Karina Kuschnir

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Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses

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No capítulo 2 de Mansfield Park, de Jane Austen, conhecemos Fanny Price, a personagem principal, aos 9 anos. Muito triste por ter sido separada de sua família para viver na casa de tios ricos, Fanny não consegue parar de chorar ou de ficar amuada.

A única pessoa que se preocupa de verdade com ela é seu primo Edmund. Ele insiste em saber o motivo de tanta tristeza, e acaba descobrindo que é saudade de casa, da mãe e, especialmente, de seu irmão William.

Numa época de difícil comunicação, Fanny desespera-se porque havia prometido escrever para o irmão, mas “não sabia; não tinha papel”. Edmund prontamente lhe diz:

“E — Se o problema é só esse, eu lhe arrumo papel e todo o material necessário, e você pode escrever quando quiser. Escrever para William vai deixá-la feliz?”
F — “Sim, muito.”
E — “Então vamos tratar disso agora mesmo. Venha comigo até a sala de desjejum; e lá encontraremos tudo que precisamos e ficaremos sozinhos.”

Ontem, comecei a reler esse livro, que li em 2016. Ao lado desses diálogos, descobri uma anotação antiga a lápis: “a escrita cura ♥”.

Estou precisando encontrar a Fanny Price dentro de mim. Fanny é uma heroína discreta, por vezes irritante de tão séria, mas encantadora, ética e amorosa. Apesar da extrema generosidade, Fanny desafia a todos não cedendo em seus princípios. Jane Austen quase nos faz ficar contra ela, nos envolvendo em tramas de caprichos e egoísmo dos demais personagens. Mas, ao final, é Fanny que estava certa.

Estar do lado certo é bom, mas exige força, calma e clareza interior imensas. No plano pessoal ou político, quem luta, sabe. Não é fácil. Sigamos.

Inspirada em Fanny, escrevi essa receitinha abaixo:

Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses:
• Escreva, desenhe, pinte, medite, leia.
• Converse com as amigas, faça terapia.
• Dedique tempo a você, aos filhos e aos bichos.
• Pratique exercícios.
• Organize a casa; faça doações e trabalho voluntário.
• Corte o contato com a pessoa que te faz mal.
• Dê tempo ao tempo.
• Imagine-se no dia seguinte, no futuro.
• Lembre-se de que tudo passa. Isso também vai passar.

Achei que seria útil! Embora eu não esteja me referindo à vida acadêmica, ao fazer essa listinha, lembrei de mais um conselho maravilhoso que recebi da Maria Claudia Coelho, quando eu estava desesperada com os prazos de trabalhos de curso na pós-graduação. Ela sempre repetia: imagine-se no dia depois da entrega. Foque na sensação boa de dever cumprido e faça. Não precisa ficar perfeito, só feito.

Já nos meus 11 anos como voluntária das Amigas do Peito, a frase que mais dizíamos para as mães e famílias com dificuldades com seus bebês era a que repito agora, como um mantra: “vai passar”.

Coisa impossivelmente-legal-bonita-interessante-e-digna-de-nota:

heleEssa semana queria indicar uma coisa só: o currículo da minha amiga Helê Costa, que está disponível para criação de conteúdo e revisões de texto, daquelas bem aprofundadas, que ajudam a clarear a argumentação. Além de tudo, a Helê, junto com a Monix (Mônica Chaves), é autora de um blog que eu amo, o Duas Fridas.

Sobre o livro: Mansfield Park, de Jane Austen, editora Penguin/Companhia das Letras. A citação está na página 104.

Sobre a pintura: Hoje a ilustração do post é uma pintura a óleo do meu filho Antônio Kuschnir, da série “Choro” que ele tem produzido para uma futura exposição. A coleção está sendo mostrada no Instagram @antoniokuschnir e no Facebook. Só um detalhe: a moça da pintura tá chorando mas eu não. Tô mais na vibe Rainha de Copas: cortem as cabeças!

Você acabou de ler “Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “Receita para superar desamor, traumas, perdas e teses”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3PD. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Limonadas

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Pessoas queridas, obrigada pelas mensagens depois do post tristinho da semana passada. Precisamos resistir, vocês têm toda razão. ♥ Como me disse uma amiga na semana passada, depois de recebermos uma má notícia no trabalho: bora pensar como transformar esse limão em limonada. 

Resolvi tentar um formato-conversa, para não me exigir tanto em termos de tempo e produção. (Vou fingir que criei uma newsletter, porque tá na moda, mas na verdade é só um post no blog mesmo, que vocês podem receber automaticamente se colocarem o e-mail na caixinha de inscrição.)

