Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas


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Juva Batella (1970-2022) – Homenagens

“Vou começar assim. Simples. Hoje é uma data bonita pra nós — e eu quero celebrar contigo: aqui e aí; e, quando eu chegar, bem ao teu lado, abraçados. Muita coisa aconteceu entre nós, e são muitos anos juntos… E, depois de tudo o que a gente viveu, eu sinto hoje, no meu coração, que te amo mais. Mas como pode? Sentir, hoje, um amor maior significa que o amor que se sentia antes era menor? Não. Não é isso. E eu não sei explicar. Estou falando de um amor por ti que só cresce, e cresce a cada dia. Então hoje ele é menor do que amanhã? Não. É uma lógica inversa. Amanhã é que será ainda maior do que é hoje. Parece ser a mesma coisa, mas não é. Estou falando de amor, e isso não tem uma lógica normal. O nosso amor tem outras coisas dentro; outras lógicas: uma paixão por ti que me emociona. Me sinto a pessoa mais feliz do mundo por ter você me amando — e eu te amo do jeito que você é. O que sei, hoje, e mais do que nunca, é que não consigo imaginar a minha vida sem você; não consigo; e não quero ficar longe de você.”

A carta acima poderia ter sido escrita por mim, mas não foi. Foi escrita pelo Juva, no dia 27 de janeiro, nosso aniversário de namoro.

Eu lhe respondi que o amava também, hoje mais do ontem, e que nunca estaríamos longe. E lhe repeti uma expressão com a qual ele sempre nos consolava — a mim, à Alice, à Clara, à Teresa e aos amigos — quando reclamávamos de saudades: “Não estamos longe. Eu moro em ti.”

Eu e Juva nos conhecemos na PUC-Rio, em 1990. Nos tornamos amigos, o que foi grande privilégio para mim e todos que o conheceram, como vocês sabem bem. Nossa amizade e nosso amor passavam pela palavra: líamos juntos, trocávamos cartas, fundamos um clube de literatura por e-mail, digitamos SMS no início do namoro, milhares de zaps e dezenas de bilhetinhos que escondíamos um nas coisas do outro.

Remexendo em nossos papeis, encontrei uma troca de cartas de 1993, sobre amizade. Eu reclamava de amigas se afastando e lhe escrevi: “…com você é diferente. Acho que fizemos um laço bem largo, que dá para esticar no espaço e no tempo, sem medo de arrebentar.”

E ele me respondeu com lindezas e com uma paráfrase: “sim, Kau, a gente fez um laço bem largo que dá para esticar no espaço e no tempo, sem medo de arrebentar”. E acrescentou: “boa imagem”; “esta era a ideia que eu estava tentando escrever”.

Mal sabia eu que o Juva era um mestre do tempo. Com ele, aprendi tudo que importa sobre essa misteriosa experiência:

– Que a língua portuguesa é linda porque diferencia o ser e o estar.

– Quando estávamos com ele, éramos nós. E não falo só de mim. Falo de uma mágica que todos que o amaram tiveram o privilégio de viver: quando estávamos com ele, sentíamos sua presença inteira, éramos parte de um mundo único, que ele criava com cada um de nós.

– Era como se nos dissesse, sem precisar dizer: oi, cheguei: “o Juva-agora-estou-e-sou-todo-teu”.

Eu não queria estar aqui. Eu não queria que houvesse esse hoje. Eu não queria o dia 9 de abril de 2022 e os trinta dias que se seguiram. Mas se fosse eu a pessoa partida, ele estaria ao microfone, de pé, dando um jeito de permanecer inteiro, com o talento de transformar dor em amor, palavras em sorrisos, emoção em abraços, sentimentos em palavras.

E porque era exibido também, a gente sabe. Adorava discursos, palco, plateias e os merecidos aplausos (que sempre recebia).

É por isso estou aqui, pela Alice e pela Clara Batella, pelo Antônio e pela Alice Kuschnir., pela Teresa, pela Telma, por seus irmãos, por todos que o amavam tanto quanto nós. E somos muitos.

Quem não amava o Juva?

Mas ele ficaria chateado comigo, e com todos vocês, se as lágrimas fossem demais. Um bocadinho, talvez, ok. Mas ele não gostaria de nos ver sofrer.

