Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Ulisses em fuga

agosto2014b

Juro para vocês que não foi planejado. Aconteceu exatamente assim.

O tema das chaves para o calendário de agosto já estava na minha cabeça há alguns dias. Nem precisa chamar o Sherlock Holmes para adivinhar por que… Com esse monte de mudanças, fui juntando uma tonelada de chaves. Até que ontem, finalmente, ia sentando para desenhar, já mais-do-que-atrasada-e-culpada, quando se deu a seguinte cena:

Antônio: — Tchau, mãe, estou indo!

Vou até a porta dar um beijinho nele: — Tchau, filho, vai bem.

De repente, o gato Ulisses corre por entre as nossas pernas porta afora e escada acima em alta velocidade!

Sem pensar, saio correndo de meias atrás dele pelos andares, mas ainda lembro de gritar:

— Filho, cuidado… com… não…!!! …a porta!!

No meio da frase ouço um grande “blam!”

Antônio, achando que eu estava preocupada com a fuga dos outros gatos, puxou com toda vontade a porta, que ficou lá, fechadinha-da-silva.

— A porta… a porta… não… não…

Me desesperei… Tudo bem não ter casa direito há quase quatro meses, mas ficar totalmente sem teto (e sem sapatos; e numa roupa-pijama!) foi demais.

Praguejei tanto que a vizinha saiu para ver se alguém tinha morrido!

Quando contamos a história da porta, com o gato pendurado no colo querendo fugir de novo, ela quase deu risada. Só não deu porque sentiu que eu voaria no pescoço dela, coitadinha. Uma boa alma!

— Calma, pode deixar que eu chamo um chaveiro para vocês. Vai dar tudo certo.

E nem precisou. Depois de uns minutos de suspense, chegou o porteiro João, que olhou pra tudo aquilo mais calmo ainda. Pegou sua maletinha, chaveou daqui, chaveou dali, voltou com um alicatezinho e “plec”! Coisa-mais-fácil-do-mundo.

— Ai, você salvou a minha vida…

E pronto. Antônio foi para a vó. E eu tratei de dar um bom dinheiro para o João e um pacote de chocolates para a vizinha. E para me acalmar voltei a desenhar… O que eu ia desenhar mesmo? Ah, sim: chaves!

Alice-filósofa:

Alice — Mãe, agora que me toquei. Quando eu jogo futebol eu não penso. Por que? Porque fico muito concentrada e não ligo pra mais nada.

 

Eu — É, Alice, que bom!

Alice — Quando fico concentrada, fazendo coisas de agilidade, correndo, meu corpo toma o controle de tudo. Não ligo pra mais nada.

Eu — É, filha, bonito o que você disse.

 

Alice —  Quando você não está fazendo nada, você pensa o tempo todo. E até pensa que está pensando! Você não consegue não pensar. E não pensar é muito bom!

Sobre o desenho: Depois de tudo o que aconteceu, qualquer desenho tá perdoado… Saiu tosco… As chaves ficaram grandes demais… Mas é melhor um desenho-mais-ou-menos do que nenhum-desenho, certo? E foi bom ter feito o calendário, porque desenhar para mim é como jogar futebol para a Alice: uma forma muito boa de não pensar! // As linhas foram feitas com canetinha Staedler de nanquim permanente 0.05 e a cor com ecoline diluída e colocada na caneta de aquarela (waterbrush). Tentei usar um pouco de hachurado, mas faltou coragem para fazer as partes escuras de verdade. O original estava em sépia; e ficou tristíssimo! Consegui esse azul depois de scanear, com a ajuda do Photoshop. Prometo algo mais alegre em setembro!