Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Julho/2022 – Com a paciência de um boi

“Há uma frase de Gustave Doré que sempre achei muito bonita: Eu tenho a paciência de um boi. Vejo nesta frase ao mesmo tempo algo bom, uma certa honestidade decidida; enfim, esta frase contém muitas coisas: é uma verdadeira frase de artista. (…) Eu tenho paciência, como é calmo, como é digno;” (Vincent Van Gogh)

Paciência é das virtudes que mais admiro. Como escreveu Van Gogh: como é calma, honesta e digna.

Desejo paciência nos dias em que o luto parecer interminável; paciência para a mãe do bebezinho aprendendo a mamar; paciência para a amiga fazendo quimio (tendo que lidar com a pneumonia do companheiro); paciência para a Ana Paula Lisboa continuar escrevendo; paciência para quem enfrenta enfermidades longas; paciência para todos os brasileiros para mais um dia, apesar de tudo.

Que a calma e a dignidade da paciência contagiem vocês, leitores queridos. Que o mês de julho venha renovar o nosso estoque. Baixem aqui o arquivo PDF para imprimir.

Que a segunda metade de 2022 seja generosa para nós. ♥

Vincent Van Gogh, 1883, vaca deitada

Sobre a citação na epígrafe: Trecho da página 123 do livro “Cartas a Théo”, de Vicent Van Gogh, edição L&PM Pocket, tradução de Pierre Ruprecht.

Sobre o desenho: Aquarela feita em papel Canson Montval, depois desenhada com canetinha Wacom e editada no Photoshop. Uma explicação detalhada sobre como tenho feito os calendários está no post de junho

Sobre a pintura: Imagem de pintura a óleo de Van Gogh de sua página na Wikiart (onde se pode ver mais 1930 desenhos e pinturas dele). Há lá também uma página sobre o artista Gustave Doré, citado por Van Gogh na epígrafe.

Você acabou de ler “Julho/2022 – Com a paciência de um boi“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2022. “Julho/2022 – Com a paciência de um boi“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Y3 Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Abril/2019 colorido, apesar de

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“Enfim, conservemos a coragem e não desesperemos.” (Van Gogh)

Aqui vai o calendário de abril em .PDF para imprimir!

Diante do luto pelo dia de hoje, minha vontade de colorir e enfeitar um calendário estava em -10 graus negativos. Apesar de toda a dor por nossa situação política, resolvi deixar as notícias de lado e me dedicar ao próximo mês. É uma forma de honrar o compromisso comigo mesma e com vocês que me incentivam tanto.

Foram quase 4 horas para fazer esse padrão bem simples. É preciso parar, sentar, pensar, desenhar, colorir, afastar os pensamentos de que não-está-bom o suficiente, escanear mesmo assim, preparar os arquivos no Photoshop, publicar.

Como escrevi há muito tempo no blog: “primeiro a gente faz, depois desiste”. (Lembrei dessa frase hoje porque estava nos agradecimentos a mim numa tese de doutorado de uma amiga querida. Parabéns, linda! ♥)

A todos que vieram aqui ler os posts sobre teses e TCCs (foram muitos, obrigada!), meu recado é inspirado na frase de Van Gogh: a despeito de todas as adversidades, lutem pela conclusão do curso de vocês. Façam, escrevam, peçam ajuda, terminem. Feito é melhor que perfeito, não canso de repetir (para vocês e para mim mesma).

Esse foi o meu possível hoje. Abraço apertado em todos que protestaram, que reconhecem o imenso luto por 21 anos de atrocidades da ditadura, que acreditam que precisamos protestar e agir contra a barbaridade dessa comemoração infame.

Sobre a citação A frase de Van Gogh está na página 249 de “Cartas a Théo” (Vincent Van Gogh, L&PM Pocket), uma edição lida e relida que amo muito.

Sobre o desenho: Essas bolinhas com três “perninhas” foram inspiradas na visão de cima de um grupo de canetinhas Sakura brush que amarrei com elástico para guardar numa gaveta. Tentei reproduzir o colorido gostoso de vê-las em conjunto. As linhas foram feitas com uma canetinha de nanquim permanente Uni Pin fine line 0.2, e as cores com diferentes marcas de lápis-de-cor.

Acho que não consegui acertar bem os tons, seja por culpa das minhas escolhas, seja porque o processo de digitalização muda as tonalidades. Mesmo assim, espero que seja algo a colorir a parede de vocês, o escritório ou a cozinha. Alento: teremos um (ou dois, dependendo da cidade) feriados nesse próximo mês!

Até semana que vem!

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2019. “Abril/2019 colorido, apesar de”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Ka. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Novembro/2018 – Girassóis

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Os girassóis são flores incríveis, conhecidas por se movimentar como se estivessem olhando para o sol. Em dias nublados, se viram uns para os outros, buscando energia. Mesmo quando não há luz, se fortalecem por estarem juntos.