O Juva sabia se doar tanto às pessoas, ser tão generoso, que às vezes tinha dificuldade de receber. A um pequeno gesto nosso, retribuía-nos com presentes, livros, flores, mensagens e mimos, como se não entendesse que ele próprio era um presente constante em nossas vidas.

Tive o privilégio de ser sua amiga por 32 anos, e sua namorada por 11 anos, dois meses e onze dias. E agora, como li ontem num sinal na PUC: “seguimos juntos”, precisando inventar “novas formas de convívio”.

Uma vez, há muito tempo, o Juva foi a um cardiologista em Lisboa que lhe falou sobre as batidas de seu coração, terminando com uma frase que ele adorava repetir, com sotaque português:

“Pois o senhor Juva, o vosso coração bate tanto, que o senhor jamais poderia fazer o papel de morto!”

E ria-se da própria história.

Anos mais tarde, outra vez às voltas com o coração em um hospital, registrou em papel um micro-conto:

“Depois que eu morrer, não vou avisar ninguém.”

Esse era o Juva. Não apenas um “mestre do amor”, como tão bem definiu a Lou, mas um mestre do sorriso e da dor.

Nasceu com a dor e com ela criou uma intimidade (palavra e sentimento que amava). Da maioria das suas dores, que tanto nos preocupavam, comentava distraído: “Deixa estar, essa dor eu já conheço”, como quem fala de um parente distante, talvez um pouco chato, mas que não se pode evitar.

Outras vezes, não: chegavam-lhe dores novas. Assustava-se de início. Mas enquanto ainda estávamos aflitos em busca de remédios, ele já vinha de carinhos, com jeito de quem faz amigos em um país cuja língua não se sabe. Como no famoso bordão que repetia quando cada um de nós viajava:

“Vai para a França? Mande um abraço para os franceses. Diz que foi o Juva.”

E assim ele mandava um abraço para as suas dores: amigando-se com elas.

Então estou aqui, neste país distante, como me ensinou a Guida (Neves). Só que dessa vez não me refiro ao passado, mas ao tempo presente e ao tempo desconhecido, imaginando o que o Juva gostaria de nos dizer:

“Ficaram aí na terra? Mandem um abraço para os terráqueos. Digam que foi o Juva.”

E ficaria feliz, satisfeito consigo mesmo, de “nos imaginar sorrindo” , como gostava de dizer.

Que definição maior de amor do que desejar o sorriso do outro?


Em seus livros, escritos, aulas e palestras extraordinárias — em sua presença e alegria de viver –, Juva nos deixa um legado gigante: o de que o bem e o amor existem e estão (ao nosso alcance).

Para me dar forças de falar hoje, trouxe comigo uma roupa da minha sobrinha Elisa, que está grávida de 7 meses. O que me conforta para enfrentar a morte é pensar na vida, nos bebês como o Nini e o João, que estão por nascer, no pequeno Ravi que fez um ano sábado, nas crianças encantadoras, como a Helena tocando jazz aos onze anos; nos jovens descobrindo o mundo, como Clara e Alice Batella, Antonio e Alice Kuschnir.

E penso também nas crianças que ainda temos dentro de nós, como o Juva-menino, com sua energia insaciável para aprender e incorporar os ditos dos autores e amores de sua vida: o trancs, do Thomaz, as corujas da Clara, o chill e o “confia” da Alice Pips Batella.

Era um homem-flor que, em seu tempo conosco, tinha uma forma única de nos olhar e transmitir acolhimento e esperança.

Comecei, e agora termino minha fala com as palavras do próprio Juva. Estas foram escritas em 2021 para o velório de sua querida amiga Karin:

“Eu sei onde você está agora. Você está neste exato momento, dentro dos corações de todos nós.” Confia.

E repito para mim mesma e para vocês: o Juva mora em nós.

Vamos amá-lo para sempre?

• Acima foi o texto que li na missa de 30 dias do Juva, no dia 10/5/2022, na capela da PUC-Rio. Agradeço às muitas pessoas que me ajudaram a organizar essa homenagem e a todas que estiveram presentes, em pessoa, por zoom ou em mensagens de carinho.

