Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Uma doce sensação de abrigo em 2024

Pessoas queridas, pensei que estava só com paciência e prática, mas lembrei que estou apaixonada pela George Eliot. Em sua escrita, tudo é sério e irônico — tudo é “brincadeira e verdade”, como na música do Caetano. É um deslumbramento.

No seu livro mais autobiográfico, O moinho à beira do rio Floss, Eliot nos conta a história de Maggie Tulliver, uma menina de “oito ou nove anos, bem-educada e bem instruída” que tinha frequentado “só um ano num colégio …e tinha tão poucos livros que às vezes lia o dicionário. Se déssemos uma volta pelo seu cérebro, encontraríamos lá a mais inesperada ignorância.” (p. 121) Será?

Logo que a conhecemos, Maggie se esconde com uma tesoura para cortar os próprios cabelos, cansada das críticas da família e de ser menina. Tempos depois, foge de casa para ser livre e viver com os ciganos. É comovente acompanhar como descobre a pobreza e seu despreparo diante do mundo.

Encanta-se com Philip, um jovem que sabia contar histórias, muito tímido devido à corcunda de nascença. Adorava-o, até porque:

“Maggie tinha uma certa ternura pelas coisas deformadas; preferia sempre as ovelhas de pescoço torto, porque lhe parecia que as que eram fortes e bem constituídas não apreciavam tanto os carinhos, e ela gostava de fazer festas a quem as apreciasse.” (p. 192)

Quando Maggie se apaixona pelos livros que finalmente tem às mãos, reflete:

“Nos livros havia sempre pessoas amáveis e ternas, e que gostavam imenso de agradar uns aos outros. O mundo fora dos livros não era um mundo feliz; parecia ser um mundo onde as pessoas se portavam o melhor possível com as pessoas que não amavam e que lhes não pertenciam.” (p. 256)

De todos, ouve que tem de “ter paciência”. Exercita essa habilidade, censura-se tanto que experimenta a paz no “quietismo” que a tudo renuncia. Até que a vida lhe chama e seu coração é fulminado por um amor impossível. Diante da necessária separação, Maggie (e Eliot) dizem:

“Não posso esquecer tudo e começar outra vida. Devo voltar para trás, muito embora eu sinta que, sob os meus pés, já não existe nada de sólido.” (p. 525)

Como Eliot já havia nos preparado, Maggie desejava o que, de certo modo, todos nós também queremos:

“…era uma criatura cheia de anseios apaixonados e entusiastas por tudo o que era belo e alegre; sedenta de todos os conhecimentos, (…) com um inconsciente desejo de qualquer coisa que (…) desse à sua alma uma sensação de abrigo.” (p. 257, no original,   “a  sense  of  home)

É isso, queridos leitores. Que 2024 traga a todos nós paixão, paciência e prática, mas sobretudo o acolhimento da casa, com sua doce “sensação de abrigo”! ♥

A imagem que abre este post está em alta resolução e segue aqui um pdf para download que vocês podem baixar para imprimir. Vai com carinho especial para todos que estão enfrentando as festas em meio aos prazos de TCC, dissertações, teses e outras pressões acadêmicas ou não.

Sobre o desenho: Grafia e cores inspiradas na arte de Tom Gauld. O lema dos três Ps inventei há uns anos inspirada em uma aula online que fiz com o artista indiano-canadense Prashant Miranda. Ele mencionou perseverança ao invés de paciência, mas esta é para mim a maior das virtudes. Tecnicamente, utilizei os materiais de sempre: canetinhas Pigma Micron 0.1 ou 0.05, aquarelas e papel Canson. Se quiserem, tem a versão abaixo dos três Ps para baixar aqui.

Sobre as citações: Li a versão portuguesa de O moinho à beira do rio Floss, de George Eliot (trad. de Fernando de Macedo, ed. Mimética). A versão original está disponível gratuitamente no Internet Archive, mas não me sinto confiante para ler ficcção em inglês. Trago aqui as duas citações finais no original pois são tão lindas:

Trecho orginal sobre a sensação de abrigo: ”Maggie  in  her  brown  frock,  with  her  eyes  reddened  and  her heavy  hair  pushed  back,  looking  from  the  bed  where  her father  lay,  to  the  dull  walls  of  this  sad  chamber  which  was the  oentre  of  her  world,  was  a  creature  full  of  eager,  passionate longings  for  all  that  was  beautiful  and  glad  ;  thirsty  for  all knowledge ;  with  an  ear  straining  after  dreamy  music  that died  away  and  would  not  come  near  to  her ;  with  a  blind,  unconscious yearning  for  something  that  would  link  together  the wonderful  impressions  of  this  mysterious  life,  and  give  her soul  a  sense  of  home  in  it. “