Retomo o blog com essa metáfora, agradecendo a força que emana de vocês. Cada clique, visualização, download, mensagem e, sobretudo, cada sorriso e abraço recebidos na vida real ou virtual é uma fonte de energia para seguir em frente.

Sintam-se acolhidos e abraçados de volta! Estamos juntos e somos resistentes!

Nesse mundo da pós-verdade, precisamos reafirmar o básico. Quais valores defendemos, quais princípios consideramos inegociáveis? Como diria uma criança de cinco anos: — Qual é o sentido da vida?

Que os girassóis nos respondam por hoje: — O sentido da vida está na cooperação, no compartilhamento e na luz.

Nesse mês, coloquei uma flor extra no dia 20, feriado que marca a homenagem a Zumbi dos Palmares, transformado recentemente no Dia da Consciência Negra. Os 388 anos de escravidão de negros e indígenas no Brasil não podem ser esquecidos. A liberdade é um dos pilares da Constituição de 1988, um bom livro de cabeceira para ler e reler sempre.

Aqui vai o calendário do mês de novembro para imprimir em .pdf (em alta resolução).

Que tenhamos um mês de foco e concentração. Meus objetivos de novembro: ler, escrever, estudar, ser a melhor funcionária pública que eu puder, contribuir para projetos sociais, fortalecer meus valores, abraçar meus amores e amigos.

E os objetivos de vocês, quais são?

Sobre o desenho: Fiz um girassol com base em fotos do Google. Desenhei um original de cerca de 3 cm numa folha A4 90gr, com contorno de canetinha 0.05 Pigma Micron, colorido com lápis-de-cor Polychromos. Escaneei a folha do mês e o desenho, copiando a flor em vários tamanhos, e depois juntando tudo no Photoshop.

Sobre girassóis: Recomendo muito a leitura de Van Gogh, Digitalis e a verdade sobres os girassóis, capítulo disponível online do livro maravilhoso de Luiz Mors Cabral que já comentei aqui.

O texto do post é inspirado na mensagem (abaixo) que recebi e também na imagem que minha querida professora de aquarela Chiara Bozzetti me enviou:

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Novembro/2018 – Girassóis”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3IH. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Vivendo sem borracha

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Quando passo horas fazendo um desenho que sai certinho, como no calendário de julho, tenho uma sensação de conquista boa. Só que dura uns cinco minutos. Logo vem a irritação-avaliativa: tá cafona; tá igual ao guardanapo que a titia usa no Natal; tá parecendo uma sacola de supermercado; tá com cara de papelaria da Disney dos anos 1980. Tá certinho demais!

— Mas certinho é tão bonito…

— Né, não. Certinho é chato.

Difícil é ser irreverente como o Millôr, que dizia: “Viver é desenhar sem borracha”. Ou engraçada como a fada-fofa que fica nua e desafia: “se não gostares, a culpa é tua!” (Sylvia Orthof).

Ainda procuro o desenho com a imperfeição-que-saia-perfeita. Algo que não seja nem tão fruta-etiqueta, nem tão folha-de-teste-de-aquarela.

* 7 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:

* No caminho do post da semana passada tinha um apêndice. E dentro do apêndice tinha uma pedra. Como disse o poeta:

“Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”

Carlos Drummond de Andrade – Alguma poesia (1930)

* Em resumo-resumidíssimo: filhote com dor, filhote operado, filhote sarado!

* Durante o caminho da pedra para fora da barriga, sua única preocupação era: “Meu cabelo tá direito?”

* Já sem pedra, mas antes da alta, ele perguntava: “Quando vou poder comer pipoca? E bolo de chocolate?”

* No meio do caminho, passei uma semana enganando minha mãe no Whatsapp. Ela estava viajando a trabalho, meio doente ainda por cima, e não merecia saber que o neto estava no hospital. E enganada ficou até domingo… O mundo pelo celular é uma ilusão.

* Antes da pedra, a vida parecia tranquila. Na árvore em frente à janela do meu quarto tinha uma família de bem-te-vis, com dois adultos e dois filhotes fofos. O Google me fez achar que eram Cambacicas, mas não eram. Minha carreira de ornitóloga-de-araque foi pro brejo. Depois da pedra, não os vi mais.

* Ainda antes da pedra: acordei às 7:15 da manhã para assistir uma aula-aberta de História da Arte com a professora Lisiane Bacelar como parte de ser a super-mãe de um aluno do 9o. ano do Colégio Andrews. Foi linda: aprendi que a música Starry starry night é uma homenagem a Van Gogh. Valeu o sacrifício de acordar tão cedo.