Reúno na página abaixo as demais homenagens que foram lidas na missa, assim como as que foram escritas para a cerimônia realizada em Oeiras, Portugal, e algumas publicadas em redes sociais:

Juva Batella – homenagens da família e dos amigos

♥ Meu pai, por Alice Batella
♥ Pai, por Clara Batella
♥ A estrela de Juva, por suas filhas e família Trigo de Negreiros
♥ Para Juva, por Karl Eric Schollhammer
♥ Um retrato de Juva Batella à luz de suas paixões, por Sofia Sousa Silva
♥ Ao amigo Juva, por Eduardo Diniz
♥ O mel e a flor, por Joaquim Miguel Trigo de Negreiros
♥ Juva querido…, por Mário Trigo de Negreiros
♥ Queria estar aí contigo…, por Eva Gaspar
♥ Falar do Juva é fácil…, por Bruno Gaspar
♥ Hoje se foi…, por Alexandre Pereira
♥ Certa vez você esqueceu…, por Cilene Vieira
♥ O meu querido…, por Eurídice Gomes
♥ Vem das sátiras de Juvenal…, por Gustavo Poli
♥ Foi amor à primeira vista, por Vinícius Antunes (Cacofonias)
♥ A tua delicadeza, por Carolina Massote
♥ A vida é curta a vida, por Fernando Luna
♥ Um por do sol pra você, por Mariela Castro Santos

Se esqueci de alguma, por favor, me enviem!

Guardei esse post para hoje pois é aniversário do Juva, 13/6 — data que ele adorava porque coincidia com o aniversário do Fernando Pessoa e ainda era dia de Santo Antônio. Meu homem-flor, que saudades.
Que todos tenham uma semana de saúde, paciência e amor. ♥

Sobre os desenhos:  A primeira imagem do post é um desenho do Juva feito por mim em 2011 a partir de fotografia tirada por Manuela Ribeiro. Esse retrato acabou virando sua identidade na contracapa do livro “O verso da língua”. A segunda imagem (do beijo) desenhei em 2012 para um clipe animado da gente se beijando. O terceiro desenho (do juva-gatinho) foi feito em 2015 para a página “autores” do nosso livro “Do gato Ulisses, as sete histórias”. Abaixo, tentei retratar uma de suas paixões: tocar bateria, coisa que, contra todas as probabilidades, não só aprendeu como também ensinou. Registro feito na casa do Tomás, em 2013 (se não me engano).

Atualizado em 14/6/2022.

Você acabou de ler “Juva Batella (1970-2022) – Homenagens“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 

Como citar: Kuschnir, Karina. 2022. “Juva Batella (1970-2022) – Homenagens“, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3V6. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Meu TCC mudou minha vida

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“O difícil não é ser complicado; o difícil é ser simples. Quanto mais você conhece algo, mais clara deve ser sua explicação.” (Citando de memória minha orientadora de TCC, Angeluccia Habert)

Até o último ano da faculdade de jornalismo, eu não tinha ideia de como fazer uma pesquisa, apesar de quase metade do meu curso ser composta de disciplinas como história, antropologia e sociologia… Para minha sorte, no último ano era obrigatório fazer um semestre de Metodologia de Pesquisa e outro de Monografia (mais conhecida como TCC,  Trabalho de Conclusão de Curso).

Cheguei na aula de Metodologia de pé atrás, porque a professora Angeluccia Habert tinha fama de durona. Como eu trabalhava e fazia faculdade à noite, precisava escolher as matérias para me dedicar enquanto ia levando as outras. Achei que Metodologia cairia nesse limbo, mas me apaixonei!

O segredo desse amor foi que aprendi a fazer uma pesquisa aprofundada. O principal livro da disciplina era Comunicação de Massa: Análise de Conteúdo, de Albert Kientz. Não tenho referências atuais sobre o autor, mas me marcou demais como ele e a Angeluccia me ensinaram de forma didática que era preciso decupar um material e analisar cada pedacinho, para só depois tentar interpretações mais amplas. Fiquei fascinada por existir um método passo a passo.

Para Metodologia, fiz um trabalho final sobre o conceito de indivíduo em obras teatrais de Mauro Rasi. Através de amigos em comum, consegui os roteiros de três peças que giravam em torno do tema família. Pesquei algumas referências teóricas sobre individualismo e fui. Lembro de suar muito para escrever um texto corrido que juntasse os trechos das peças e as questões dos autores, mas acabei tirando 9,0 — uma nota fantástica para a Angeluccia. Esse trabalho, inclusive, foi crucial para que eu passasse no mestrado em antropologia, pois era a única pesquisa que eu tinha para mencionar na entrevista.