Trecho orginal sobre não ter nada de sólido sob os pés: “No  wonder,  when  there  is  this  contrast  between  the  outward and  the  inward,  that  painful  collisions  come  of  it. I  can’t  set  out  on  a  fresh  life,  and  forget  that :  I  must  go  back to  it,  and  cling  to  it,  else  I  shall  feel  as  if  there  were  nothing firm  beneath  my  feet.” 

Sobre a música do Caetano: Refiro-me ao verso “É tudo só brincadeira e verdade” da canção “Tá combinado”. Aqui a letra e o canto na versão de Betânia.

Você acabou de ler “Uma doce sensação de abrigo em 2024“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2023. “Uma doce sensação de abrigo em 2024“, Publicado em karinakuschnir.com, url: https://wp.me/p42zgF-42x. Acesso em [dd/mm/aaaa].

Amo receber comentários e mensagens, mas nem sempre consigo responder com o carinho que vocês merecem. Querendo continuar a conversa, me chamem no chat do Instagram! Obrigada por estarem aqui.♥.


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Feliz aniversário, amor ♥

“Hoje é teu dia”. Era uma vez um menino que nasceu no dia de Santo Antônio e no dia de Fernando Pessoa. Parou de chorar aos 7 anos, bateu no Fofinha aos 12, conheceu Kau e Te aos 18, escreveu 11 livros, amamentou 2 filhas, adotou outros dois, deu de fumar à Pinga, tocou bateria-bongô-e-carron, foi Pai Noel 17 vezes, teve 587 melhores amigos, 39 irmãos e irmãs. Foi o mais feliz, amoroso, gentil, e engraçado pai e companheiro pra Alice B, Clara, Tê, Antonio, Alice K. e pra mim. Dormiu um bom terço da vida. Gostou tanto de dormir que resolveu dormir mais um bocadinho. Virou o beija-flor que aparece na janela, o vento que traz frescor, a ideia que surge de madrugada, a magia dentro de um livro, o quentinho doce que invade quem pensa em ti.

Saudades de quando você abria os olhos e perguntava: “Dormi?” Sim, dormiu, amor. Dormiu tão profundamente que não tive coragem de te acordar… E da sua resposta: “Dormi tão bem… Estava precisando.” A tua felicidade era simples. Bastava um abraço, um copo, um queijo quente, banho e piscina.

No dia do desenho com chapéu, você estava em Portugal, debatendo literatura e recebendo aplausos. Como era linda a tua voz. Lembras que lemos na última noite em que passamos acordados? Li um capítulo de uma história esquisita. Mas te ouvi dizer, divertido: “você lê muito bem”. ♥

Às vezes me revolta o teu otimismo inabalável. “Coisas melhores virão”, diz o verso da nossa música favorita. Te desenhei pequenino em cima desse coração cor-de-rosa gigante, como o teu. O meu ficou espremido quando vi a parte inferior do desenho: uma pessoinha diante do caminho interditado.

O azul deixa tudo um pouco triste, mas anotei que estávamos ambos alegres nesse desenho. Tínhamos a casa só para nós, com cama, gatos, comidinhas, canetas e livros. Ainda sinto o cheiro da tua camiseta azul-clara Best alguma-coisa. Já te disse que amo teus pés tortos? Já.

Bem no cantinho esquerdo da imagem acima tem teu pé de novo. Quem te ama, te reconhece pelo pé. Cada dedinho operado pelo doutor. Nessa página confusa, misturei nosso dia na livraria Blooks e em casa. Registrei: “você não está lindo como és, mas eu te amo”. A Lola gostava do teu colo. Eu lia Virginia Woolf, presente teu.

Nesse caderno, brincamos de retratos no café Severino, na livraria Argumento. Te desenhei e você me desenhou. ♥ Você nunca-não tinha coragem de fazer as coisas. Não sei medir se tenho mais saudades do teu lado rotineiro (natação-café-trabalho-as-mesmas-piadas) ou do teu lado “vamos a isto”, que topava qualquer coisa. Eram sólidos mas infinitos de você.

