Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas

Últimas Saudades de Oxford

12 Comentários

chuvascontg

** O Humor Britânico **
 Ao iniciar uma refeição, os bons hábitos mandam: na França: “Bon appetit!”; na Alemanha: “Guten appetit!”; na Itália: “Buon appetito!”; na Inglaterra: “Never mind…”

** Atendentes, garçons e que tais **
Como vocês sabem, já quase me expulsaram de um restaurante porque eu pedi “water” com sotaque americano. Agora descobri (em 2005!) um crime ainda mais hediondo: pedir “olive oil”!
— O-li-ve-oiiiil? No, I am afraid we don’t have. (resposta simpática)
— O-li-ve-oiiiil? humpf. (resposta tradicional)
Mesmo com um prato de salada verde na frente, o máximo que você vai conseguir é um pouco de sal.

** A contribuição dos fast-foods para a humanidade **
Banheiros limpos no terceiro andar!

** Palavras que vocês não vão achar no dicionário **
“Top up” – Depois de horas tentando entender a voz eletrônica do outro lado da linha, finalmente compreendi. “Top up” é colocar dinheiro via cartão de crédito na conta do telefone celular, no cartão de ligações interurbanas, na máquina de xerox etc. Coisas da vida eletrônica.
“Engaged” – Se diz também quando a linha de telefone está ocupada.

** “I thought you were a student” **
Coisa boa: pelo menos umas cinco vezes fui barrada aqui nos lugares onde só entram pesquisadores e professores porque me confundiram com uma estudante de graduação! (Bem, vá lá, só “estudante”. Graduação já é fantasia minha.) Mas depois que me dei conta disso, resolvi assumir. Nunca mais paguei ingresso de “adulto” em cinema, museu ou teatro!

** Lavando roupa em oito etapas (ou em apenas 130 minutos) **
Você logo percebe os padrões locais de limpeza quando descobre que o seu College tem uma única lavanderia comunitária de 9 metros quadrados para centenas de moradores.

Etapa 1 – Você reserva uma manhã inteira e vai para a lavanderia ver quantas das quatro máquinas estão funcionando. Na chegada, você lembra que esqueceu o cartão magnético que abre a porta. (7 minutos) Não esqueça de novo: cartão, moedas, sabão, roupa suja e sacola. (5 minutos)

Etapa 2 – Você está com sorte hoje: três máquinas estão funcionando. Só um probleminha: todas estão lotadas. Você logo aprende que seus vizinhos gostam muito de colocar a roupa na máquina e sair para dar uma voltinha de 12 horas. Quando uma das luzes apaga, você tem o direito de usar a máquina. (Espera em torno de 13 minutos)

Etapa 3 – É seu trabalho tirar e jogar a roupa molhada do vizinho em cima da máquina. A tarefa não deixa de ser interessante. Você fica conhecendo o lado “íntimo” das pessoas: as russas e suas calcinhas de sex-shop, os adolescentes e suas bermudas rasgadas, o professor  inglês e suas camisas azuis de gola branca, a nova-iorquina e seus modelitos fashion… (5 minutos, se você não parar para examinar as roupas)

Etapa 4 – Colocar sua roupa, colocar a moeda, ler as instruções três vezes, girar o botão da temperatura (que você pensa que é o botão do tempo), apertar a pré-lavagem, ligar. Ah, não esquecer o sabão. (2 ou 5 minutos) Volte para casa e marque uns 40 minutos no relógio.

Etapa 5 – Duas opções: ou você chega antes do tempo, e tem que ficar esperando a lavagem acabar; ou você chega atrasada e todas as suas roupas estão jogadas em cima da máquina (pode contar que uma meia ficou perdida em algum lugar). (10 minutos)

Etapa 6 – Com sorte, uma máquina de secar está vazia. Esta é facil: colocar moedas (até acertar a quantidade de moedas com a quantidade de roupas, é outra história…), colocar a roupa, desistir de ler as instruções, girar o botão para qualquer lado, ligar. Ouvir o vizinho resmungando porque ele quer usar três máquinas, uma para cada tipo de roupa, “porque assim não amassam muito”, ele explica. Voltar para casa. (30 minutos)