No semestre seguinte, pedi à Angeluccia para ser minha orientadora de TCC. Se lembro bem, por ser super exigente, ela não tinha filas. Faltavam só cinco meses para colar grau quando tive a primeira melhor notícia da minha vida, que foi passar no mestrado para o PPGAS, no Museu Nacional/UFRJ. Agora é que a monografia tinha que sair decente.

Nessa época, eu trabalhava na antiga Rádio JB AM, só de notícias. O sistema Jornal do Brasil tinha um setor de pesquisas incrível. Como estagiária e depois repórter, eu amava vasculhar esse material, que abrangia não apenas o JB mas dezenas de veículos de imprensa, por décadas. A primeira coisa que decidi foi fazer meu TCC trabalhando com cinco jornais impressos. Depois, resolvi focar em como esses veículos retratavam as empregadas domésticas durante um recorte temporal específico.

Não tenho mais o material da pesquisa empírica: eram quase 70 reportagens com suas respectivas fichas de decupagem e uma grande tabela de análise feita à mão em duas cartolinas brancas grudadas (que eu precisava enrolar para transportar). Entrevistei também uma pesquisadora que trabalhava na área. Feita essa parte, restava escrever… Haja coca-cola diet (era novidade) para me manter animada a terminar. O cenário dessa fase está na ilustração acima: um computador dos anos 1980, muitos jornais velhos, disquetes, lápis, caneta, a tabela de análise enrolada  e algumas cópias de textos.

Mas por que o título dramático desse post — “Meu TCC mudou a minha vida”?

• Porque eu nunca teria me tornado pesquisadora e professora se as disciplinas de Metodologia e de TCC não fossem obrigatórias no curso de Comunicação.

• Porque, às vezes, as coisas que a vida te obriga a passar são justamente as que te abrem os caminhos mais interessantes.

• Porque até na minha banca de doutorado, um dos meus ídolos da antropologia afirmou que um dos pontos altos da tese eram os trechos de análise de discurso dos meus interlocutores.

• Porque ainda hoje, quando oriento meus alunos, volto ao básico que aprendi com a Angeluccia e com o Kientz: uma boa investigação parte de um recorte preciso e de uma análise minuciosa das fontes.

• Porque tudo isso reafirma que não precisamos apelar para conceitos mirabolantes para fazermos bem feito.

• Porque criar algo por meio de uma pesquisa nos faz um bem danado.

• Porque o conhecimento contribui para um mundo melhor.

É simples.

Boa semana, com ótimas escritas, desenhos e pinturas, pessoal! ☼

Sobre o desenho: Uma novidade: o desenho desse post foi feito no papel e depois finalizado no Ipad. Estou assistindo um curso online só para aprender a mexer no Procreate. É um mundo de possibilidades. Nesse caso específico, comecei de forma tradicional: reuni fotos de objetos da época, depois fiz um desenho no verso de uma folha de papel A4 (bloco Canson Aquarelle) com canetinha Pigma Micron 0.2. Comecei a pintar com aquarela mas me deu uma preguiça enorme, por ser um tamanho grande (prefiro pintar A5 ou A6) e pelo mundo de detalhes da pilha de jornais… O original ficou largado na minha mesa por vários meses… Com o Ipad, resolvi testar adicionar as cores e sombras no Procreate. Vejam abaixo como estava no início do processo e como foram as camadas adicionais de sombras e cores (juntei todas para facilitar a visualização):

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Abaixo, o desenho final com as duas imagens acima reunidas, e o fundo do papel clareado depois no Photoshop:

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Adorei a experiência! Apesar de também ser bastante trabalhoso, colorir no Ipad tem o conforto de te permitir testar e desfazer, além de possibilitar coisas impossíveis em aquarela, como pintar letras verdes sobre um fundo escuro. No papel, eu teria que usar guache e mesmo assim seria bem difícil. Na maior parte do processo, utilizei o pincel Calligraphy – Water Pen, que já vem com o app.

Isso me lembra que preciso atualizar urgentemente o post sobre os 12 Cursos de Desenho, que está sempre entre os mais visitados do blog. Já fiz pelo menos outros 12 cursos desde então — amo ser aluna!