Talvez estejam pensando que os desenhos estão feios, mas você gostava. Festejamos meu aniversário na hora do trabalho, mesmo sabendo que íamos nos ver à noite de novo. Sua mãe ligou se queixando de labirintite. A sua paciência era quase infinita para coisa difíceis; e às vezes curtinha para coisas fáceis. Era engraçado esse contraste.

Por que te escrevo coisas que você já sabe? Não sei. Ainda acho bilhetes teus e meus dentro de livros e cadernos. As palavras escritas eram parte da gente junto.

Termino esse feliz aniversário com um desenho teu com cabelos! Esse fica na sala, escondido em um porta-retrato com duas portinhas da Gato Preto, de Lisboa. Estás ali e estás aqui.

Você, que ainda parece ao alcance da mão todas as madrugadas, agora me diz: “É isso, Kau. Escreve, desenha, chora um bocadinho, se der vontade. Moro em ti.”

Sim, amor, estou tentando. Te amo, hoje, teu dia, todos os dias.

KaJu ♥

[Amanhã termino de editar o post.]


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Juva Batella (1970-2022) – Homenagens

“Vou começar assim. Simples. Hoje é uma data bonita pra nós — e eu quero celebrar contigo: aqui e aí; e, quando eu chegar, bem ao teu lado, abraçados. Muita coisa aconteceu entre nós, e são muitos anos juntos… E, depois de tudo o que a gente viveu, eu sinto hoje, no meu coração, que te amo mais. Mas como pode? Sentir, hoje, um amor maior significa que o amor que se sentia antes era menor? Não. Não é isso. E eu não sei explicar. Estou falando de um amor por ti que só cresce, e cresce a cada dia. Então hoje ele é menor do que amanhã? Não. É uma lógica inversa. Amanhã é que será ainda maior do que é hoje. Parece ser a mesma coisa, mas não é. Estou falando de amor, e isso não tem uma lógica normal. O nosso amor tem outras coisas dentro; outras lógicas: uma paixão por ti que me emociona. Me sinto a pessoa mais feliz do mundo por ter você me amando — e eu te amo do jeito que você é. O que sei, hoje, e mais do que nunca, é que não consigo imaginar a minha vida sem você; não consigo; e não quero ficar longe de você.”

A carta acima poderia ter sido escrita por mim, mas não foi. Foi escrita pelo Juva, no dia 27 de janeiro, nosso aniversário de namoro.

Eu lhe respondi que o amava também, hoje mais do ontem, e que nunca estaríamos longe. E lhe repeti uma expressão com a qual ele sempre nos consolava — a mim, à Alice, à Clara, à Teresa e aos amigos — quando reclamávamos de saudades: “Não estamos longe. Eu moro em ti.”

Eu e Juva nos conhecemos na PUC-Rio, em 1990. Nos tornamos amigos, o que foi grande privilégio para mim e todos que o conheceram, como vocês sabem bem. Nossa amizade e nosso amor passavam pela palavra: líamos juntos, trocávamos cartas, fundamos um clube de literatura por e-mail, digitamos SMS no início do namoro, milhares de zaps e dezenas de bilhetinhos que escondíamos um nas coisas do outro.

Remexendo em nossos papeis, encontrei uma troca de cartas de 1993, sobre amizade. Eu reclamava de amigas se afastando e lhe escrevi: “…com você é diferente. Acho que fizemos um laço bem largo, que dá para esticar no espaço e no tempo, sem medo de arrebentar.”

E ele me respondeu com lindezas e com uma paráfrase: “sim, Kau, a gente fez um laço bem largo que dá para esticar no espaço e no tempo, sem medo de arrebentar”. E acrescentou: “boa imagem”; “esta era a ideia que eu estava tentando escrever”.

Mal sabia eu que o Juva era um mestre do tempo. Com ele, aprendi tudo que importa sobre essa misteriosa experiência:

– Que a língua portuguesa é linda porque diferencia o ser e o estar.

– Quando estávamos com ele, éramos nós. E não falo só de mim. Falo de uma mágica que todos que o amaram tiveram o privilégio de viver: quando estávamos com ele, sentíamos sua presença inteira, éramos parte de um mundo único, que ele criava com cada um de nós.

– Era como se nos dissesse, sem precisar dizer: oi, cheguei: “o Juva-agora-estou-e-sou-todo-teu”.