Sobre o desenho: Tirinha de papel com pinceladas de aquarela para testar as cores dos desenhos de frutas que fiz para o calendário de julho/2015. A intensidade dos desenhos (do calendário) se deve muito ao fato de que pintei em papel próprio para aquarela (meu primeiro Arches, hot press!), e não no papel comum. As tintas foram quase todas Winsor & Newton e os pincéis usados foram entre os tamanhos 00 e 2. As linhas foram feitas sem lápis e borracha. Desenhei com a canetinha Copic 0.05 (que está fina demais, mesmo trocando o refil do cartucho de tinta. Acho que não valeu o custo.) Depois de tudo pronto, escaneei, acertei os tamanhos das frutas e “colei” na folha do calendário com ajuda do Photoshop. Abaixo vai a imagem (reduzida) da página inicial, do jeito que estava antes da edição!

frutas pequeno

 


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Artista, bicho, jardim

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“O artista é um bicho assim: a dor dá cor ao seu jardim…” (Juva Batella, em Do gato Ulisses as sete histórias, p.38)

Pela coragem de atravessar a cidade, pela paciência de encarar a fila, pelos sorrisos, pelos abraços, pelas flores, pelos carinhos, pelos compartilhamentos, pelas mensagens dos que não puderam ir, e pelos quase 150 Ulisses que vocês levaram para passear… muito obrigada!

Queria escrever sobre os livros que estou lendo, mas não terminei nenhum dos dois ainda… Também estou em crise de decidir o que quero desenhar, mas tanto os diários da Margaret Mee quanto as cartas do Van Gogh me levam em direção às plantas. Na falta de um jardim de verdade, fui para um imaginado (acima) e para um pequeno parque perto de casa (abaixo).

Sempre leio que o artista cria a partir das suas “referências de infância”. Tipo José Lins do Rego escrevendo sobre a vida no sítio do pai — história aliás lindamente transformada no livro “O menino que virou escritor” de Ana Maria Machado (ilustrada por Ciro Fernandes, ed. José Olympio).

Mas menina urbana tem lá referência?

Pensa daqui, pensa dali, chego à conclusão de que tenho umas memórias de coisa verde sim. As plantas da escola onde estudei até os 12 anos ocupavam a nossa falta-do-que-fazer nos anos 1970. Na hora do recreio, uma das minhas atividades preferidas era arrancar essa florzinha vermelha do pé, despetalar e sugar o miolo! É uma eca, eu sei… mas não tinha celular nem mp3 naquele tempo. E o ser humano gosta de fazer besteira.

hibiscos

Uma coisa divertida dessa busca pelo jardim perdido é usar o Google para descobrir o nome das plantas. Essa aí de cima é uma “Malvaviscus arboreus”, também chamada de hibisco-colibri pelos especialistas (porque não acredito em “nome popular” de planta).

* 7 Coisas impossivelmente-legais-bonitas-interessantes-hilárias-ou-dignas-de-nota da semana:
* Uma amiga leu o post sobre os 3 Ps (paixão, paciência e prática) e me mandou de presente a linda ideia dos três Cs: Coragem, Coração e Consciência!

* Apesar da resistência, reli com a Alice “Os bichos que eu tive”, da Sylvia Orthof, e ela teve que admitir que achou muito engraçado.

* Um tio-cunhado leu o post sobre as críticas e me mandou de presente a história de quando ele entrou para a família. Depois de se hospedar na casa da minha tia-avó, ele ouviu-a ligar sorrateiramente para a futura sogra: — “Dida, tu sabes que ele tomou banho e deixou tudo impecável, como se o banheiro não tivesse sido usado!”

* A Cora Rónai fez uma foto incrível e escreveu um perfil muito simpático de um dos meus heróis no Rio de Janeiro: o Tony, que resgata, protege e doa animais abandonados, com a ajuda da Marluce, sua companheira.

* Participei a convite da Daniela Manica e da Marina Nucci de uma roda de conversa emocionante no IFCS com alunos e funcionários, sobre gênero, corpo e trabalho. Foi um momento marcante nesses quase dez anos de UFRJ, que me lembrou o amor por tudo que aprendi na escola das Amigas do Peito.

* Achei por acaso (e comprei por um preço ótimo!) o lindíssimo livro “Usos e circulação de plantas no Brasil”, organizado pela Lorelai Kury (ed. Andrea Jakobson).

* Três crianças disseram que leram de uma vez e adoraram o nosso “Do gato Ulisses as sete histórias”!

* Sobre os desenhos: Desenhos feitos no caderninho Laloran com aquarelas Winsor & Newton e lápis de cor Carand’Ache aquarelável. No primeiro, o jardim foi de imaginação, exceto pelo passarinho inspirado numa imagem do livro-fofo The Summer Book, da Susan Branch, que ganhei de presente há seculos da Dri. A frase à direita é de uma das cartas de Van Gogh para seu irmão Theo. Para o segundo desenho, colhi algumas flores de verdade caídas no chão, já bem murchas, coitadas, pois não tive coragem de arrancar do pé onde um beija-florzinho tomava seu café-da-manhã.