A falta de imagens boas e originais é uma das principais dificuldades que venho enfrentando para produzir conteúdo semanal. Continuo desenhando nos meus caderninhos de bolsa, mas nunca acho que os rabiscos estão bons o suficiente para o blog. (Vejam que absurdo, logo eu que dou aula sobre não existir desenho ruim!). Além disso, nos dias de ateliê (já contei que voltei para as aulas da Chiara?), tenho pintado pra relaxar, reproduzindo imagens de outros artistas para aprender suas técnicas. Por isso não dá para publicar aqui.

Portanto, meu desafio é voltar a criar imagens para o blog regularmente. Saudades de começar meu dia desenhando e pintando! Desde setembro de 2018 perdi o ritmo. Além dos motivos que vocês já sabem, em 2019 assumi um cargo administrativo bem puxado, que toma mais da metade da minha semana, sem contar aulas e todo o resto na universidade. Não reclamo. Gosto de trabalhar e me sinto honradíssima de ter um emprego, ainda mais esse cuja atividade fim é estudar e formar.

Não sei se vocês sabem, mas lá na pre-história da minha vida, cursei dois semestres de Design. Depois fiz outro vestibular e mudei para Comunicação. Na hora da matrícula, não me perguntem por quê, optei por Publicidade. Um dia, o professor pediu um trabalho sobre profissionais de agências. Quase no finalzinho de uma entrevista, um veterano publicitário me falou uma coisa que nunca esqueci:

— Minha filha, você parece tão inteligente… Você quer passar o resto da sua vida vendendo água com corante e açúcar? [E apontou uma Coca-Cola.] Não siga essa profissão!

Não sei se foi nesse dia, ou se caiu a ficha porque eu gostava das disciplinas teóricas. No semestre seguinte, mudei para Jornalismo. Amei o curso, que tinha um currículo considerado antiquado porque  a maioria das disciplinas era oferecida por antropólogos, sociólogos, historiadores e filósofos. Imaginem, foi a minha sorte.

Por tudo isso, e por minha breve experiência no mercado, agradeço todos os dias por ter um trabalho que, embora árduo, não me obriga a vender algo.

Nossa, essa carta deu voltas, desculpem se ficou sem rumo! E eu que achava que ia escrever sobre o limão e a limonada… Fica para outro dia!

Queria indicar para vocês novamente os conteúdos da Nátaly Neri, do canal Afros e Afins. Ela fez um vídeo que me tocou muito sobre “aprendizados não lineares”; sobre como, às vezes, temos muito a aprender olhando com generosidade para nossos eus passados. Me ajudou demais nessa fase de achar novos caminhos para a minha própria produção de conteúdo. Aqui vai o link.

Eu teria um monte de outras indicações, pois tenho lido bastante (viva) e consumido coisas legais na internet. Mas fica para a próxima. Sou lenta, gente. Não dá para ficar seis horas escrevendo e editando um post. Esse já está em 2h47min, sem contar o tempo de rever e produzir a imagem. Por isso, resolvi que *talvez* faça posts menores e mais frequentes (suspiros-alert: promessas virtuais são tão perigosas! E isso me lembra outros dois vídeos ótimos e engraçados da N. Neri, justamente sobre cumprir desafios na internet: tem esse sobre procrastinação e esse sobre ficar 7 dias offline.) 

Então, combinado: nada de sofrermos sozinhos. Sigamos dando abraços apertados, desses que dão força para continuar, seja qual for a tempestade.  E, para quem quiser e puder, doações da vida real: o Rene Silva está reunindo recursos para compra de cobertores; e a Winnie Bueno faz um “Tinder de livros”, uma campanha para encontrar doadores de livros para pessoas que precisam. ♥

Sobre o desenho: Esse limão foi pintado por observação num workshop de tinta guache que fiz no Ateliê Chiaroscuro em janeiro/2019. Adorei a experiência. O papel foi parte do material oferecido pela Chiara, mas tenho quase certeza de que é um bloco Hahnemühle tonalizado, tipo kraft.

Você acabou de ler “Limonadas“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2019. “Limonadas”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3KC. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Permissão para acreditar

saudecrianca_p.jpgSabe aquele desânimo com tudo? A sensação de que nadamos, nadamos e nada de bom acontece? Convido vocês a fazerem uma pausa. Podem acreditar: existem pessoas que pensam grande, que abraçam famílias inteiras em situação vulnerável, que têm projetos de aconchego e crescimento.

A Associação Saúde Criança é assim. Acredita que o mundo só será saudável quando todas as pessoas tiverem as mesmas oportunidades e direitos. Acredita que saúde se alcança dentro e fora do hospital, com tratamentos e tecnologia, mas também com famílias que possam se sustentar e ser socialmente felizes.