Se quiserem saber algum detalhe que esqueci de explicar, escrevam nos comentários por favor. ♥

Você acabou de ler “Meu TCC mudou minha vida“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! ☺

Como citar: Kuschnir, Karina. 2020. “Meu TCC mudou minha vida”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3PI. Acesso em [dd/mm/aaaa].


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Junho/2018 e Bastidores do blog (2)

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Bem-vindos ao mês de junho/2018! Aqui vai o calendário em .pdf para imprimir.

Há alguns dias, o blog ultrapassou a marca das 500 mil visualizações e 300 mil visitantes. São números pequenos para o tamanho da internet, mas gigantes para mim! 😀 Para comemorar esse meio milhão de cliques, resolvi retomar alguns temas do post Bastidores do blog escrito em maio/2017, e acrescentar outros, que chegaram em comentários, em perguntas de amigos queridos ou na minha cabeça mesmo:

Quanto custa manter o blog? Tenho duas despesas anuais fixas com o blog. Desde a sua criação, pago o tema/template Yoko do WordPress (30 dólares por ano), que permite escolher fontes e cores, widgets (códigos html pré-formatados para serem utilizados na lateral) e faz ajustes automáticos para diferentes telas (celular, tablet e computador). Em janeiro/2018, passei a pagar um plano Pessoal do WordPress (48 dólares por ano) para que parassem de aparecer anúncios no rodapé dos posts.

Por que você não utiliza o endereço karinakuschnir.com? O plano Pessoal do WordPress dá direito a um domínio .com mas, por enquanto, não me sinto bem associando meu nome a um domínio comercial.

O blog está hospedado em algum servidor? Não. Utilizo a hospedagem virtual do WordPress. No ano passado, me dei conta que não tinha backup! Com ajuda da minha sobrinha, passamos todos os posts para arquivos de Word, um conjunto para cada ano. Um dia ainda pretendo imprimir tudo… mas esse dia nunca chega.

Esse é o seu primeiro blog? Sim e não… Uso a internet desde 1991. Em 1994, criei uma disciplina eletiva na PUC-Rio chamada “Comunicação e novas tecnologias”. Adorava dar esse curso que teve o apoio do RDC (prédio da informática da PUC, onde trabalhei de 1992 a 2006) para termos acesso aos laboratórios conectados à internet. Criei blogs para dar suporte a vários cursos, mas foi nos anos 2000 que ajudei a montar um blog mais complexo para a Ong Amigas do Peito. O trabalho estrutural foi feito pelo webdesigner Marcelo Torrico com quem aprendi muito. Depois disso, fiz um blog institucional e vários de apoio a projetos. Este karinakuschnir.wordpress.com foi criado em 6/11/2013 e é meu primeiro blog pessoal de verdade.

Você ganha algo com o blog? Nada, em termos financeiros. Mas posso dizer que ganho muito em termos pessoais, afetivos e profissionais. Explico. Criei o blog inspirada numa página que fiz para o caderno Prosa do jornal O Globo, a convite da editora Mànya Millen, conforme já expliquei aqui. O objetivo era simples: me obrigar a publicar um desenho e um texto uma vez por semana, com o desafio de ser algo lúdico, útil e positivo. Essa regularidade me permitiu estreitar laços com pessoas conhecidas e desconhecidas, além de trazer leitores para os meus trabalhos acadêmicos, alimentando uma rede afetiva e intelectual. Como não sou muito enturmada na vida (sou aquela que ama estar nos bastidores), o blog vem me trazendo uma sensação boa, de pertencimento. O único momento embaraçoso é quando percebo (na vida real) que as pessoas sabem detalhes da minha vida e eu não estou sabendo nada da delas!

Quanto tempo você leva para escrever e desenhar um post? Atualmente, levo cerca de 6 horas para escrever e revisar o texto de um post normal. Se for um post sobre livros ou mundo acadêmico, preciso de o dobro de tempo. Para os desenhos, depende muito. Posso levar 4 horas ou mais. Venho melhorando um pouco nessa área: já consigo começar um desenho num dia e continuar em dias diferentes. Fico feliz quando isso acontece, já que nunca tenho tantas horas livres em sequência. No mais, o que escrevi no primeiro bastidores do blog continua valendo: não tenho pauta, nem consigo produzir com antecedência, mas adoro a sensação de ter feito!

