é parte do meu projeto 50 Pessoas em Aquarela (estou na pessoa 21/50). Linhas feitas por observação direta no Metrô do Rio, voltando tarde da noite. A canetinha foi uma Pigma Micron 0,05 de nanquim permanente. O caderno foi um bloquinho Hahnemühle como esses aqui. Adicionei as cores em casa, com as aquarelas que estão nessa paleta. Depois escaneei e limpei as sombras do papel no Photoshop. O rapaz bonito estava entretido com um grupo de música cujo aparelho de som estava bem ao seu lado no chão.

Você acabou de ler “Os afetos que nos movem“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “Os afetos que nos movem”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Q8. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Permissão para acreditar

saudecrianca_p.jpgSabe aquele desânimo com tudo? A sensação de que nadamos, nadamos e nada de bom acontece? Convido vocês a fazerem uma pausa. Podem acreditar: existem pessoas que pensam grande, que abraçam famílias inteiras em situação vulnerável, que têm projetos de aconchego e crescimento.

A Associação Saúde Criança é assim. Acredita que o mundo só será saudável quando todas as pessoas tiverem as mesmas oportunidades e direitos. Acredita que saúde se alcança dentro e fora do hospital, com tratamentos e tecnologia, mas também com famílias que possam se sustentar e ser socialmente felizes.

Conheci o projeto através da minha família, que apadrinhou duas crianças com doenças crônicas atendidas pelo Saúde Criança. Em 2015, tive a felicidade de ver de perto o apoio às famílias com filhos em tratamento oncológico. O desenho para a campanha “Câncer infantil tem cura: diagnóstico precoce salva vidas” foi uma ação voluntária que me trouxe muita alegria, emoção e, sobretudo, humildade. Minha contribuição era tão pequena perto do trabalho diário gigantesco dos que se envolvem no Saúde Criança para mudar a vida das famílias de quem passa por lá, do bebê aos irmãos, da mãe, do pai, dos cuidadores, da madrinha, do vô e da vó.

Convido vocês a conhecerem, se envolverem e doarem!

Aqui no Rio de Janeiro, estamos recolhendo doações de roupas de crianças de zero a 12 anos, além de cobertores, casacos e acessórios de inverno. Basta mandar uma mensagem para a Vera no (21) 98131-0108, por Whatsapp.

Quem preferir, pode doar diretamente na sede da Associação Saúde Criança, na Rua das Palmeiras, 65 – Botafogo, tel. (21) 2286-9988, ou em alguma das outras sedes (Gávea, Ilha do Governador e Petrópolis no RJ; e Porto Alegre-RS).

Para contribuir de outra forma, conheçam as histórias das famílias atendidas no projeto Transforme uma Realidade (com doações do tipo Benfeitoria), além de outras doações possíveis e do trabalho como voluntário(a).

Para saber mais sobre a Associação Saúde Criança: uma entrevista na revista Trip com sua fundadora Vera Cordeiro, um vídeo no Bom Dia Brasil e outro sobre os 20 anos da ong no programa Fátima Bernardes. As informações completas, sobre todas as esferas do projeto, estão na página Saudecrianca.org. Nas redes sociais, tem o perfil SaudeCriancaBrasil no Facebook e o @SaudeCriança no Instagram.

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Sobre o desenho: Juntei roupas que tinha aqui em casa para fazer um desenho de obervação. Tive que subir no armário de guardados e resgatar algumas peças das crianças. Achei um casaquinho e um gorro de tricô colorido (da marca brasileira PUC) que foi super usado pela Alice. Deu uma saudade imensa de quando ela era bebê!

Primeiro fiz um esboço com lápis grafite HB no verso de uma folha do bloco XL Canson Mix-Media. (Ufa, última folha desse bloco de que não gostei muito, mas que utilizei até o final.) Depois retracei os contornos principais com caneta de nanquim permanente descartável Pigma Micron Sakura 0.4. Os detalhes internos e as texturas de cada peça foram desenhadas com a mesma caneta, só que com espessura de ponta 0.05. Para os escritos laterais, utilizei uma 0.2. O contorno da palavra “Doações” foi feito com uma Pigma Micron 0.05 colorida (não achei número nem nome, mas é no tom “sanguínea”, que também se chama de “Sienna queimada” ou nossa velha e boa “cor de tijolo”). A palavra “Saúde” foi feita com várias Pigma Microns coloridas e uma esferográfica Pentel R.S.V.P. med. para a cor turquesa.

Meu plano inicial era pintar o desenho principal com aquarela. No entanto, diante da quantidade de detalhes, achei melhor utilizar os lápis de cor. Aproveitei para usar os Polychromos da Faber-Castell que comprei em janeiro/2017 — amo tanto que me arrependi de não ter investido em um conjunto com mais cores!.

Como o casaco da Alice seria o destaque no desenho, resolvi começar por ele e acabei utilizando a mesma paleta em todo o restante. A cor do título tem um nome lindo: “Pompeian Red”. O resultado ao vivo ficou, como sempre, bem mais leve e bonito do que o escaneado. Outro problema é que cada tipo de tela “aquece” ou “esfria” o desenho conforme sua vontade… No meu celular, está quente, no notebook, azulado… affe! (Definitivamente preciso fazer um curso de como tornar as versões digitais mais parecidas com as analógicas. Se alguém souber onde, me avisa, por favor! )

Minha inspiração para a imagem desse post (em termos de combinar título-desenho-e-texto) é o trabalho da artista Wendy Macnaughton. Admiro muito sua militância pelos direitos civis e lgbtx, assim como sua visão de arte e cidade em obras como o livro Meanwhile San Francisco e também no Instagram @wendymac.

E para todos que chegaram até aqui, obrigada pela companhia!
Aproveitem o domingo para separar suas doações. Aguardamos os contatos na segunda-feira!

Um ótimo final de final-de-semana! ☼

Você acabou de ler “Permissão para acreditar“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Permissão para acreditar”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3ER. Acesso em [dd/mm/aaaa].