Eu não queria estar aqui. Eu não queria que houvesse esse hoje. Eu não queria o dia 9 de abril de 2022 e os trinta dias que se seguiram. Mas se fosse eu a pessoa partida, ele estaria ao microfone, de pé, dando um jeito de permanecer inteiro, com o talento de transformar dor em amor, palavras em sorrisos, emoção em abraços, sentimentos em palavras.

E porque era exibido também, a gente sabe. Adorava discursos, palco, plateias e os merecidos aplausos (que sempre recebia).

É por isso estou aqui, pela Alice e pela Clara Batella, pelo Antônio e pela Alice Kuschnir., pela Teresa, pela Telma, por seus irmãos, por todos que o amavam tanto quanto nós. E somos muitos.

Quem não amava o Juva?

Mas ele ficaria chateado comigo, e com todos vocês, se as lágrimas fossem demais. Um bocadinho, talvez, ok. Mas ele não gostaria de nos ver sofrer.

O Juva sabia se doar tanto às pessoas, ser tão generoso, que às vezes tinha dificuldade de receber. A um pequeno gesto nosso, retribuía-nos com presentes, livros, flores, mensagens e mimos, como se não entendesse que ele próprio era um presente constante em nossas vidas.

Tive o privilégio de ser sua amiga por 32 anos, e sua namorada por 11 anos, dois meses e onze dias. E agora, como li ontem num sinal na PUC: “seguimos juntos”, precisando inventar “novas formas de convívio”.

Uma vez, há muito tempo, o Juva foi a um cardiologista em Lisboa que lhe falou sobre as batidas de seu coração, terminando com uma frase que ele adorava repetir, com sotaque português:

“Pois o senhor Juva, o vosso coração bate tanto, que o senhor jamais poderia fazer o papel de morto!”

E ria-se da própria história.

Anos mais tarde, outra vez às voltas com o coração em um hospital, registrou em papel um micro-conto:

“Depois que eu morrer, não vou avisar ninguém.”

Esse era o Juva. Não apenas um “mestre do amor”, como tão bem definiu a Lou, mas um mestre do sorriso e da dor.

Nasceu com a dor e com ela criou uma intimidade (palavra e sentimento que amava). Da maioria das suas dores, que tanto nos preocupavam, comentava distraído: “Deixa estar, essa dor eu já conheço”, como quem fala de um parente distante, talvez um pouco chato, mas que não se pode evitar.

Outras vezes, não: chegavam-lhe dores novas. Assustava-se de início. Mas enquanto ainda estávamos aflitos em busca de remédios, ele já vinha de carinhos, com jeito de quem faz amigos em um país cuja língua não se sabe. Como no famoso bordão que repetia quando cada um de nós viajava:

“Vai para a França? Mande um abraço para os franceses. Diz que foi o Juva.”

E assim ele mandava um abraço para as suas dores: amigando-se com elas.

Então estou aqui, neste país distante, como me ensinou a Guida (Neves). Só que dessa vez não me refiro ao passado, mas ao tempo presente e ao tempo desconhecido, imaginando o que o Juva gostaria de nos dizer:

“Ficaram aí na terra? Mandem um abraço para os terráqueos. Digam que foi o Juva.”

E ficaria feliz, satisfeito consigo mesmo, de “nos imaginar sorrindo” , como gostava de dizer.

Que definição maior de amor do que desejar o sorriso do outro?


Em seus livros, escritos, aulas e palestras extraordinárias — em sua presença e alegria de viver –, Juva nos deixa um legado gigante: o de que o bem e o amor existem e estão (ao nosso alcance).

Para me dar forças de falar hoje, trouxe comigo uma roupa da minha sobrinha Elisa, que está grávida de 7 meses. O que me conforta para enfrentar a morte é pensar na vida, nos bebês como o Nini e o João, que estão por nascer, no pequeno Ravi que fez um ano sábado, nas crianças encantadoras, como a Helena tocando jazz aos onze anos; nos jovens descobrindo o mundo, como Clara e Alice Batella, Antonio e Alice Kuschnir.

E penso também nas crianças que ainda temos dentro de nós, como o Juva-menino, com sua energia insaciável para aprender e incorporar os ditos dos autores e amores de sua vida: o trancs, do Thomaz, as corujas da Clara, o chill e o “confia” da Alice Pips Batella.

