Karina Kuschnir

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Vício terrível

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A melhor coisa que li essa semana foi a segunda parte do relato sobre saúde mental na universidade, da Sarah, do blog Sarices:

“Sabem como se chamava a república onde eu morei durante a faculdade? Omeprazol. Pareceu engraçado colocar o nome de um remédio para o estômago na nossa república, já que todas nós o tomávamos e tínhamos problemas gástricos. Mas na verdade é extremamente triste que garotas de 20 e poucos anos tivessem que se entupir de remédios para conseguir se manter de pé estudando. Foi triste ver colegas da universidade desistindo do curso. É aterrorizante ver pessoas se suicidando porque não tiveram o apoio e acolhimento que necessitavam. É horrível pensar que um momento tão bom, útil e feliz na vida de um jovem – fazer um curso superior – se transforme em um problema, criando ou acentuando ansiedades e depressões.” (Sarah Ft, do blog Sarices)

Não deixem de acompanhar desde o início: Saúde mental na universidade – Parte 1 e Parte 2 – Graduação. Não vejo a hora de ler a Parte 3, sobre o mestrado! Não conheço a Sarah pessoalmente, mas ficamos amigas-leitoras do blog uma da outra. Ela escreve tão bem e desconfio que tem o mesmo amor pelos livros e pelas pessoas, igual a Cecília:

“Tenho um vício terrível. Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.”  (Cecília Meireles)

Passei uma semana árdua, tentando fazer pontes, juntando pessoas e textos, dando força aos amigos envoltos nas batalhas da vida real. Não sei como é para vocês — para mim, é mais difícil aturar a falta de delicadeza com as pessoas que amo do que comigo mesma…

♥ A todos que estão se sentindo desvalorizados nesse momento, leiam os relatos da Sarah, abram um livro de Drummond, Cecília, Vinícius, Manuel Bandeira. Ao contrário do que muitos acreditam, não é preciso ser teórico para ser brilhante. Os conceitos passam, a vida fica. Minha admiração a todos que sabem reconhecer uma voz sem decorebas — com luz, corpo e alma.

♥ E se vocês estiverem com preguiça de ler… aqui vai um vídeo lindíssimo sobre como eram feitas as pinturas chinesas em seda. Recriaram todo o processo com uma imagem da corte de Huizong (China, anos 1101-1125), no canal do Victoria & Albert Museum.

♥ Se a vontade de navegar por lindezas continua, uma exposição do Metropolitan Museum sobre desenhos medievais: http://blog.metmuseum.org/penandparchment/introduction/

Sobre a citação inicial: Entrevista de Cecília Meireles a Adolpho Bloch, publicada na revista Manchete, em 1964, ano de sua morte: https://www.revistabula.com/496-a-ultima-entrevista-de-cecilia-meireles/

Sobre o desenho: Consegui desligar um pouco de tudo durante algumas horinhas essa semana pintando esse desenho do ano passado. Foi feito para a proposta (não aceita) do USK-Porto. Nessa versão, além de pintar (com aquarelas Winsor&Newton e algumas Schmincke), recortei os grupos de personagens no Photoshop e encaixei na frente da visão parcial do prédio do Museu da República, no Rio de Janeiro. Como explicam os entendidos de perspectiva (não eu), o segredo é alinhar as pessoas pela altura da cabeça (se estiverem todas em pé, ou ajustando para baixo, se estiverem sentadas). Ficou um halo branco em volta das pessoas porque não tive paciência de fazer um recorte bem rente. Não tenho Ipad Pro, nem Cintiq, nem nenhum desses gadgets de edição profissional que facilitam o recorte de imagens. Mas tudo bem, né? Meu lema continua sendo “feito é melhor que perfeito”.

Boa semana, pessoas queridas. Muito, muito obrigada por todas as mensagens e comentários gentis. ♥

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Vício terrível”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3EE. Acesso em [dd/mm/aaaa].