Conheci o projeto através da minha família, que apadrinhou duas crianças com doenças crônicas atendidas pelo Saúde Criança. Em 2015, tive a felicidade de ver de perto o apoio às famílias com filhos em tratamento oncológico. O desenho para a campanha “Câncer infantil tem cura: diagnóstico precoce salva vidas” foi uma ação voluntária que me trouxe muita alegria, emoção e, sobretudo, humildade. Minha contribuição era tão pequena perto do trabalho diário gigantesco dos que se envolvem no Saúde Criança para mudar a vida das famílias de quem passa por lá, do bebê aos irmãos, da mãe, do pai, dos cuidadores, da madrinha, do vô e da vó.

Convido vocês a conhecerem, se envolverem e doarem!

Aqui no Rio de Janeiro, estamos recolhendo doações de roupas de crianças de zero a 12 anos, além de cobertores, casacos e acessórios de inverno. Basta mandar uma mensagem para a Vera no (21) 98131-0108, por Whatsapp.

Quem preferir, pode doar diretamente na sede da Associação Saúde Criança, na Rua das Palmeiras, 65 – Botafogo, tel. (21) 2286-9988, ou em alguma das outras sedes (Gávea, Ilha do Governador e Petrópolis no RJ; e Porto Alegre-RS).

Para contribuir de outra forma, conheçam as histórias das famílias atendidas no projeto Transforme uma Realidade (com doações do tipo Benfeitoria), além de outras doações possíveis e do trabalho como voluntário(a).

Para saber mais sobre a Associação Saúde Criança: uma entrevista na revista Trip com sua fundadora Vera Cordeiro, um vídeo no Bom Dia Brasil e outro sobre os 20 anos da ong no programa Fátima Bernardes. As informações completas, sobre todas as esferas do projeto, estão na página Saudecrianca.org. Nas redes sociais, tem o perfil SaudeCriancaBrasil no Facebook e o @SaudeCriança no Instagram.

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Sobre o desenho: Juntei roupas que tinha aqui em casa para fazer um desenho de obervação. Tive que subir no armário de guardados e resgatar algumas peças das crianças. Achei um casaquinho e um gorro de tricô colorido (da marca brasileira PUC) que foi super usado pela Alice. Deu uma saudade imensa de quando ela era bebê!

Primeiro fiz um esboço com lápis grafite HB no verso de uma folha do bloco XL Canson Mix-Media. (Ufa, última folha desse bloco de que não gostei muito, mas que utilizei até o final.) Depois retracei os contornos principais com caneta de nanquim permanente descartável Pigma Micron Sakura 0.4. Os detalhes internos e as texturas de cada peça foram desenhadas com a mesma caneta, só que com espessura de ponta 0.05. Para os escritos laterais, utilizei uma 0.2. O contorno da palavra “Doações” foi feito com uma Pigma Micron 0.05 colorida (não achei número nem nome, mas é no tom “sanguínea”, que também se chama de “Sienna queimada” ou nossa velha e boa “cor de tijolo”). A palavra “Saúde” foi feita com várias Pigma Microns coloridas e uma esferográfica Pentel R.S.V.P. med. para a cor turquesa.

Meu plano inicial era pintar o desenho principal com aquarela. No entanto, diante da quantidade de detalhes, achei melhor utilizar os lápis de cor. Aproveitei para usar os Polychromos da Faber-Castell que comprei em janeiro/2017 — amo tanto que me arrependi de não ter investido em um conjunto com mais cores!.

Como o casaco da Alice seria o destaque no desenho, resolvi começar por ele e acabei utilizando a mesma paleta em todo o restante. A cor do título tem um nome lindo: “Pompeian Red”. O resultado ao vivo ficou, como sempre, bem mais leve e bonito do que o escaneado. Outro problema é que cada tipo de tela “aquece” ou “esfria” o desenho conforme sua vontade… No meu celular, está quente, no notebook, azulado… affe! (Definitivamente preciso fazer um curso de como tornar as versões digitais mais parecidas com as analógicas. Se alguém souber onde, me avisa, por favor! )

Minha inspiração para a imagem desse post (em termos de combinar título-desenho-e-texto) é o trabalho da artista Wendy Macnaughton. Admiro muito sua militância pelos direitos civis e lgbtx, assim como sua visão de arte e cidade em obras como o livro Meanwhile San Francisco e também no Instagram @wendymac.

E para todos que chegaram até aqui, obrigada pela companhia!
Aproveitem o domingo para separar suas doações. Aguardamos os contatos na segunda-feira!

Um ótimo final de final-de-semana! ☼

Você acabou de ler “Permissão para acreditar“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Permissão para acreditar”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3ER. Acesso em [dd/mm/aaaa].