Era um homem-flor que, em seu tempo conosco, tinha uma forma única de nos olhar e transmitir acolhimento e esperança.

Comecei, e agora termino minha fala com as palavras do próprio Juva. Estas foram escritas em 2021 para o velório de sua querida amiga Karin:

“Eu sei onde você está agora. Você está neste exato momento, dentro dos corações de todos nós.” Confia.

E repito para mim mesma e para vocês: o Juva mora em nós.

Vamos amá-lo para sempre?

• Acima foi o texto que li na missa de 30 dias do Juva, no dia 10/5/2022, na capela da PUC-Rio. Agradeço às muitas pessoas que me ajudaram a organizar essa homenagem e a todas que estiveram presentes, em pessoa, por zoom ou em mensagens de carinho.

Reúno na página abaixo as demais homenagens que foram lidas na missa, assim como as que foram escritas para a cerimônia realizada em Oeiras, Portugal, e algumas publicadas em redes sociais:

Juva Batella – homenagens da família e dos amigos

♥ Meu pai, por Alice Batella
♥ Pai, por Clara Batella
♥ A estrela de Juva, por suas filhas e família Trigo de Negreiros
♥ Para Juva, por Karl Eric Schollhammer
♥ Um retrato de Juva Batella à luz de suas paixões, por Sofia Sousa Silva
♥ Ao amigo Juva, por Eduardo Diniz
♥ O mel e a flor, por Joaquim Miguel Trigo de Negreiros
♥ Juva querido…, por Mário Trigo de Negreiros
♥ Queria estar aí contigo…, por Eva Gaspar
♥ Falar do Juva é fácil…, por Bruno Gaspar
♥ Hoje se foi…, por Alexandre Pereira
♥ Certa vez você esqueceu…, por Cilene Vieira
♥ O meu querido…, por Eurídice Gomes
♥ Vem das sátiras de Juvenal…, por Gustavo Poli
♥ Foi amor à primeira vista, por Vinícius Antunes (Cacofonias)
♥ A tua delicadeza, por Carolina Massote
♥ A vida é curta a vida, por Fernando Luna
♥ Um por do sol pra você, por Mariela Castro Santos

Se esqueci de alguma, por favor, me enviem!

Guardei esse post para hoje pois é aniversário do Juva, 13/6 — data que ele adorava porque coincidia com o aniversário do Fernando Pessoa e ainda era dia de Santo Antônio. Meu homem-flor, que saudades.
Que todos tenham uma semana de saúde, paciência e amor. ♥

Sobre os desenhos:  A primeira imagem do post é um desenho do Juva feito por mim em 2011 a partir de fotografia tirada por Manuela Ribeiro. Esse retrato acabou virando sua identidade na contracapa do livro “O verso da língua”. A segunda imagem (do beijo) desenhei em 2012 para um clipe animado da gente se beijando. O terceiro desenho (do juva-gatinho) foi feito em 2015 para a página “autores” do nosso livro “Do gato Ulisses, as sete histórias”. Abaixo, tentei retratar uma de suas paixões: tocar bateria, coisa que, contra todas as probabilidades, não só aprendeu como também ensinou. Registro feito na casa do Tomás, em 2013 (se não me engano).

Atualizado em 14/6/2022.

Você acabou de ler “Juva Batella (1970-2022) – Homenagens“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2022. “Juva Batella (1970-2022) – Homenagens“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3V6. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Três choros e muitos agradecimentos

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Um dos meus rituais de manhã, ao acordar, é abrir a janela do quarto, olhar o céu e desejar bom dia pro mundo.

Depois de tomar um mate e comer alguma coisa, sento para pintar, nem que seja por 15 minutos. A mesa é embaixo da janela, de onde me chegam vários choros…

Do meu prédio, acompanho um processo terrível. Uma das vizinhas, que até ontem era atlética e ativa, está com uma doença degenerativa aguda. Foi perdendo o controle dos movimentos e da mente… Seus sons são de uma dor sem nome, uma mistura de desespero, agonia… nem tenho palavras para expressar. No elevador e na portaria comentamos compungidos sobre os gritos de ontem e os de hoje… Que sensação de impotência, sem conseguir imaginar a dor dos familiares que se revezam em seus cuidados e que, por muitos momentos, nos acalmam com o silêncio que finalmente chega.