Qual é a parte mais difícil de fazer o blog? Em termos práticos, o mais difícil (e frustrante) para mim é a preparação das imagens: escanear e editar os desenhos e aquarelas. Sou autodidata. Já melhorei depois de alguns cursinhos online, mas ainda sofro. Outros desafios constantes são: inventar ilustrações para os calendários e para posts acadêmicos, encontrar assuntos novos, ter tempo para escrever e desenhar com calma, ser engraçada e manter o tom positivo diante de tanta tragédia que acontece no Brasil (nem sempre consigo). Em termos pessoais, porém, o mais difícil é encontrar um equilíbrio entre dizer a verdade e me proteger da exposição excessiva. Acho super importante falar de vulnerabilidades, mas não consigo imaginar a vida sem um pouco de privacidade.

Como você escolhe os temas dos posts? O que vem primeiro: o desenho ou o texto? A graça de fazer o blog é alternar entre esses dois pontos de partida. Às vezes, o post surge de um desenho, às vezes de uma ideia. O que mais gosto de fazer são posts sobre livros que adorei ter lido ou de aulas lúdicas que deram certo (embora ambos sejam trabalhosos). Na última semana do mês, sinto um alívio por saber que não preciso pensar num tema, já que é a época de postar o calendário. Passo 30 dias buscando ideias para ilustrar o calendário do mês seguinte. Quando leio um livro, fico na espreita, avaliando se daria um post.

Quais posts você acaba não escrevendo? Às vezes tenho ideias mirabolantes para futuros posts que, pouco depois, murcham e perdem o sentido. Tem posts que desejo muito escrever, mas não posso, seja porque ferem o objetivo do blog — falar mal da vida e de certas pessoas, por exemplo! 😉 –, seja porque são sobre assuntos que preciso guardar para publicar em forma de artigos de pesquisa. Por mais que eu já tenha me libertado, ainda preciso produzir coisas que possam ser incluídas no Lattes.

Que novidades você gostaria de trazer para o blog? Uma das coisas que está nos meus planos a curto prazo é fazer um sumário que abranja todos os posts do blog (este é o 197º). A longo prazo, adoraria publicar os posts em português e inglês, para poder ser lida pelos amigos da área do desenho de outros lugares do mundo. Isso ainda não dá, pois teria que investir um tempo enorme para melhorar meu inglês escrito e para as traduções em si.

Qual é o balanço desse último ano do blog? Minha maior conquista nesse período foi ser mais assídua nas respostas aos comentários e ter publicado quase todas as postagens semanais. Adorei ter feito dois posts pela primeira vez com a ajuda dos amigos acadêmicos de carne e osso (e não apenas de bibliografia) que foram o Doze lições para ajudar a terminar TCC, dissertação e tese… Parte 1 e Parte 2.  Além desses, meus preferidos foram o Memória visual, espaços e cotidiano – Ideia para aula lúdica (4), o Sete coisas invisíveis na vida de uma professora, o Lições de escrita com Agatha Christie – Parte 1 e Parte 2, Você vai deixar de me amar se eu não acabar a tese? – Parte 1 e Parte 2.

Os posts mais pessoais  foram o Não Passei (2) – Janeiro foi fork! e Querido Diário. O post que mais me emocionou foi Desistindo de (quase) tudo, em função da repercussão afetiva que gerou nas pessoas e em mim (ainda não consegui responder os comentários desse, desculpem). Um dos posts mais leves e úteis, que me surpreendeu pela reação positiva, foi o Caderninho bom, bonito e barato. Além de todos os já citados, dois dos meus desenhos preferidos dos últimos meses são os dos posts Escrita Diária e Materiais – Canetinhas coloridas.

Qual o conselho você daria para quem pensa em começar um blog? Comecem! Estabeleçam alguns princípios e tentem seguir em frente. Acho que a ideia de postar semanalmente é perfeita, pois não é frequente nem espaçado demais. Se você não desenha ou produz as próprias imagens: invista nisso, tire fotos, se associe a um banco de imagens de qualidade ou utilize imagens de bases públicas, sempre dando os créditos. Por mais conteúdo que exista na internet, tem espaço para todo mundo. Vivo à procura de blogs legais para ler — mandem seus links! ♥