Etapa 7 – De volta à lavanderia. Cenário ideal: sua roupa estará seca e te esperando no mesmo lugar. Cenário deprimente: sua roupa ainda está molhada e jogada num canto. Cenário terrível: suas roupas encolheram! Passei pelos três… (10 minutos)

Etapa 8 – Você chega em casa e descobre que esqueceu o sabão na lavanderia! 😦

** Táxi turbinado **
Desde que cheguei, já peguei taxista grosso, enrolão, simpático, estrangeiro-que-não-sabia-o-caminho, indiferente. Mas o auge foi o último: dirigia calmamente bebendo uma cerveja!

** Sinal de que está na hora de ir embora **
Conversando com um pesquisador novato:
Ele:  “Nossa, que bom, está o maior sol!”
Você: “Ah, nem adianta. Quando a gente terminar de colocar os casacos vai estar chovendo…”

Ele: “Oba, parece uma comida gostosa!”
Você: “Nem tente. Tem gosto de chili ou de leite-sem-sal.”

Ele: “Que máximo, vamos entrar nessa livraria?”
Você: “Nem adianta, o livro mais barato vai custar 24,99 pounds. Só uns 135 reais…”

Bem, relevem… Eu devia estar um pouquinho mau-humorada nesse dia!
Como diz um cartão-postal muito procurado aqui: 

“Apart from… the weather, the food, the acommodation, the countryside, the people and the language… I’m having a great time here!”

Sobre o desenho: A imagem desse post começou a surgir na minha cabeça há alguns dias, quando planejei que o calendário de março tinha que ser com o tema “queremos chuva”! Acabou sendo um dos desenhos mais divertidos e ao mesmo tempo trabalhosos de fazer. Como sou teimosa, usei o mesmo papel ruim do post Modelos vivos ou mortos?, mas dessa vez me preparei melhor. Prendi a folha com fita crepe na bancada da pia da cozinha antes de pintá-lo com água, lápis de cor aquarelável e aquarela. Esperei que secasse até ficar só um pouco úmida e passei a ferro. Dessa vez o papel ficou quase liso! Escaneei essa base pintada e fiz os desenhos no Ipad (app AdobeIdeas) com uma canetinha Bamboo que ganhei da minha mãe <3. Depois voltei tudo para o computador, aumentei o contraste (lembram que o azul sempre fica aguado?) e “recortei” as figuras com o Photoshop. Meu plano inicial era fazer toda essa parte à mão, mas deu preguiça quando percebi que teria que organizar cada pedacinho num outro papel e ainda voltar ao scanner… O calendário fica para amanhã — desculpem o atraso carnavalesco.

12 pensamentos sobre “Últimas Saudades de Oxford

  1. Pingback: A vida simbólica dos objetos – ideia para aula lúdica (2) | Karina Kuschnir

  2. Pingback: Mente selvagem: dicas de escrita de Natalie Goldberg | Karina Kuschnir

  3. Pingback: 25 dicas para revisar textos acadêmicos (de trás pra frente) | Karina Kuschnir

  4. Pingback: Brincando de pesquisar – ideia para aula lúdica | Karina Kuschnir

  5. Pingback: Tese sem CEP. Será que dá tempo? (Parte 2/2 – Cronograma) | Karina Kuschnir

  6. Pingback: Tese sem CEP. Será que dá tempo? | Karina Kuschnir

  7. Pingback: A tese é viva, viva a tese | Karina Kuschnir

  8. Pingback: Dez truques da escrita num livro só | Mundo Bibliotecário

  9. Pingback: Como não escrever uma carta para a seleção de mestrado | Karina Kuschnir

  10. Pingback: Dez truques da escrita num livro só | Karina Kuschnir

  11. Adorei tudo, como sempre. O cartão postal é o máximo! E essa delicadeza toda, essa dedicação, ao fazer o desenho!! Virei sua fã número 1 FOREVER!

    Curtir

  12. Que bom ler essas coisas e rir muito além de ver esses desenhos lindos!

    Curtir

Deixe um comentário!

Descubra mais sobre Karina Kuschnir

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue lendo