Ouço também o choro da Lisa, uma cadelinha jovem que foi adotada pela moradora do primeiro andar. Quando sua companheira sai para trabalhar, a bichinha se esgoela. A rua inteira escuta porque ela sobe na poltrona e uiva alto e sofrido na janela. Os vizinhos se mobilizaram no zap. Uma pessoa reclamou, mas os funcionários e os demais moradores se solidarizaram com a dor da cachorrinha. Nos revezamos para ajudar, veio um treinador para ansiedade, e a Lisa está cada dia mais linda e chorando (um pouco) menos.

Há um terceiro choro, agudo, intenso e forte. É meu velho conhecido: um bebê grita alto em algum apartamento do prédio ao lado. Como podem criaturas tão pequenas produzirem sons tão potentes? Ano passado, havia um bebê sofrido na vizinhança, era difícil. Mas esse meu companheirinho atual está no seu exercício pulmonar saudável. Quer apenas chorar um pouco. Envio boas vibrações do meu coração de mãe: shhh, shhh, shhh, está tudo bem… e ele logo para.

Meu timer toca: está na hora de fechar a aquarela. Lavo os pincéis, o estojo e os potes. Venho aprendendo a deixar tudo limpo para a próxima sessão. É um esforço diante da preguiça e da pressa, mas é um gesto potente. Quando chego do trabalho, as águas limpas me chamam de volta!

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O tema do post me levou aos desenhos do dragão e dos peixes. Pensei nessa mistura de dor e cura que é a vida.

Por mais tristes que sejam, os choros que ouço na minha janela estão envolvidos em afetos, rodeados de pessoas que tentam aliviar suas dores. Pra mim, eles também têm funcionado como um alarme de celular, que todos os dias toca com os lembretes:

1. Agradecer por estar viva; 2. Agradecer por meus amores estarem saudáveis e perto de mim; 3. Lembrar de aliviar as dores dos que choram.

7 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:

♥ Assistimos e gostamos: Encontrando Forrester (Finding Forrester), um filme sobre escritores, livros, estudos, basquete, fama, anonimato… O ator principal é o incrível Rob Brown.

♥ Descobri e segui: o perfil da Sabina Hahn tem postado trechos sobre história das cores (ver abaixo), ilustrado com imagens bem legais.

♥ Não resisti e comprei: The Secret Lives of Color, da Kassia St Clair. O objeto é lindo mas minha primeira impressão foi de que as histórias são um pouco superficiais. Vou ler e conto para vocês com mais calma.

♥ App divertido de arte: Google Arts Selfie. Você tira uma selfie e ele te mostra retratos parecidos de pinturas. Meus principais resultados seguem abaixo, mas não achei nem um pouco parecidos — e vocês?

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♥ Cursos online novos me seduzindo (ainda avaliando, principalmente o primeiro): Watercolor Rules!, da Sketchbook Skool; e Watercolor Summit, que me inscrevi (basta colocar o e-mail) para receber três amostras gratuitas.

♥ Dia 21 foi meu aniversário! Recebi três cartinhas das pessoas que mais amo no mundo, desses presentes que a gente guarda para a vida inteira… Também ganhei materiais de pintura da minha mãe, vindos dos EUA por minha tia querida: tubinhos de tinta (Perylene Maroon, Cerulean Blue Chromium, Sodalite Genuine, Green Apatite Genuine), pincéis (2 Winsor & Newton e 1 Neptune) e lápis (2 Col-Eraser, da Prismacolor, 1 Mars Lumograph Black da Staedtler).

Aproveitando o espírito agradecitivo, fiz um cartãozinho no dia do meu aniversário para retribuir as lindas mensagens de parabéns que chegaram via fb/insta/zap. Pintei na terça (21) depois da aula. No dia seguinte, porém, acordei super crítica, achando minha letra infantil, assim como o tema da guirlanda; e ainda super arrependida das cores verde e amarelo, logo em época de eleições, que tosca! Mas o Instagram me mostrou um post bonito, que já não consigo localizar, dizendo que os artistas devem colocar suas obras no mundo, mesmo que não estejam perfeitas (nunca estarão), e que precisam ser humildes para começar tudo de novo no dia seguinte. Obrigada autor desse post, seja você quem for!

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♥ E para compensar todos os choros das manhãs, enquanto escrevo à tarde, tem um bem-te-vi na árvore da minha janela cantando sem parar, com umas variações tão bonitas! (E minha atenção auditiva veio de ter oferecido essa semana aos alunos — e a mim — aquela aula sobre o poder de escutar.)