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Sobre o desenho: Para o calendário de junho, quis começar de um jeito que não precisasse me esforçar muito, já que semana passada fiz um desenho trabalhoso. Fiz as bolinhas com a ajuda de duas réguas de desenho geométrico, como essa que desenhei (imagem acima). Desde pequena, adoro essas réguas! Depois de fazer os círculos em tamanhos variados, com canetinha de nanquim permanente 0.2, fiz os traços internos com a mesma caneta, só que 0.05. A seguir, colori com as mesmas cores que utilizei na semana passada, com os lápis-de-cor Polychromos da Faber-Castell. O mais legal foi que a Alice me ajudou! Quando ficou pronto, vimos esse monte de “rodas” e pensamos que nosso subconsciente captou o tema do momento: caminhões, carros, gasolinas, estradas e bicicletas… ♥

ps: As rodas invadiram o dia 30 porque inicialmente eu tinha desenhado no calendário de Julho! Por sorte uma leitora querida do blog me avisou do erro. Troquei a parte interna do mês no Photoshop.

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Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Junho/2018 e Bastidores do blog (2)”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3F1. Acesso em [dd/mm/aaaa].

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Não Passei (2) – Janeiro foi fork!

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. Perdi minha bolsa de produtividade do CNPq.

. Minha proposta de workshop para o evento Urban Sketchers em co-autoria com o Eduardo Salavisa não foi aceita.

. A obra que fiz no meu apartamento há apenas 3 anos está cheia de infiltrações.

. Meu ombro esquerdo não reage à fisioterapia; minha retina direita continua nublada, meus dentes dão problema desde quando eu tinha 8 anos.

Era só isso mesmo. Queria deixar registrado aqui, como uma atualização da primeira versão do Não Passei (1). A gente vê tanta comemoração nas redes sociais. E quem tá mal fica nos bastidores chorando; até a Fran Meneses fica mal, imagina a gente!

Estudar para concurso sem a menor certeza de que vai passar é fork, redigir proposta que não é aceita é fork, reprovar na prova é fork, se ferrar na escola, na entrevista de emprego… tudo holy shirt, como diz a Eleanor da série The Good Place. Já viram?

Por outro lado, tem o outro lado: estou feliz, bem feliz, para ser sincera. Meus amores estão com saúde, temos uma vida cansativa, mas também alegre, musical, artística, engraçada. Nossa onda é pegar sol, fazer mímica, cosquinha, macarrão, mate e pipoca. A gente se ajuda e se alegra tão fácil quanto tá junto.

Alice fez 12, Antônio fez 17, cada dia mais lindos. Os primos estão próximos, tem som de teclado o dia todo na casa, a temporada do TACA tá chegando, as mulheres e os amados lgbtxyw estão na rua, os estudantes norte-americanos estão reagindo; e para não dizer que sou imune à vaidade: os pareceres ad hoc do CNPq foram ótimos (o comitê é que me deu zero em tudo) e o trabalho que tenho desenvolvido na graduação foi citado e comentado num livro incrível sobre antropologia e desenho. E ainda tenho a companhia e o aconchego de vocês aqui: chegamos a mais de 450 mil visitas!

Eu tenho esperança, sempre.

Força para todos que estão precisando. Não vamos ficar nos comparando, nos julgando. A gente se ferra e acerta, tudo é aprendizado. Os cientistas do futuro serão vegetarianos, viverão em comunidades e terão amigos. Vão por mim.

Karina pb

Sobre os desenhos: Imagens que fiz para o projeto de workshop idealizado pelo meu ídolo do desenho, Eduardo Salavisa. As primeiras foram feitas por observação na PUC-Rio, direto com canetinha de nanquim permanente (Pigma Micro n.2, eu acho) e depois coloridas com aquarela em casa. Os desenhos embaixo foram feitos nos jardins do Museu da República, no Catete, no Rio.

Você acabou de ler “Não Passei (2) – Janeiro foi fork!“, escrito e ilustrado por Karina Kuschnir e publicado em karinakuschnir.wordpress.com. Se quiser receber automaticamente novos posts, vá para a página inicial do blog e insira seu e-mail na caixa lateral à direita. Se estiver no celular, a caixa de inscrição está no rodapé. Obrigada! 🙂

Como citar: Kuschnir, Karina. 2018. “Não Passei (2) – Janeiro foi fork!”, Publicado em karinakuschnir.wordpress.com, url: https://wp.me/p42zgF-3Dy. Acesso em [dd/mm/aaaa].