Bom final de semana! ☼

Sobre os desenhos: A estátua do dragão e os peixes foram feitos por observação direta em julho/2018 no Instituto Moreira Salles (do Rio), numa sessão de pintura ao ar livre oferecida professora Chiara Bozzetti, do Atelier Chiaroscuro (que voltei a frequentar, viva!). Ambos foram desenhados com canetinhas Pigma Micron 0,2, num sketchbook Fabriano Watercolour Acquarelo (é antigo, mas ressuscitei porque ainda tem folhas em branco). As cores foram feitas no local com tintas de várias marcas, mas principalmente Winsor & Newton. Em breve vou fazer um post sobre as cores que tenho no estojo.

O cartão de aniversário foi feito no verso de um papel Canson XL Aquarelle. Comecei com um rascunho do círculo e das letras, depois fiz as aquarelas à mão livre, ajustando conforme iam saindo.

Você acabou de ler “Três choros e muitos agradecimentos“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Três choros e muitos agradecimentos”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Hk. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Sem açúcar, sem cérebro

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Queridos, vale presente de Natal atrasado? Eu tinha preparado esse desenho para vocês, mas meu final de 2015 foi tão atordoante que esqueci! (Os links para imprimir a imagem estão no final do post.)

Falta de foco. É assim que a gente esquece das coisas importantes, concordam? Estou há algumas semanas me sentindo numa estrada lateral, daquelas bem esburacadas e sem sinalização. Será que vou dar no meu destino ou num lixão abandonado?

Ou será falta de açúcar? Resolvi parar de comer doces no dia 5/10/2015. Sei que não devia contar isso aqui, mas agora já foi. Estou tentando ser blasé quanto a essa pequena decisão, e nem vou escrever que já se passaram 108 dias, tipo tenho-coisas-muito-mais-importantes-para-me-preocupar. Mas algo me diz que meu cérebro entrou num sistema de protesto próprio. Achou que eu ia desistir logo, só que não!

Há alguns anos, li num livro sobre o funcionamento da mente que cada pessoa tem uma “cota de concentração” diária. Então, segundo o autor, se o seu projeto é escrever uma tese de doutorado, não convém querer virar atleta e aprender mandarim ao mesmo tempo. E se você resolver que não vai comer mais doces? Melhor não fazer mais nada na vida, né?

Brincadeira, pessoal, também não é pra tanto! Já estou acostumando. Não é dieta. É tipo pra-vida-toda.

O corpo deu uma pifada geral por motivos de ser corpo; porque sim. Escrevo sobre isso justamente para rir e me convencer de que preciso aceitar, me escutar, me cuidar e ter paciência. Já já passa.

Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:
* Alice está usando óculos! É só um pouquinho de astigmatismo mas, ao primeiro olhar, ela foi categórica: “– Mãe, eu estava vendo tudo em 640px, agora tá em HD!”
* Meu remédio tem sido ler, ler, ler. Taí a única coisa que não me cansa, nem doente. Não vou citar tudo aqui de uma vez, mas indico Jack & Alice, despretensiosa novela de Jane Austen, com a divertida e irônica protagonista Lady Williams. Livrinho lindo com ilustrações da Andrea Joseph (cujo blog acompanho há alguns anos), tradução de Christine Röhrig e edição da Martins Fontes.
Sobre o desenho: Aqui vai a imagem do post em boa resolução para imprimir em PDF ou em .JPG! Aprendi esse lema — “Paixão, Paciência, Prática” — numa aula online com o artista indiano-canadense Prashant Miranda. Me identifiquei tanto que adaptei essas ideias para um post sobre projetos acadêmicos, de maio/2015. A graça desse desenho é que foi feito a partir de ramos de verdade, presente de uma amiga querida. Vendo nosso fascínio pelo pacotinho de pimenta rosa do supermercado, ela disse: “tá cheio disso na Baixada: é aroeira!” E no dia seguinte recebi uma caixa cheia. Para pintar a guirlanda, desenhei primeiro com lápis e depois passei uma canetinha de nanquim 0.05 bem velhinha (daí que a linha ficou quase invisível de tão fina). Depois fui pintando com as tintas e materiais que vocês já sabem, num papel de aquarela que não estou me lembrando qual foi (mas algum de algodão e 300gr).